Bresser, Fábio Feldmann e Vladimir Palmeira abandonam vida partidária alegando decepção com o cenário
Silvia Amorim
SÃO PAULO. Decepção com o rumo dos partidos levou veteranos na política a abandonarem nos últimos meses a vida partidária. Desde março, foram três anúncios de afastamento, carregados de críticas ao comportamento das legendas no país. Em meio aos sucessivos escândalos de corrupção como o do Ministério dos Transportes, envolvendo o PR, essas deserções, embora isoladas, expõem a gravidade da crise que atinge as instituições políticas brasileiras - partidos, Congresso e governo.
A fila foi puxada pelo ex-ministro e fundador do PSDB Luiz Carlos Bresser Pereira. Em março, ele tornou pública a decisão de deixar a sigla tucana e a política partidária, após mais de duas décadas de filiação. No mês passado, o ex-deputado Fábio Feldmann divulgou o desligamento do seu último reduto partidário, o PV, após ter passado por PSDB e PMDB. Há duas semanas, foi a vez do ex-deputado Vladimir Palmeira anunciar, com um discurso de cobrança por ética, a saída dele do PT, que ajudou a fundar.
Bresser-Pereira e Feldmann garantem que se despediram da vida partidária. Já Palmeira não descarta, no futuro, uma nova filiação.
- Os partidos estão mais eleitorais que políticos, propõem pouco debate de conteúdo e não estão preocupados em investir em quadros de qualidade, mas em pessoas que possam levar a mais espaço em governos. Não vejo, para um perfil como o meu, estímulo para continuar. Me sinto um peixe fora d"água - revela Feldmann, que foi deputado federal por 12 anos e está sem mandato há 13 anos.
O ex-verde já esteve em grandes legendas, como o PMDB e o PSDB, e há seis anos militava no PV. Em 2010, foi candidato ao governo de São Paulo para ajudar Marina Silva, então candidata à Presidência da República.
- Não estou desqualificando a democracia representativa, mas, fora de partido, tenho mais liberdade para exercer pressão para que melhore - completou.
'Isso reflete a deterioração da política'
Analista faz alerta sobre o desinteresse da juventude
SÃO PAULO. Contemporâneo de Fábio Feldmann no Congresso, Vladimir Palmeira explica que o que o levou a deixar o PT foi não pactuar com incoerência política. Ele não concordou com o retorno ao partido do ex-tesoureiro Delúbio Soares, um dos pivôs do escândalo do mensalão.
- Em 2006 eu aceitei ser candidato porque o partido decidiu punir as pessoas envolvidas naquele escândalo. Acabando com a punição, o que parece é que você pactua com a corrupção. Assim, um partido perde sua coerência política e credibilidade - disse o ex-petista, que descarta, por enquanto, outra filiação:
- Não pretendo me filiar a curto prazo. Vou aproveitar esse tempo para defender mais minhas ideias. Mas continuo achando que partido é um caminho por excelência para mudar a sociedade.
Ministro por três vezes, Bresser Pereira, em viagem ao exterior, não falou com O GLOBO. Em entrevista na época, ele disse que tomara a decisão por questões ideológicas e acusou o partido, que nasceu social-democrata, de passar a ser de direita e dos ricos.
Para o cientista político da Universidade de Maringá e autor do artigo "Investigando os determinantes individuais da confiança política entre os brasileiros", Ednaldo Aparecido Ribeiro, iniciativas como essas tendem a reforçar a desconfiança da sociedade em relação aos políticos.
- Quando você vê políticos profissionais se desligando e com discursos como esses é grave porque fica a sensação de que mesmo aqueles que tinham vocação para o exercício da política estão se desencantando.
Isso tende a agravar o fenômeno de apatia do cidadão médio com as instituições - defende Ribeiro.
O coordenador do Núcleo de Pesquisa em Políticas Públicas (NUPPs) da USP, José Alvaro Moisés, chamou a atenção para o que considera um outro problema.
- Não acho que essas iniciativas vão impactar de alguma forma a população por serem bastante isoladas, mas elas refletem uma deterioração das atividades políticas, o que é muito grave - afirmou.
Outro alerta que Moisés faz é sobre o distanciamento dos jovens da política. Segundo ele, isso compromete, a médio e longo prazos, uma renovação de quadros nos partidos:
- Os jovens não querem ir para o parlamento, não querem contato com partidos, preferem militar de outras formas, como nas redes sociais.
FONTE: O GLOBO
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