Quando assumiu a Presidência da República, em 1992, após a saída de Fernando Collor devido às pressões diante de denúncias de corrupção, Itamar Franco carregou nos ombros a esperança de toda a Nação. Era uma grande responsabilidade, na esteira de um processo de impeachment penoso para o País. A retirada traumática do primeiro mandatário eleito pelo povo desde 1964 exigia a condução corajosa e sensata que garantisse a continuidade da consolidação democrática e a salvaguarda do respeito às instituições. O mineiro de topete inquieto não decepcionou, embora seu governo tenha sido chamado de “pífio”, no começo, por parte da imprensa paulista, que queria medalhões conhecidos no ministério em vez de, por exemplo, Gustavo Krause e Paulo Haddad, que comandaram por breve período as pastas da Economia e do Planejamento, respectivamente.
A igualmente curta passagem de Itamar pelo Planalto, de apenas dois anos, foi decisiva para o amadurecimento político brasileiro. Mesmo que este não seja o seu principal legado, uma vez que foi na economia que deixou a maior marca. O lançamento do Plano Real e a histórica estabilização financeira que domou o dragão da inflação abriu caminho para conquistas duradouras que até hoje surtem efeito, e só foram possíveis graças ao ambiente estabilizado. Os anos da gestão Itamar Franco foram anos intensos para a história nacional.
No campo ético, o contraponto aos desmandos da República de Alagoas – como ficou conhecido o esquema comandado por Collor e PC Farias – requeria postura sem concessões. Ao se deparar com um dos momentos mais difíceis de seu governo, quando suspeitas de corrupção pousaram sobre o chefe da Casa Civil à época, Henrique Hargreaves, amigo de longa data de Itamar, o presidente não hesitou em afastá-lo aos primeiros sinais de dúvida. Hargreaves, inocentado, foi devolvido ao cargo. Foi um presidente da República que soube aproveitar o acaso que o levou ao poder para improvisar com criatividade e contou, sem dúvida, com certa dose de sorte. A simplicidade do caráter permitiu-lhe manobras que talvez a outros políticos parecessem demasiado arriscadas. Um traço peculiar serviu de elemento fundamental nas escolhas do presidente Itamar: a teimosia em não arredar o pé da direção que devia ser tomada pelo País. Essa determinação valeu a recuperação da confiança do cidadão no mercado, corroído pela inflação, e na política, lesada pela corrupção. Ambas foram suas metas, embora a primeira tenha se mostrado, com o tempo, surpreendentemente mais fácil do que a segunda. O expurgo de Collor não afastou a classe política de maus hábitos que infestam com desanimadora frequência o noticiário de denúncias de superfaturamento, desvio de verbas públicas e compra de apoio ao estilo do execrável mensalão.
Identificado até os últimos dias com o jeito mineiro de exercer a política, o ex-presidente, ex-governador e senador Itamar Franco cumpriu seu destino com dedicação, coerência e honestidade. Merece por isso o reconhecimento de todos nós.
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