Jarbas elogia postura de Dilma diante da crise
Peemedebista subirá à tribuna do Senado amanhã e avisa que vai ressaltar forma como a presidente vem agindo diante das denúncias de corrupção. Contudo, não poupará Lula
Sheila Borges
Apesar de pertencer ao PMDB, partido do vice-presidente da República Michel Temer, o senador e ex-governador Jarbas Vasconcelos se mantem firme no papel de opositor ao governo da presidente Dilma Rousseff (PT), mas em seu primeiro discurso no retorno ao Senado, amanhã, o peemedebista vai tecer elogios à postura da petista. Jarbas afirmou ontem que faz questão de reconhecer, publicamente, a atitude de Dilma que decidiu afastar 22 pessoas ligadas ao Ministério dos Transportes e aos órgãos vinculados à pasta envolvidas nas denúncias de corrupção naquele setor, incluindo o ex-ministro Alfredo Nascimento. Jarbas, contudo, ressaltará o que, segundo ele, Dilma não pode fazer: dizer que essa “herança maldita” foi herdada de seu antecessor, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) – principal cabo eleitoral de Dilma nas eleições do ano passado. Para Jarbas, Lula foi “conivente” com as irregularidades supostamente praticadas por seus ex-auxiliares.
De acordo com o ex-governador, Dilma Rousseff está impedida, eticamente, de apontar a responsabilidade de Lula porque todo o esquema de pagamento de propinas para a realização de obras do Ministério dos Transportes ocorreu, em sua grande maioria, na época da campanha eleitoral. Fazia parte de uma estratégia política para imprimir um ritmo acelerado às obras do governo federal e, consequentemente, eleger a atual presidente. “A coisa não é simples. A presidente age com correção ao afastar, mas falta acrescentar que é um problema herdado de Lula. Muitos desmandos aconteceram (no final do governo do ex-presidente) para elegê-la. Lula se excedeu nos gastos. Foi conivente com a corrupção. Na época das eleições fiz vários discursos alertando que o Brasil, depois da campanha, iria pagar um preço muito alto pelos desmandos”, argumentou, adiantando o tom do discurso de amanhã cujo texto será finalizado hoje.
Jarbas Vasconcelos afirmou que não se surpreendeu com as denúncias apresentadas pela imprensa, no final de semana, revelando mais irregularidades em outros pastas, como esquemas de corrupção nos Ministérios das Cidades, da Agricultura e da Integração Nacional, envolvendo pagamentos de propinas e superfaturamento de obras. “São fatos que precisam ser mais apurados, mas já há uma constatação. Dilma tem indícios de corrupção e desvios de verbas em vários setores do governo”, comentou, defendendo que, nesses novos episódios, a presidente precisa manter a mesma postura firme e rigorosa.
O senador lembrou que esses esquemas de corrupção foram originados a partir da estratégia de Lula de ampliar a base de apoio de seu governo e ceder o controle dos ministérios para os partidos aparelharem a máquina pública. A maioria dos envolvidos, segundo Jarbas, está no governo desde a gestão de Lula. Por isso, o ex-presidente quando esteve no Recife, há duas semanas, teve uma postura condescendente, diferente da de Dilma. Na ocasião, o petista afirmou que os afastados deveriam voltar aos cargos se não fossem provadas as acusações levantadas contra eles.
O ex-ministro Alfredo Nascimento, por exemplo, assumiu a pasta, pela primeira vez, em 2004, no primeiro governo de Lula. Afastou-se em 2006 para se eleger senador. Em 2007, licenciou-se do mandato para voltar ao ministério. Em 2010, deixou o ministério para concorrer ao governo do Amazonas. Perdeu e foi convidado por Dilma a regressar, mais uma vez, dentro da cota dada ao PR – legenda presidida nacionalmente por Nascimento.
Ao ser indagado se aproveitaria o discurso para fazer uma avaliação dos primeiros sete meses da gestão da presidente, Jarbas negou. Disse que iria focar no ponto específico das denúncias, salientando a postura de Dilma e a responsabilidade de Lula. O termo “herança maldita” que Jarbas utilizará no discurso foi o mesmo usado por ele em 1999, no primeiro ano de seus dois mandatos consecutivos como governador, para criticar a administração do então antecessor, ex-governador Miguel Arraes (falecido em 2005), avô do atual governador Eduardo Campos (PSB). Jarbas falou, contudo, que há uma diferença entre os dois episódios. O termo “herança maldita” dito contra Arraes se referiu ao fato do peemedebista ter encontrado o Estado com muitas dívidas a pagar – acusação que, na época, foi negada por Arraes.
Em relação ao movimento dos partidos de oposição no Recife, que decidiram se unir para traçar estratégias conjuntas de ação contra a administração do prefeito João da Costa (PT), Jarbas disse que “na hora certa” participará dos atos promovidos pelos aliados. Observou, porém, que a oposição tem que apresentar “propostas concretas” e não apenas criticar a gestão do PT. “Hoje, o problema-chave da cidade é a mobilidade. O Recife está estrangulado. O trânsito está congestionado e falta estacionamento”, opinou.
FONTE: JORNAL DO COMMERCIO (PE)
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