sábado, 24 de setembro de 2011

Dólar recua 3,48% em dia de trégua

A cotação da moeda americana caiu pelo mundo e , no Brasil, o BC nem precisou intervir: o dólar fechou a R$ 1,829. No mês, a alta ainda é de R$ 14,81%.

No ano, empresas brasileiras na Bolsa perderam US$ 378 bi em valor de mercado

Dólar dá trégua e recua

Moeda tem baixa de 3,48%, a R$1,829, maior tombo desde maio de 2010

Vinicius Neder e Bruno Villas Bôas*

Um dia após o Banco Central (BC) atuar vendendo dólar no mercado futuro, a moeda americana deu uma trégua e fechou ontem em queda de 3,48%, a R$1,829, maior tombo percentual desde maio de 2010, quando recuou 4%. O dólar turismo permaneceu elevado, com as cotações variando entre R$1,93 e R$1,99. Numa das semanas mais movimentadas no mercado de câmbio desde a crise financeira de 2008, o dólar acumulou valorização de 5,54%. No mês, a alta é de 14,81% e, no ano, de 9,78%. O Ibovespa, índice de referência da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), fechou estável, perdendo 0,09%, a 53.230 pontos.

No mundo, o dólar também se desvalorizou fortemente frente ao peso mexicano e ao rand sul-africano, moedas que subiram muito nos últimos pregões. O real foi a terceira moeda que mais se valorizou ontem. O euro avançou 0,3% frente ao dólar, a US$1,3499. Mas, na semana, a perda acumulada é de 2,2%. Segundo o diário britânico de negócios "Financial Times", a moeda europeia foi beneficiada pelo comunicado dos ministros de Finanças do G-20 (que reúne as 20 principais economias do mundo), prometendo agir contra a crise global. Mas analistas também viram um embolso de lucros depois da disparada do dólar na semana.

Na abertura do pregão no Brasil, a divisa americana chegou a registrar alta de 1,48%, mas, segundo analistas, o dia um pouco menos tenso nos mercados internacionais e a atuação do BC na quinta-feira ajudaram a acalmar o mercado. Naquele dia, o dólar avançara 1,61%, a R$1,895, maior nível desde 1º de setembro de 2009, mas chegou a subir 5,25% durante os negócios. A alta foi limitada por um leilão do BC de US$2,7 bilhões em swap cambial tradicional (que equivale a venda de dólares no futuro), o que não ocorria desde junho de 2009.

Empresas na Bolsa encolhem US$378 bi

Na avaliação do estrategista-chefe da CM Capital Market, Luciano Rostagno, as declarações do presidente do BC, Alexandre Tombini, reforçaram o recado da autoridade monetária. Em Washington, Tombini disse que o BC está pronto para intervir no câmbio para garantir o funcionamento do mercado. O BC não fez leilão ontem.

- Tudo indica que o BC ficou desconfortável com o dólar perto de R$2 - diz Rostagno, lembrando que ontem foi um dia de trégua nos mercados internacionais.

Segundo Wolfgang Walter, da Global Hedging, os mercados também estariam em processo de acomodação da taxa de câmbio:

- A atuação do BC ontem (anteontem) tirou um pouco da pressão sobre o câmbio. Foi também um recado forte ao mercado.
Um dos objetivos do BC com o leilão de swap cambial foi dar liquidez ao mercado futuro. Números da Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F) sobre o pregão de quinta-feira apontam que os investidores estrangeiros continuaram a diminuir o saldo de exposição em contratos de venda (que apostam na queda da moeda) do dólar no futuro. O saldo ficou em US$3,726 bilhões, contra US$7 bilhões na véspera.

- O BC colocou um teto para o dólar, e seu arsenal é muito grande - diz Ítalo Abucater dos Santos, gerente de mesa de câmbio da corretora Icap Brasil, referindo-se às reservas internacionais.

A Bolsa sofreu forte oscilação. O Ibovespa chegou a cair 0,99% de manhã e avançar 1,08% por volta de meio-dia, até fechar em queda de 0,09%. Com o agravamento da crise, as empresas abertas brasileiras acumulam perda de US$378,1 bilhões em valor de mercado neste ano, segundo estudo da consultoria Economatica feito com dados de 301 companhias.

O valor de mercado total dessas empresas caiu de US$1,435 trilhão no fim de 2010 para US$1,057 trilhão na última quinta-feira, queda de 26,4%. A perda de US$378 bilhões equivale à soma dos valores de Petrobras, Vale, Ambev e Banco do Brasil. Em percentual, a queda no valor de mercado das empresas brasileiras foi a segunda maior da América Latina, atrás apenas da Argentina.

O estudo englobou os mercados da América Latina e dos EUA. A Petrobras registrou a maior perda absoluta (US$87 bilhões), mas, em termos percentuais, foi a oitava maior, na lista liderada pelo Bank of America.

Já os mercados europeus, que haviam aberto em baixa, fecharam em alta. Londres avançou 0,50%, Paris, 1,02%, e Frankfurt, 0,63%, em meio a rumores de uma ação do Banco Central Europeu (BCE) para prover liquidez ao sistema bancário. Wall Street também fechou em alta depois de muita oscilação. O Dow Jones subiu 0,35%, o S&P 500, 0,61%, e o Nasdaq, 1,12%. Mas o Dow teve sua pior semana desde outubro de 2008, com queda de 6,4%.

Segundo João Pedro Brugger, analista da Leme Investimentos, além da turbulência internacional, a Bovespa oscila em função de fatores internos, como o inesperado corte de 0,5 ponto percentual da taxa básica de juros (Selic) no início do mês, para 12%:

- O mercado entrou em processo de reavaliação dos preços dos ativos e de troca de carteiras de ações.

(*) Com agências internacionais

FONTE: O GLOBO

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