Miguel Conde
RIO - O jornalista Merval Pereira, colunista do GLOBO, tomou posse nesta sexta-feira na Academia Brasileira de Letras (ABL). Numa cerimônia realizada na sede da instituição, no Centro, ele assumiu a cadeira de número 31, sucedendo o escritor Moacyr Scliar, morto em fevereiro deste ano.
- Estou muito satisfeito de participar de uma instituição que tem um papel tão importante na preservação e difusão da cultura brasileira - disse Merval, que além de assinar uma coluna diária no GLOBO também é comentarista político da GloboNews e da CBN.
O discurso de boas vindas foi feito pelo acadêmico Eduardo Portella, que enfatizou o importância do trabalho do jornalista no atual contexto político brasileiro.
- Diante da ineficiência das oposições, quem segura a flama da consciência crítica no país são os jornalistas. É aí que existe um núcleo vigoroso de contestação racional do poder. É importante distinguir a consciência moral da bravata. O Merval é uma pessoa que pratica a denúncia tranquila, na qual o vigor moral se impõe por ele mesmo, dispensando os adjetivos exaltados - avaliou Portella.
O presidente da ABL, o historiador Marcos Vinicios Vilaça, lembrou por sua vez que o ingresso de Merval na instituição dá sequência a uma longa tradição de acadêmicos jornalistas:
- A ABL começou com Nabuco, com Machado, e daí em diante nunca deixou de ter jornalistas expressivos entre seus integrantes. Merval mantém essa tradição, e particularmente dentro do jornalismo político, que também foi a área de atuação de muitos de seus antecessores. A atuação dele em diversos meios de comunicação, além disso, confirma a visão que Machado defendia para academia. de conciliar a tradição e a modernidade. Merval é moderno, sem ser modernoso.
Em seu discurso de posse, Merval, seguiu a tradição de fazer um histórico de seus antecessores na cadeira que assumiu. Ao falar de Moacyr Scliar, destacou a gentileza do escritor e seu pioneirismo na história da literatura nacional:
- Moacyr Scliar, um dos escritores mais representativos da literatura brasileira contemporânea, nela introduziu a temática do imigrante judeu e urbano, mas fazia questão de esclarecer que não se considerava um escritor judeu, como Isaac Bashevis Singer, mas "um escritor brasileiro de ascendência judaica" - declarou.
Merval destacou ainda o papel do jornalismo na construção da democracia.
- É o jornalismo, seja em que plataforma se apresente, que continua sendo o espaço público para a formação de um consenso em torno do projeto democrático. E é nos jornais que ainda se abriga maior parte do jornalismo de qualidade - afirmou. - Agora faço parte de uma Casa cujo propósito é aquele que busquei a vida inteira, com meu ofício: produzir conhecimento e difundi-lo, para o bem de nosso país, de nossa cultura.
Merval é a oitava pessoa a ocupar a cadeira 31 da ABL, cujo fundador é Guimarães Junior e que tem como patrono Pedro Luís. Seus demais ocupantes foram João Ribeiro, Paulo Setúbal, Cassiano Ricardo, José Cândido de Carvalho e Geraldo França de Lima - este, sucedido por Moacyr Scliar em 2003.
Nascido no Rio de Janeiro em 1950, Merval Pereira ocupa ainda a cadeira 48 da Academia Brasileira de Filosofia. Exerceu cargos de reportagem e de chefia nos principais veículos da imprensa brasileira. Ganhou em 1979 o Prêmio Esso pela série de reportagens "A segunda guerra, sucessão de Geisel", publicada no "Jornal de Brasília" em parceria com André Gustavo Stumpf e depois transformada em livro. É autor ainda de "O lulismo no poder" e recebeu da ABL a medalha Machado de Assis.
FONTE: O GLOBO
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