ROMA - A Câmara dos Deputados italiana aprovou por margem apertada o novo voto de confiança pedido pelo primeiro-ministro Silvio Berlusconi após o fracasso de sua tentativa de aprovar o orçamento. A votação desta sexta-feira terminou com 316 parlamentares a favor do Cavalieri e 301 contra, livrando o premier de uma possível renúncia após 17 anos de carreira política.
Embora apenas a maioria simples (baseada no número de presentes) fosse necessária, o resultado representa que, dos 630 deputados, Berlusconi obteve apoio da maioria absoluta por apenas um voto de diferença. Durante toda a manhã, especulou-se que o número de votos a favor seria suficiente, mas menor, o que poderia aumentar a instabilidade política italiana.
Apelo: 'Sou a única alternativa', disse premier ao pedir voto de confiança
Considera-se que Berlusconi está mais perto do que nunca de deixar o governo. Se acontecer, no entanto, a saída - por renúncia, impeachment ou fim do mandato - será menos surpreendente do que o tempo em que ele durou no poder, numa gestão sempre cercada de polêmicas.
Aos 75 anos, o premier é como o lutador de boxe que já tomou tantos golpes que bastaria apenas que alguém lhe encostasse um dedo para que fosse ao chão. O premier, porém, se mantém no poder, respaldado pela força de vontade, interesses políticos e pela verdadeira inércia política italiana.
Para surpresa de muitos, o Cavalieri continuou no poder apesar de uma longa lista de escândalos e derrotas políticas que há anos já teriam derrubado qualquer outro líder em outras partes do mundo.
Atualmente ele enfrenta quatro julgamentos separados, envolvendo denúncias de fraude e sexo com menores. Há o risco ainda de que tenha pela frente novas acusações por conta dos casos relacionados a suas festas particulares, que fizeram a alegria dos tabloides e tornaram mundialmente conhecido o termo Bunga Bunga.
Junto aos processos judiciais estão também a longa lista de derrotas políticas nos últimos meses e os recorrentes embates - em tempos de crise econômica - com o ministro da Economia, Giulio Tremonti.
- Ele é história, ele já era. Berlusconi pode ficar mais seis meses no governo, mas já acabou. O país já teve o bastante - disse, antes da votação desta sexta, Franco Pavoncello, cientista político da Universidade John Cabot, em Roma.
As gafes e declarações vulgares do premier viraram quase uma lenda, provocando constrangimento com vários líderes europeus. Sua gestão foi repreendida até pela Igreja Católica. Berlusconi garante, no entanto, que fica no poder até 2013 - mesmo com a oposição pressionando pela antecipação das eleições para 2012.
Temor da oposição ajuda a adiar queda
Na quarta-feira, o presidente Giorgio Napolitano divulgou um comunicado incomum pressionando o governo a mostrar que é capaz de tomar medidas firmes contra a crise. Mario Draghi, que está deixando o comando do Banco Central, engrossou o coro.
Mas o governo, consumido por disputas políticas internas e externas, adiou repetidamente tomar decisões mais abrangentes para reverter uma década de crescimento lento.
Por esses e outros motivos, analistas previam uma queda antes de 2013, porém ainda não nesta sexta-feira. Ex-embaixador da Itália em Moscou, Sergio Romano disse que a oposição temia o que poderia acontecer caso Berlusconi caísse nesta votação.
Para continuar no poder, o premier vem contando com a falta de uma alternativa para a ala dominante e altamente conservadora de eleitores italianos.
FONTE: O GLOBO
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