Mas Palácio do Planalto já dá como certa saída do ministro do Trabalho na reforma
Após afirmar na véspera que só sairia "à bala" e que a presidente Dilma não o demitiria, o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, foi obrigado a se desdizer. Irritada com as declarações, Dilma mandou a chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, dar um recado a Lupi, cuja pasta é alvo de denúncias de corrupção: quem nomeia e demite é a presidente, que exigiu uma retratação. "Me empolguei, sou humano", admitiu ele mais tarde. O PDT também recuou da ameaça de sair da base aliada, se ele cair o Mas, no Planalto, a saída de Lupi, na reforma ministerial do ano que vem, é dada como certa.
Após a bravata, desculpas
Dilma exige retratação e Lupi diz que não quis desautorizá-la, mas sua saída está decidida
Maria Lima, Gerson Camarotti, Geralda Doca e Luiza Damé
Asegurança e a galhofa da véspera, quando o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, desafiou a presidente Dilma Rousseff e disse que duvidava de sua demissão, e que só sairia "abatido à bala", foram substituídas ontem pela humildade. As declarações do ministro, com apoio do seu partido, o PDT, causaram enorme mal-estar no governo. Dilma exigiu uma retratação pública de Lupi. Após levar uma reprimenda da ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, que o chamou ao Palácio do Planalto para repassar recado da presidente de que quem demite na Esplanada é ela, Lupi fez um mea culpa. E o PDT amenizou a ameaça de deixar o governo, se o ministro cair.
Mesmo com a retratação, o destino de Lupi já foi selado: segundo interlocutores de Dilma, ele sairá do governo no início do ano que vem, quando será feita a primeira reforma ministerial do governo. Nas palavras desse interlocutor, o desempenho de Lupi já era considerado sofrível antes das denúncias envolvendo a pasta: falta de fiscalização de centenas de convênios e suspeitas de cobrança de propina de funcionários. Tanto que o Planalto esvaziara as funções do Ministério Trabalho.
As bravatas de anteontem irritaram profundamente a presidente, mas a prioridade de Dilma e do governo no momento era a aprovação, ontem na Câmara, da emenda que prorroga a Desvinculação de Receitas da União (DRU).
Gleisi repassou o recado a Lupi em reunião reservada, antes de um encontro já marcado com o ministro para tratar da implantação do ponto eletrônico na Esplanada dos Ministérios. Ela deixou claro que Dilma considerou um exagero e que houve excesso em suas declarações.
- Todos os ministros deste governo sabem que quem nomeia e quem demite é a presidenta da República - disse Gleisi a Lupi, segundo interlocutores do Planalto.
Lupi afirma que se empolgou
Antes dessa conversa, Lupi já baixara o tom, dizendo que não quis desafiar a presidente, mas desafiar "a onda de denuncismo no país". À tarde, ao GLOBO, ele admitiu que errou na véspera. Justificou-se, dizendo que se empolgou e que, diante das "pancadas" que tem levado, exagerou no tom. Mas, em nenhum momento, disse que quis enfrentar a presidente.
- Me empolguei. Sou humano - disse o ministro, acrescentando que podem vasculhar sua vida.
Mesmo quando disse, ainda de manhã, que não desafiara a presidente mas o denuncismo, Lupi voltou a se precipitar, ao considerar o caso superado. Afirmou que já tinha dado as respostas e apresentado os documentos necessários, que o procurador-geral da República já havia se pronunciado e que, agora, iria trabalhar. Ao ser questionado se era a "bola da vez", mostrou segurança:
- Só se for a bola sete, que é a bola que dá a vitória.
Os líderes do PDT também baixaram o tom. Líder na Câmara, Giovanni Queiroz (PA) tentou minimizar as declarações de Lupi e as suas próprias - na véspera, dissera que o partido sairia do governo, se Lupi caísse. Ontem, disse que isso só aconteceria se a demissão de Lupi ocorresse por pressão política, sem culpa comprovada.
- O que quis dizer é que não aceitamos demissão de Lupi por pressão política. Mas, se ele tiver culpa no cartório, aí não tem nem o que discutir. Como confiamos nele e acreditamos que isso não vai acontecer, houve a solidariedade do partido a ele no caso de uma injustiça - disse Queiroz.
A direção do PDT divulgou nota negando que as declarações de Lupi fossem uma ameaça a Dilma. O texto é assinado ainda pelo presidente em exercício do partido, o deputado cearense André Figueiredo, e pelo líder no Senado, o rondoniense Acir Gurgacz. Na nota, os dirigentes do PDT dizem que Lupi "sabe que cabe à presidente da República, única e exclusivamente, nomear e exonerar, a qualquer período, seus ministros colaboradores".
As bravatas de Lupi desafiando a autoridade de Dilma alimentaram os ataques da oposição no Senado. O senador tucano Mario Couto (PA), da tribuna, afirmou:
- Agora, quero ver Dilma, com um desafio desse tamanho, se Vossa Excelência tem pulso ou não tem! Onde estão chegando os ministros corruptos deste país! Ponha na rua hoje! Demita esse safado hoje, senhora presidente! - desafiou o senador .
Já o líder do DEM, senador Demóstenes Torres (GO), ironizou:
- À medida que Dilma não reagiu, aceitou a chantagem. Por muito menos o Jobim caiu. O Lupi disse que só sai à bala, mas ele não aguenta um traque.
O líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR) também desaprovou a conduta do ministro:
- Cada um se expressa de uma forma. Sem querer criticar, acho que houve excesso de verbalização. Nenhum ministro, sob acusação, se encontra confortável.
FONTE: O GLOBO
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