Quando duas pessoas fazem a mesma coisa, a coisa não é a mesma, diz um ditado latino milenar.
E se são 27 ou mesmo 17 países – casos da União Europeia e da área do euro, respectivamente – então são 27 ou 17 coisas diferentes. E são essas discrepâncias, algumas delas assustadoras, que hoje conspiram decisivamente contra a unidade pretendida.
E não é preciso ser um de seus dirigentes políticos para conferir como é difícil avançar para um mínimo de conformidade – especialmente em tempo de crise, como agora.
Quarta-feira, agências de notícias davam conta de que, no âmbito do bloco do euro (17 países sócios), a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, e o presidente da França, Nicolas Sarkozy, já começaram exercícios, "apenas em nível intelectual", para encaminhar um racha. O núcleo duro do euro (além de Alemanha e França, Áustria, Holanda e, talvez, os países nórdicos) trataria de rumar para uma unidade mais profunda. A mudança incluiria a área fiscal (sistema tributário, regime previdenciário, políticas de assistência, orçamentos alinhados) e certo nível de unidade política (delegação de soberania a um governo central). Seriam fixadas regras rígidas a serem religiosamente observadas e, depois de consolidado o novo clube, as portas ficariam abertas para eventuais adesões – desde que as condições de admissão fossem comprovadas.
Não está claro ainda como essa nova ordem funcionaria nem o que seria feito para que os erros do euro não se repetissem. Tampouco os projetos estão em fase tão adiantada a ponto de se pretender pormenores assim. O importante aí é levar em consideração que, na situação atual, a unidade monetária (zona do euro) é insustentável, independentemente das soluções que venham a ser dadas para os rombos maiores, como os de Grécia, Portugal, Irlanda, Itália e Espanha. E que os principais líderes do euro já examinam as saídas para a encalacrada institucional hoje prevalecente.
Quando o então primeiro-ministro da Grécia, George Papandreou, anunciou que convocaria um referendo para aprovar (ou não) o pacote de exigências feitas pelas principais autoridades do euro, Sarkozy adiantou sem nenhuma cerimônia: "A Grécia não tem opção, ou aceita as condições ou tem de sair do bloco" – o que, na prática, exigiria também deixar a União Europeia. Por aí se vê que Sarkozy já admite rupturas no atual arranjo da Eurolândia. Merkel, por sua vez, há meses vem pedindo profundas revisões nos tratados que regem o euro.
Na quarta-feira, em alocução a estudantes em Estrasburgo, Sarkozy chamou a atenção para os cada vez maiores problemas de integração causados pelas Europas a duas velocidades: uma é a velocidade da área do euro, que não tem saída a não ser aprofundar sua unidade; e outra, bem mais lenta, tem os demais 10 países-membros da União Europeia que não fazem parte da Eurolândia. A nova dinâmica deixa o governo inglês cada vez mais incomodado.
É muita gente fazendo a mesma coisa. Não pode sair a mesma coisa.
CONFIRA
Apesar do agravamento da crise global e das insistentes projeções de paradeira na economia dos países ricos, sobretudo na Europa, não se espera redução no consumo de petróleo. Os preços estão em alta, mostra no gráfico. E novo fator pesa nas cotações: a aproximação do inverno no Hemisfério Norte, que eleva o consumo de combustível para aquecimento.
Mais consumo. O PIB do Brasil está em desaceleração, mas o consumo continua firme, como mostram os números do varejo: crescimento de 7,0% na acumulada deste ano (até setembro) e de 7,7% em 12 meses.
FONTE: O ESTADO DE S. PAULO
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