terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Brasil, uma ilusão de ótica real:: Vinicius Torres Freire

Economia brasileira é ou está perto de ser a sexta maior do mundo; temos só tamanho ou crescemos?

Quando criança, nos anos 1970, costumava ouvir tias mineiras e cariocas dizer de meninos grandes, mas dados a bobices infantis: "Só tem tamanho e molecagem".

A economia do Brasil é ou está perto de ser a sexta maior do mundo, passando a do Reino Unido. Estaríamos atrás de EUA, China, Japão, Alemanha e França.

Crescemos ou "só temos tamanho"? Por que nosso PIB parece tão grande? É para nos enganar melhor?

O assunto se tornou midiático porque uma consultoria britânica passou tal projeção para um jornal (o "Guardian") e, na leseira noticiosa de finais de ano, essas coisas repercutem. Até o governo soltou nota. Mas o FMI, entre outros, havia feito tal projeção em outubro.

Enfim, por que um PIB tão grande? Antes de responder a Chapeuzinho Vermelho, note-se que há várias modos de comparar PIBs, quase todos tão válidos e imprecisos quanto os outros. Além do mais, nosso PIB per capita (dividido pela população) ainda anda lá pela casa do 70º lugar. Sabemos que somos mais pobrinhos que os britânicos.

Para fazer comparações, é preciso converter o PIB de cada país numa moeda comum (em geral, dólares) -há vários modos de fazê-lo. O valor do PIB na moeda original também pode ser medido de várias maneiras. Logo, há espaço para truque.

Desde 2000, o Brasil cresceu muito mais que a média da Europa e que o Reino Unido, em termos reais (descontada a inflação).

O Brasil cresceu 53%. A eurozona (17 países), 18%. O Reino Unido, 24%. Desde 2006, a economia brasileira anda num ritmo inédito em décadas. Cresceu 28% desde então. A eurozona, naufragada na crise, 5,7%. O Reino Unido, 2,9%.

Ainda assim, essa diferença de ritmo apenas não é a chave do tamanho do PIBão brasileiro.

Em 2006, em dólares correntes, o PIB brasileiro era de US$ 1,1 trilhão. Em 2011, chegará a US$ 2,5 trilhões. Obviamente, como se acabou de dizer, a economia não dobrou de tamanho desde 2006 -em termos reais. Parte do inchaço se deve ao câmbio. Como o real vale cada vez mais em termos de dólares, o PIB fica cada vez maior -em dólares.

Mera ilusão de ótica? Também não. Nosso poder de compra aumentou de fato. O mercado brasileiro é maior. O retorno que a economia brasileira dá para investidores estrangeiros é também maior.

O real se valorizou, de resto, porque a economia brasileira é também "melhor". Cresce mais, tem contas públicas mais em ordem etc. Por ser "melhor", tornou-se ainda maior (quando medida em dólares): mais investimento (mais dólares) vem para o Brasil, o que valoriza o real.

Mas é provável que exista, sim, uma ilusão embutida nessa taxa de câmbio, nesse real tão valorizado.

O Brasil está caro demais -e inflando. Um carro vagabundinho custa US$ 20 mil, um prato em restaurante bom custa mais de US$ 30, os salários estão relativamente altos (dada a nossa produtividade). Nossa inflação é maior que a de muitos de nossos parceiros comerciais.

Consumimos demais. Parte desse excesso é bancada por exportação de recursos naturais com preços muito altos -altos até quando?

O real deve estar sobrevalorizado. Logo, nosso PIBão em dólares talvez seja um pouco ilusório. Como o valor do real. Tais excessos vão ser talhados, mais ou menos tarde.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

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