E-mail obtido pela PF indica que a Caixa Econômica Federal detectou irregularidades no PanAmericano antes de comprar 36% do banco, no fim de 2009. O banco nega e diz que foi vítima de fraude.
Caixa viu problema no PanAmericano antes da compra
Desconfortável com forma de pagamento de bônus, banco chegou a impor condições para fechar negócio
Instituição estatal nega que soubesse de irregularidades e afirma que foi vítima de fraude financeira
Flávio Ferreira, Julio Wiziack e Toni Sciarretta
SÃO PAULO - A Caixa Econômica Federal detectou irregularidades nas contas do PanAmericano, chegou a impor condições para a compra de 36% do banco, mas acabou cedendo e fechou o negócio no fim de 2009 por R$ 739 milhões.
Antes, a Caixa questionou o pagamento de bônus da diretoria do PanAmericano
-que ocorria de forma velada, por meio de empresas em nome dos executivos e não constava na prestação de contas ao mercado e à Comissão de Valores Mobiliários.
Oficialmente, o banco só declarava o pagamento de salários fixos e benefícios aos executivos, sem política de remuneração variável atrelada a resultados (bônus).
Na prática, o banco tinha uma política agressiva de bonificação que gerou desconforto para a Caixa. O esquema permitia ainda que os executivos pagassem menos Imposto de Renda (15%, em vez de 27,5%).
É o que mostra um e-mail obtido pela Polícia Federal enviado por Rafael Palladino, ex-presidente do banco, a Luiz Sandoval, ex-presidente do Grupo Silvio Santos, sobre a reunião com a Caixa para o fechamento do negócio.
"Foi uma discussão chata, mas coloquei a eles que, se fizerem, como querem, refazer o critério de remuneração agora [sic], poderíamos ter problema de perda de executivos (...)."
"No fim de uma árdua negociação, chegamos a um acordo de manter durante dois anos a mesma fórmula hoje usada pelo GSS [Grupo Silvio Santos], porém eles não estão tranquilos em pagar um passado de gratificações que eles não têm nada a ver. (...) Pactuei que o passado nós vamos zerar antes que eles entrem como nossos sócios", disse Palladino, no e-mail.
Após o rombo ser descoberto, verificou-se que a "fórmula" a que se refere Palladino foi um esquema montado pelos executivos do banco que recebiam salários e bonificações por meio de empresas abertas em seu nome. Investigações da PF comprovaram que essas empresas serviram para ocultar desvios fraudulentos de recursos do banco que foram, mais tarde, abastecer campanhas políticas -como revelou a Folha.
A Caixa nega que soubesse dos problemas no PanAmericano, até porque só indicou diretores após as fraudes se tornarem públicas.
A ex-presidente da Caixa Maria Fernanda Coelho reafirmou que o banco não sabia das irregularidades. "Fomos induzidos a erro por uma fraude sofisticada", afirmou.
FONTE: FOLHA DE S. PAULO
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