Tucano diz que lideranças como Serra e Aécio têm de esquecer diferenças se quiserem voltar ao poder e alerta sobre eleição em SP
Christiane Samarco
BRASÍLIA - Expoente do grupo serrista que saiu das urnas com mais de 11 milhões de votos, o senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) sabe que o ex-governador José Serra e o senador Aécio Neves não se bicam, mas só vê um caminho para a vitória do PSDB em 2014. "Estamos condenados a estar juntos para chegarmos ao que queremos, que é o poder", afirma, destacando que cabe à sigla criar condições para a unidade interna.
Convencido de que a direção partidária pode converter rivalidades em força motriz do projeto tucano, integrando os concorrentes a partir, por exemplo, da garantia de prévias para a escolha do candidato a presidente, o senador adverte que 2014 passa por 2012 e que a desunião pode levar à derrota na briga pela Prefeitura de São Paulo.
"Com Lula conduzindo seu pupilo (Fernando Haddad) pela mão, como aqueles domadores de elefante (risos) conduzem seu animal de estimação, não há lugar para uma terceira via."
O problema maior do PSDB continua sendo o racha interno?
O problema não é a desunião; é a falta de união dinâmica e direcionada. Não há racha interno. O que há são lideranças com projetos inevitavelmente conflitantes quando a ambição se dirige a um único cargo.
O sr. se refere a Aécio Neves e José Serra?
Não são só a Serra e Aécio. Tem os governadores. Basta lembrar que, na convenção do PSDB, o governador Marconi Perillo (GO) tinha seguidores gritando "Marconi presidente". Acho que um Geraldo Alckmin é alguém que não pode ser afastado de uma cogitação presidencial, assim como nosso líder no Senado, Álvaro Dias (PR), que é ex-governador, está colando sua imagem na oposição e é muito articulado. O que está na ordem do dia hoje não é o conflito. É a busca do entrosamento que faça com que diferenças de temperamento se transformem em força motriz do nosso projeto. Nenhuma dessas lideranças tem condições de tocar sozinhas um projeto de poder.
Serra e Aécio convivem ou apenas se toleram?
Eu não saberia te dizer. Não tenho a radiografia da alma de cada um e nem é isso que me interessa. O que me interessa é que são líderes importantes, de prestígio, que podem, um ou outro, e sem a exclusão de terceiros, conduzir uma eleição vitoriosa do PSDB em 2014. Todos sabemos que estamos condenados a estar juntos para chegarmos ao que queremos, que é o poder. E o partido tem que criar condições para que Serra e Aécio estejam juntos e presentes. O que precisamos é de uma ação política em que a coexistência de projetos divergentes se transforme em uma força motriz. Basta que o comando partidário crie um mecanismo para que os dois possam conviver e para que esses conflitos tenham uma resultante positiva.
E que mecanismo seria esse?
Vou lhe dar um exemplo: a prévia. Estabelecendo que faremos prévia para a escolha do candidato a presidente, temos, em primeiro lugar, uma garantia contra a antecipação desnecessária da escolha do candidato. Em segundo, o partido terá de fazer uma revisão de seus quadros, saber quantos somos, aonde estamos e recadastrar nossos militantes. Terceiro: aqueles que pretendem ser candidatos serão levados a desenvolver uma atividade pública junto ao partido e junto à sociedade, explicitando suas ideias. Isto transforma eventuais conflitos em uma rivalidade positiva.
A direção não está mobilizada?
Está cada um pro seu lado. Falta integração. É preciso mobilizar este povo todo.
Com Serra fora da presidência do partido, da secretaria-geral e do comando do Instituto Teotônio Vilela (ITV), os aecistas avaliam que têm hegemonia na direção partidária. O sr. concorda?
Não. Não adianta ter a hegemonia agora. Mas não me sinto bem em ser porta-voz de serristas, nem de fazer avaliação sobre aecistas. Eu não gosto de colocar a questão nesses termos.
Em entrevista ao Estado em outubro, Aécio se colocou à disposição para ser candidato contra Lula ou contra Dilma. Serra teria a mesma disposição?
Você tem que perguntar ao Serra. Eu acho que o Aécio fez muito bem de dizer algo que até o porteiro do Senado sabe, que ele gostaria de ser candidato a presidente. E acho ótimo que tenha se colocado com disposição de enfrentar a parada, qualquer que seja ela. Agora Serra, só falando com ele. Condições ele tem. Agora, não sei se tem disposição. Acho o Serra um homem extraordinário, capaz, com belíssima história política, prestígio eleitoral. Se quer ser candidato, só ele pode dizer.
Aécio começou a fazer um giro pelo País, mobilizando os tucanos. O que o sr. acha disso?
Acho ótimo que faça essas visitas, sobretudo aos locais onde o partido estiver mais fraco. Mas imagine se fosse uma caravana do PSDB, uma coisa dirigida pelo partido no estilo das caravanas da cidadania que o Lula fez, com Serra e Aécio participando. Quando falo em criar formas de convivência e transformar rivalidades em força, me refiro a formas como esta.
O sr.magina mesmo os dois juntos em caravanas?
Não estamos falando de um convescote, de um chá de comadres. Estamos falando de política e os dois são perfeitamente maduros. Não se pode fazer política como se faz crônica social. Essas questões não podem depender dos humores e subjetividades de cada um.
O PSDB tem quatro pré-candidatos à Prefeitura de São Paulo. O sr. acredita numa candidatura Serra a prefeito?
Não. Não acredito.
Pode haver uma aliança com o PSD na cabeça e PSDB na vice?
Esta eleição municipal em São Paulo vai ser muito polarizada. O Lula está movendo céus e terras para unir todos que puder contra o nosso campo político. E o nosso campo político é comum ao PSDB e ao PSD, a todos os que não querem o PT em São Paulo e sim a continuidade de uma experiência exitosa que já dura oito anos. Esse campo político é majoritário no eleitorado paulistano e mostrou isso na votação do Serra, do Alckmin, e na minha, para senador. Em uma eleição polarizada, com Lula no primeiro plano conduzindo seu pupilo pela mão, como aqueles domadores de elefante conduzem seu animal de estimação, não há lugar para uma terceira via.
O sr. está dizendo que ou o seu campo se une ou perde a eleição?
Exatamente. Na eleição municipal passada foi assim. O Alckmin tem extraordinário prestígio popular em São Paulo e, no entanto, não foi para o segundo turno em 2008 porque o eleitor simplesmente não entendeu o que ele estava fazendo ali. Eu não vejo muito sentido em o PSDB brigar no primeiro turno com o vice-governador do Alckmin. Também não vejo muito sentido em ver o Guilherme Afif (vice-governador) brigar com o PSDB. Quem vai ser o cabeça da chapa e o vice, a gente vê depois. Alguém que é candidato em uma prévia é no máximo pré-candidato. O PSDB precisa entender que a aliança não se faz só quando nos beneficia.
Tem 2014 sem 2012?
Claro. Uma coisa não está necessariamente vinculada à outra, mas eu considero que nós - e assim tem trabalhado o governador Alckmin - devíamos já, a partir de agora, ir juntando nossas forças com vistas a 2014.
2014 será mais fácil ou mais difícil que 2010? Serão 12 anos de PSDB fora do poder.
É perfeitamente possível ganhar a eleição presidencial e 2010 mostrou que isto. Não foi contra a maré que remamos. Foi contra um tsunami, com Lula no auge, a economia bombando e o pré-sal como o novo eldorado brasileiro. Com tudo isso, ganhamos no primeiro turno em São Paulo, Minas Gerais e Paraná, e Serra ainda teve 43% dos votos no segundo turno. As condições da reeleição da presidente Dilma serão muito menos favoráveis do que foram as da eleição de 2010.
O governo Dilma é mais fraco na gestão do que Lula?
É o governo Lula sem um presidente com a vocação para o picadeiro que o Lula tem. Com 40 ministérios, é inviável. Temos escândalos e promessas não cumpridas demais e carisma de menos. E tudo indica que a economia estará longe do esplendor de 2010. Mas não podemos acordar três meses antes, contratar um marqueteiro e achar que vamos ganhar a eleição.
FONTE: O ESTADO DE S. PAULO
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