quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

De saída, ministro ignora ordem do Planalto

Negromonte (Cidades) informou a PP que pede demissão hoje, após longo processo de desgaste dentro do governo

Ao direcionar verbas da pasta, ministro descumpriu ordem do Planalto e beneficiou ala partidária que o apóia

Leandro Colon, Catia Seabra, Maria Clara Cabral

BRASÍLIA - O ministro das Cidades, Mário Negromonte (PP) -que anunciou a aliados a intenção de pedir demissão do cargo hoje-, descumpriu ordem do Palácio do Planalto e privilegiou aliados na alocação de verbas da pasta.

Contrariando planilha do governo, o ministro reservou em 2011 valores a mais para obras incluídas no Orçamento da União por deputados da ala do PP que o apoia.

Negromonte comunicou ontem ao seu grupo político no PP que pedirá demissão do cargo hoje, saída antecipada pela Folha no sábado.

A decisão será infomada à presidente Dilma Rousseff.

"Ele disse que tomou a decisão por questão de foro íntimo", afirmou ontem o deputado federal Vilson Covatti (PP-RS).

EMENDAS

A Folha teve acesso a uma tabela de valores enviada pela Secretaria de Relações Institucionais, vinculada à Presidência da República, ao Ministério das Cidades orientando a verba que deveria ser empenhada para as emendas dos deputados do PP.

O empenho significa a reserva de dinheiro público para obras definidas por deputados e senadores, via emendas ao Orçamento da União.

Com o partido dividido, Negromonte não seguiu à risca a lista e beneficiou seu grupo político, cerca de 10 deputados, com pelo menos R$ 13 milhões a mais.

Essa ala do PP teve R$ 40 milhões empenhados, segundo dados do sistema de convênios do governo.

O próprio ministro levou R$ 500 mil além do que deveria empenhar para suas emendas, apresentadas em 2010, quando ainda era deputado federal.

Enquanto isso, seus adversários no PP conseguiram, no máximo, os recursos mencionados na tabela do Palácio.

A ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais) identificou a manobra e avisou à ministra Gleisi Hoffmann (Casa Civil).

O privilégio ao grupo do ministro teria acelerado a decisão da demissão do chefe da assessoria parlamentar do ministério, João Ubaldo Dantas, na terça-feira, uma semana depois de a Folha começar a ouvir a pasta e o Palácio do Planalto sobre o caso.

Aliado de Negromonte, Dantas fazia a interlocução com o Congresso.

O deputado João Pizzolatti (SC), por exemplo, assumiu o mandato somente em julho. A planilha do governo previa empenho de R$ 750 mil. Mas, segundo o sistema de acompanhamento de convênios, o ministério liberou R$ 4,9 milhões em dezembro.

O deputado Nelson Meurer (PR), homem de confiança do ministro, deveria ter R$ 1,1 milhão, pela planilha do Planalto, mas ministério concedeu R$ 2,1 milhões.

Já adversários do ministro, entre eles Beto Mansur (SP) e José Linhares (CE), por exemplo, não foram agraciados com mais recursos.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

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