Vandson Lima, Raphael Di Cunto e Cristiane Agostine
"Acho que o Serra prestaria um grande serviço se pusesse fim nessa pendenga, vindo para as prévias e disputando. Ou deixe claro que não é candidato, não fique botando seu pessoal para plantar notinha na imprensa (...) não é postura de gente que tem clareza, honradez e compromisso com o partido". A fala de Rosalvo Salgueiro, coordenador de segmentos sociais do diretório municipal do PSDB de São Paulo, foi a mais aplaudida pelo pequeno grupo de tucanos que compareceu ao "ato contra o golpe das prévias", há uma semana.
Sem a presença de parlamentares ou dirigentes da sigla, os cerca de 90 militantes ali presentes protestavam contra uma possível virada de mesa na escolha do candidato do partido à prefeitura da capital, com o ex-governador do Estado José Serra alçado ao posto em detrimento dos quatro pré-candidatos - os secretários estaduais Bruno Covas (Meio Ambiente), José Aníbal (Energia), Andrea Matarazzo (Cultura) e o deputado federal Ricardo Tripoli - que há sete meses buscam a candidatura.
Pelas falas dos presentes, entre os quais representantes da juventude, de movimentos sociais e sindicais ligados ao PSDB, ficava claro que uma reviravolta em favor de Serra não seria bem recebida pela base tucana, esperançosa que está de, pela primeira vez, participar ativamente da escolha de seu representante nas urnas. Os mais exaltados falaram até que o fim das prévias sentenciaria a morte do PSDB. Catarina Rossi, representante do PSDB Mulher, chegou a dizer na reunião que Serra "está sendo palhaço" e desrespeita a militância e os quatro postulantes.
Nascido de uma dissidência do PMDB, em 1988, o PSDB veio ao mundo como um partido de quadros, apinhado de nomes dados como gestores eficientes, mas sem uma base social sólida. Para Rosalvo Salgueiro, "todos sabem que o PSDB nasceu de cima para baixo, mas o anúncio das prévias teve esse efeito, as pessoas do partido se sentiram valorizadas".
Ex-petista, Salgueiro credita a Alckmin o esforço mais recente em buscar articulação com os movimentos organizados - caso do sindicalismo - e diz que o PSDB terá problemas se o candidato escolhido na prévia paulistana não chegar efetivamente às urnas. "Seria uma tragédia. O sujeito lá na ponta não vai defender com garra um candidato que furou o processo. E tem mais, mesmo se o Serra entrar agora e concorrer com os pré-candidatos, não sei se ganha. Muita gente da base não votaria nele", atesta.
Um dos poucos sindicalistas que ajudaram a fundar o PSDB, o vice-presidente da Força Sindical, Melquíades de Araújo, diz que tal desfecho deixaria o partido "desmoralizado". "A prévia é uma novidade no PSDB e foi muito bem aceita no partido, animou os filiados. É lamentável que se deixe o processo chegar até esta altura e agora querer acabar com tudo", critica o sindicalista, que considera um erro a insistir na candidatura do ex-governador. "Temos que aprender a dar oportunidade para as novas lideranças, mesmo que isso traga um prejuízo eleitoral momentâneo, ou o partido vai morrer junto com seus atuais líderes", avalia.
Outro militante histórico do PSDB, o cientista político Eduardo Graeff, secretário-geral da Presidência da República entre 1995 e 2002, também é contrário ao fim da eleição interna. "O PSDB se abriu a esse processo de prévias para mostrar que não é só partido de quadros. Colocar em dúvida a validade do procedimento a duas semanas da eleição interna é dizer à sua militância que ela não é importante. Não pode mais retroceder", avalia Graeff, filiado desde 1989.
Defensor das prévias a ponto de considerá-las "o único fato relevante na democracia interna do partido nos últimos anos", o deputado federal Walter Feldman tem, no entanto, dúvidas sobre a força dessa militância. "Boa parte dos filiados do PSDB não se envolve efetivamente com o partido. Serra teria problema com essa militância mais ativa, mas nem sabemos a reação dos outros se abortassem as prévias porque nunca as fizemos", observa o parlamentar e apoiador da pré-candidatura de Tripoli.
A desconfiança do deputado tem razão de ser. Muitas vezes fraturados ou desprestigiados dentro da sigla, a força desses grupos é visivelmente restrita no PSDB. "Já reclamei ao presidente municipal Júlio Semeghini que os diretórios zonais sequer são chamados para as reuniões da Executiva do partido", afirma Felipe Gomes, presidente do diretório zonal de Pinheiros, zona oeste da capital.
A juventude municipal está sem comando desde que seu último presidente, Alex Dario, deixou a sigla para ajudar a organizar a pré-campanha de Gabriel Chalita à prefeitura pelo PMDB. "Não havia menosprezo, mas tínhamos pouca voz. No PSDB tudo tinha que ser decidido por cima, no PMDB tenho uma participação mais ativa, mais voz nas decisões", afirma Dario, que deixou o tucanato após nove anos. Um encontro dos jovens com os pré-candidatos, marcado para o dia 14, foi desautorizado pela Executiva partidária.
A militância tucana está cada vez menor. Segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral, o número de filiados ao PSDB na capital paulista atualmente é o menor desde 2002. À época, 40,2 mil eleitores compunham as fileiras do PSDB paulistano. Hoje são pouco mais de 29 mil filiados na cidade. A situação é oposta a dos quadros estadual e nacional da sigla, nos quais o número de filiados cresceu no período.
No início deste mês, o diretório municipal tucano foi obrigado a revisar, pela segunda vez desde o anúncio das prévias, o número de militantes ativos do partido. Começaram a contagem com 40 mil nomes. Anunciaram posteriormente que só 22 mil estavam aptos a votar. E não encontraram mais que 8,5 mil destas pessoas até o momento. Os próprios pré-candidatos, ávidos por contactar potenciais eleitores para a prévia, comunicaram ao diretório municipal a inconsistência das listas, que continham desde pessoas que não moravam mais na cidade até mortos e partidários de outras siglas.
A cúpula do PSDB paulista, no entanto, classifica o provável esvaziamento da prévia partidária como um "mal menor". Para dirigentes tucanos, é melhor ter um candidato competitivo como Serra, ainda que o processo de definição de sua candidatura desagrade à base partidária, do que perder a eleição com um nome fraco. "O militante não quer alguém que vença uma prévia, mas sim que vença uma eleição", comenta um tucano próximo ao governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB).
A candidatura de Serra é tida como certa pelo partido, apesar de o ex-governador ainda não ter se pronunciado oficialmente sobre isso nem mesmo com o governador Alckmin. Dirigentes nacionais do DEM e do PSD disseram a Serra que estão dispostos a não indicar o vice na chapa, contanto que o tucano seja o candidato. Seria uma forma de incentivar o lançamento do ex-governador à disputa e de evitar conflitos dentro da chapa, já que a relação entre os comandos do PSD e do DEM não é boa. Ex-integrante do DEM, o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (PSD), esvaziou o partido ao criar o PSD.
Em troca, os dois partidos seriam compensados em 2014, na disputa pelo governo paulista: o DEM ficaria com a vice do PSDB e Kassab disputaria o Senado. Há divergências, no entanto, no DEM. Dirigentes paulistas defendem a indicação para a vice de Serra.
FONTE: VALOR ECONÔMICO
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