terça-feira, 10 de abril de 2012

"Hermanos" americanos do norte:: Vinicius Torres Freire

Em vez das chorumelas, Brasil deveria ter projeto para tirar vantagens de relação maior com os EUA

A visita de Dilma Rousseff a Barack Obama deu ensejo a uma enxurrada de análises sobre o estado das relações entre Brasil e EUA. As opiniões mais comuns da terapia desse casal davam conta de que:

1) As relações vivem um marasmo medíocre, pontuado por atritos e contenciosos não lá muito graves, mas não muito mais do que isso;

2) Brasil e EUA têm relações econômicas extensas, relativa simpatia político-cultural e, pois, relações boas e prontas para melhorar.

3) Isto posto, tanto para quem acha que o copo está cheio como vazio, as visitas recíprocas de presidentes não vão dar em grande coisa, como só acontece nessas ocasiões de fotos e salamaleques mesclados a alfinetadas.

De fato, essas visitas tendem a não render nada mesmo quando não há projeto diplomático maior. Mas as ditas relações bilaterais vão muito bem, se considerada a quantidade de guerras, rolos, conflitos e problemas com os quais os Estados Unidos têm de lidar pelo mundo afora. Os americanos têm problemas no norte da África, no Egito em especial, com Israel e cia., com Irã, Iraque, Paquistão, Afeganistão, China e Coreias, para ficar apenas nos mais difíceis e nem mencionar atritos ora adormecidos com a Rússia.

Os aliados dos americanos no comando da velha ordem mundial, os europeus, estão economicamente encrencados e agastados, de leve, com Obama desde que seu governo quis lhes dar conselhos de administração fiscal e monetária.

Logo, o Brasil é um paraíso tropical. Ainda mais relevante, os brasileiros adoram os Estados Unidos, com a exceção mais extremada de apenas umas dúzias de esquerdistas juvenis arcaicos (muitos deles no governo Dilma, aliás) e uma meia dúzia de críticos sérios do Império.

O comércio entre Brasil e EUA é de peso, os investimentos recíprocos são grandes, consumimos muita cultura americana, do lixo à alta ciência, deixamos muito dinheiro em lojas e hotéis de lá (e, agora, até em imobiliárias e universidades).

Mas os governos do Brasil gostam de criar encrencas contraproducentes com os EUA (e vice-versa).

Dizem, por exemplo, que a política americana de imprimir dinheiro para evitar uma depressão no pós-crise de 2008 é "protecionista" (não é. O efeito colateral disso nos prejudica, certo, mas essa é outra história). Mas não cria caso com a China, que manipula mesmo sua moeda -aliás, atrelada ao dólar desvalorizado de que nos queixamos.

Mas com quem o Brasil mais tem condições de negociar acordos maiores de intercâmbio? Não é com a China, ou com a esclerosada Europa. Nem com nossos "hermanos" ou com a ainda pequena África.

É com os Estados Unidos.

Sim, além do vício do unilateralismo (e a beligerância costumeira), a diplomacia americana é ruim, a dedicada ao Brasil em particular. O governo dos EUA é descentralizado, é difícil negociar com eles (têm agências e Congresso independentes). Além do mais, os EUA não vão criar um atrito com os europeus, por exemplo, por causa do Brasil.

Enfim, pode ser que ofereçamos um plano ambicioso de trocas cruzadas de acordos políticos e econômicos, entre outros, e os EUA nem se importem. Mas temos um plano para conseguir mais vantagens comerciais, tecnologia e parcerias políticas dos americanos? Não.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

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