Raquel Ulhôa, Fernando Exman e Lucas Marchesini
BRASÍLIA - Abandonado e criticado por antigos aliados políticos em meio a uma crise institucional, o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT), trocou ontem o comando da Polícia Militar. A medida, que se segue a uma série de mudanças na cúpula de sua administração, ocorreu depois que uma operação tartaruga dos policiais provocou uma expressiva alta dos índices de violência na capital federal durante o feriado da Semana Santa. Foi a segunda troca na chefia da PM desde o início do ano.
Nesse período, foram registrados 11 homicídios, um latrocínio, 13 sequestros relâmpago e 17 tentativas de homicídio. Uma das mortes ganhou maiores contornos políticos: um servidor do Banco Central foi atingido no peito por uma bala, após um assalto a uma lanchonete localizada no Plano Piloto. O presidente do BC, Alexandre Tombini, chegou a enviar uma carta à família do servidor para lamentar o episódio.
Na avaliação da cúpula do governo Agnelo, tais indicadores resultaram da falta de controle do comando da Polícia Militar sobre a tropa, que durante o feriado praticamente sumiu das ruas de Brasília. A operação tartaruga foi anunciada pelos policiais às vésperas do Carnaval, na esteira da greve da polícia baiana. Mas só nos últimos dias pôde ser sentida nos lugares mais nobres da capital. Em substituição a Sebastião Gouveia no comando da PM, será nomeado para o cargo Suamy Santana, considerado um "linha dura".
Agnelo vê no movimento uma ação patrocinada por setores da oposição. No entanto, dados da Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal demonstram que a violência já vinha aumentando. Foram registrados 722 homicídios, 49 latrocínios e 675 sequestros relâmpago em 2011. No ano anterior, ocorreram 638 assassinatos, 42 latrocínios e 504 sequestros relâmpago.
A situação política de Agnelo também se deteriora devido a rumores de que a investigação da Polícia Federal sobre a exploração ilegal de jogos de azar pelo empresário Carlinhos Cachoeira pode atingir a equipe direta do governador do Distrito Federal, o que é negado por integrantes da cúpula do governo local. Ontem, os senadores Rodrigo Rollemberg (PSB) e Cristovam Buarque (PDT), que foram aliados do petista na campanha eleitoral de 2010, fizeram críticas contundentes à administração do petista. Apontaram o aumento da violência, o descumprimento de acordos com professores da rede pública, que estão em greve, incompetência e escândalos. O tom foi de rompimento.
Da tribuna do Senado, Rollemberg disse que a população do Distrito Federal vive uma "sensação de completo abandono" e que a situação na capital, em qualquer área, "beira a tragédia". Citando os números que comprovam o aumento da violência no DF, comparou o cenário ao de uma "guerra civil". E acusou o governador de nada fazer para enfrentar situação e de viajar em plena crise, em vez de reunir assessores e a bancada federal em busca de soluções.
"O que é mais trágico, mais preocupante, assustador, é que tudo indica que, em 2012, vamos superar os números vergonhosos de 2011, porque, apenas no mês de março, nós tivemos, no Distrito Federal, 88 homicídios. É um cenário de guerra, um cenário de guerra civil", discursou Rollemberg, citando, ainda, a existência de cracolândias espalhadas por todo o Distrito Federal.
Em aparte, Cristovam foi além da crítica à má gestão. "Este é um governo de propaganda e de escândalos", disse. Para o senador, o governo de Agnelo está "emperrado e destruindo Brasília". Segundo ele, é preciso um "plano de salvação" para a capital.
"Estamos com desgoverno no Distrito Federal, da mesma maneira como estivemos em 2010, e o atual governo não se diferencia dos anteriores", continuou. Ele se referiu ao ano em que o DF viveu uma crise política grave, em decorrência do envolvimento do ex-governador José Roberto Arruda em escândalos de corrupção, que o levaram a perder o cargo e à prisão.
Segundo Cristovam, ele e Rollemberg estavam ali fazendo autocrítica. "Nós oferecíamos ao povo um novo caminho. Que novo caminho é esse? De escândalo, propaganda e uma obra [de um estádio de futebol, em construção para a Copa do Mundo]. É um caminho velho, de certa maneira menos competente do que a gente via no passado."
Cristovam afirmou que há "descontentamento geral dos servidores", que levou à situação atual, de greve de professores e "operação tartaruga" por parte da polícia. Segundo o senador, Agnelo conhecia as reivindicações dessa categorias e assinou documento comprometendo-se a atendê-las. "Ele precisa escolher: não cumpre compromissos ou é incompetente, porque não sabia o que assinava."
Nas últimas semanas, Agnelo levou para o primeiro escalão de sua equipe dois nomes ligados ao governo federal. Swedenberger Barbosa, que é ligado ao ex-ministro José Dirceu, deixou a Secretaria-Geral da Presidência da República para assumir a Casa Civil do governo do Distrito Federal. Já Luiz Paulo Barreto, ex-secretário-executivo do Ministério da Justiça, foi nomeado secretário do Planejamento e Orçamento do GDF.
Integrantes da cúpula do governo distrital negam que as mudanças representem uma intervenção do Palácio do Planalto no governo de Agnelo, mas notam uma preocupação do PT com o que pode ocorrer daqui para a frente. Argumentam que as mudanças mostram o esforço de Agnelo para dar um maior peso e capacidade de gestão ao primeiro escalão de sua administração. Segundo eles, Agnelo decidiu mudar o perfil de seu secretariado para garantir que o governo deslanche, depois de ter usado seu primeiro ano de mandato para "arrumar a casa". Auxiliares do petista afirmam que Agnelo teve de limpar o CNPJ de todos os órgãos e empresas do governo.
FONTE: VALOR ECONÔMICO
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