Maior líder oposicionista no Estado, senador dá sinais de que não quer se envolver na disputa municipal, ao mesmo tempo em que responde aos acenos de Eduardo
Débora Duque
Principal liderança das oposições no Estado, o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB) tem se mantido a uma distância regulamentar dos debates sobre a eleição no Recife. Embora, nos bastidores, as conversas com pré-candidatos não sejam raras, publicamente, a postura do peemedebista tem sido a de silêncio total quando o assunto são os rumos dos oposicionistas na disputa. Apesar de o grupo, hoje, ocupar a planície nos três níveis – federal, estadual e municipal –, considera-se que o senador dispõe de legitimidade para conduzir o processo de escolha, se assim desejasse. Por que, então, estaria Jarbas assistindo a tudo de longe?
No final de 2011, o senador chegou a ser procurado pelos prefeituráveis Mendonça Filho (DEM), Raul Henry (PMDB) e Raul Jungmann (PPS) para que coordenasse as discussões a respeito da sucessão. Da lista tríplice, ele deveria escolher aquele que seria o segundo candidato da oposição, já que o ingresso do deputado Daniel Coelho (PSDB) na disputa é tido como irreversível. Jarbas, porém, rejeitou a proposta. Alegou não ter precedência para liderar a negociação e preferiu ficar de fora para evitar problemas, já que preserva boa relação com todos.
Fora isso, há quem enxergue no senador uma certa indisposição para mergulhar “de cabeça” em mais um pleito, tendo em vista o desgaste sofrido com a derrota para o governador Eduardo Campos (PSB), em 2010. Desde então, sua cota de esforço para “ressuscitar” a oposição local, dizem aliados, teria se esgotado. A participação de Jarbas na campanha municipal com “unhas e dentes” só é esperada caso o afilhado político, Raul Henry (PMDB), resolva mesmo concorrer à prefeitura.
Mas, para além das questões pessoais, o distanciamento de Jarbas pode ter um componente político estratégico. Relacionado não com sua aposentadoria da vida pública pós-2014, como profetizam alguns, mas com sua reinserção no cenário político através de, quem sabe, uma “volta às origens”. Isto é, longe do DEM – com o qual articulou a extinta União por Pernambuco – e mais próximo do PSB, comandado pelo ex-aliado e ainda rival, Eduardo.
De acordo com o cientista político Túlio Velho Barreto, os últimos gestos de cordialidade protagonizados entre os dois apontam a possibilidade desse cenário. “Parece que os compromissos que Jarbas tinha com as forças que compuseram com ele já foram cumpridos e, talvez, ele esteja dando a si mesmo a chance de buscar um novo caminho, afastando-se de certa forma dos grupos mais conservadores ao qual ele aliou-se”, avalia.
Se concretizada, a aliança evitaria um novo enfrentamento entre Jarbas e Eduardo, que poderia acontecer, em 2014, caso o socialista decida concorrer a uma vaga no Senado e o peemedebista à reeleição.
Entre o recolhimento e a guinada, aliados preferem resumir o desprendimento do peemedebista das questões locais ao seu foco no plano nacional. “Senador não tem que discutir querelas paroquiais”, considera José Arlindo Soares, ex-secretário de Planejamento no governo Jarbas. Mesmo evitando fazer previsões a respeito dos desdobramentos da aproximação do aliado com Eduardo, ele lembra: “política muda como nuvem”.
Giro na órbita de Eduardo
As consequências políticas das gentilezas trocadas entre o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB) e o adversário Eduardo Campos (PSB) ainda permanecem no campo das projeções. Mesmo assim, vale lembrar que a possível reconciliação criaria uma situação não menos curiosa que o próprio fato em si. Cada vez mais afastados, Jarbas e o deputado federal Sérgio Guerra (PSDB) se veriam orbitando em torno do mesmo polo que “provocou” o rompimento entre os dois, em 2010: o governador Eduardo Campos.
Na época, o peemedebista acusou o tucano de não ter se engajado em sua campanha e ter sido conivente com a migração de prefeitos do PSDB para o palanque socialista. Com a briga, eles não só cortaram relações como chegaram a trocar provocações via imprensa.
A mais recente partiu do tucano e foi motivada justamente pelos gestos de aproximação de Jarbas com Eduardo. Na terça-feira (27), Guerra disse que o PSDB nunca escondeu sua relação com o governador e que Jarbas teria que explicar a “mudança” de postura. “Não adianta ser brabo ontem e, hoje, ser bonzinho”, soltou.
Na avaliação de Túlio Velho Barreto, mais do que uma provocação, a reação do tucano pode refletir um “incômodo” com a possível perda de espaço junto ao governador, caso vingue a reconciliação entre Jarbas e Eduardo. O curioso é que o trio ocupou a mesma trincheira até 1992. Terminou, em momentos diferentes, se desfazendo com Guerra e Jarbas se distanciando do campo socialista. Hoje, cogita-se a possibilidade de ambos retornarem ao ponto anterior, só que, curiosamente, cada vez mais afastados.
FONTE: JORNAL DO COMMERCIO (PE)
Nenhum comentário:
Postar um comentário