sexta-feira, 1 de junho de 2012

Indústria encolhe e ganha novo pacote

A produção na indústria voltou a registrar queda pelo oitavo mês consecutivo. O recuo foi de 0,2% em relação a março. Praticamente todos os segmentos encolheram. Para dar novo alento ao setor, o governo anunciou medidas para restringir a entrada de produtos importados, como motos, ar-condicionado e micro-ondas.

Nem incentivo salva a indústria

Produção industrial caiu 0,2% em abril e já acumula queda de 2,8% no ano

Henrique Gomes Batista

A indústria brasileira voltou a produzir menos em abril. O resultado foi divulgado pelo IBGE no mesmo dia que o governo anunciou mais medidas para conter a entrada de eletrodomésticos e motos importadas e proteger a indústria. Segundo o IBGE, a queda foi de 0,2% na comparação com março. Frente a abril de 2011, a redução foi ainda maior: 2,9%, no oitavo recuo seguido nesse indicador. Com isso, o setor - que deve ser o principal responsável pelo resultado fraco do Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre que o IBGE divulga hoje - mostra que, até o momento, os incentivos do governo ao consumo não chegaram a movimentar as engrenagens da indústria. Especialistas acreditam que uma reação mais efetiva do setor só deverá acontecer no segundo semestre, o que pode reduzir ainda mais as expectativas de crescimento para o ano. De janeiro a abril, a produção já ficou 2,8% menor.

- Os dados da indústria, junto com o PIB do primeiro trimestre que deve ser fraco, dão mais argumento para que o governo adote mais medidas de incentivo e até de protecionismo - disse André Guilherme Perfeito, da Gradual Investimento.

Segundo Fernando Abritta, economista da coordenação da Indústria do IBGE, os incentivos ainda não foram sentidos, em parte, porque setores estão com elevado estoque. A redução dos juros e a elevação do crédito podem estar até elevando as vendas, mas só no fim do primeiro semestre devemos ver essas medidas se refletir na produção industrial - afirmou Fernando Abritta, .

O investimento, traduzido pela produção de bens de capital (máquinas e equipamentos) mostrou um avanço em abril, de 1,9%, mas ainda assim acumula queda de 9,8% no ano. Os bens intermediários (insumos para indústria) ficaram estagnados. E os bens não duráveis (alimentos, vestuário e remédios) lideraram a queda na produção do mês, retraindo 1,4%, seguidos dos bens duráveis (eletrodomésticos e carros, exatamente os que receberam mais estímulos do governo) tiveram a produção reduzida em 0,5%.

- O que nos preocupa é que os bens intermediários, que é a produção que segue para indústrias, continuam fracos. E também a queda de 9,8% nos bens de capital no ano, o que mostra que o investimento está muito baixo - disse Rogério César de Souza, economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi).

"Apesar dos estímulos ao crescimento já impactarem positivamente a demanda, a reação da atividade industrial está mais lenta do que o antecipado. Outra fonte de moderação do crescimento é o nível de estoques ainda elevado em alguns setores. Portanto, aumentou a chance de um crescimento menor no segundo trimestre deste ano, o que deve afetar negativamente as perspectivas de crescimento da economia em 2012, mesmo com a aceleração na segunda metade do ano", afirmou, em nota, Aurélio Bicalho, economista do Itaú Unibanco.

O setor externo não prejudica apenas com as incertezas. A LCA Consultores lembra que a economia argentina vive um forte esfriamento, afetando as exportações de manufaturados brasileiros.

Indústria do Rio fatura menos

Os indicadores industriais da Firjan de abril, que serão divulgados hoje, apontam uma queda de 1,7% nas vendas. O resultado reverte a alta de 3,9% de março. O total de horas trabalhadas - indicativo mais próximo da produção - caiu 0,5% no mês. Para Guilherne Mercês, economistada federação, nem a recente alta do dólar resolve o problema da indústria.

- Isso pode trazer um alívio temporário, com uma redução na pressão dos setores que concorrem com importados e uma melhoria das margens dos exportadores, mas os problemas da indústria são estruturais.

FONTE: O GLOBO

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