sexta-feira, 1 de junho de 2012

Meio ano de Pibinho:: Vinícius Torres Freire

Resultado da indústria em abril e primeiros dados de maio indicam que primeiro semestre será de paradeira

No triste resultado da indústria em abril, divulgado ontem pelo IBGE, destaca o avanço da produção da "linha branca" (geladeira, fogão etc.), produtos que foram barateados por redução de imposto.

Dados preliminares da revenda de carros indicam que o consumo em maio cresceu 5% sobre abril, empurrado também por redução de imposto e por liquidações.

A indústria de máquinas ao menos se recupera do tombo horrível de janeiro, mas ainda precisa zerar o prejuízo. Menos mal, pois o setor vinha sendo dizimado.

No mais, o resultado de abril foi muito fraco. Estão vindo fracos os indicadores indiretos da produção industrial em maio, como sondagens com a indústria. O PIB do segundo trimestre tende a ser quase tão ruim como o do primeiro.

Sim, as reduções de impostos escoram alguns setores, entre os tantos prejudicados pela crise ou pelo câmbio. Alguns são prejudicados pelas próprias ineficiências; outros talvez sejam em parte inviáveis no Brasil, como parte da indústria têxtil, de roupas e calçados, pois salários e outros custos altos tornam impossível a competição com a Ásia.

Mas as reduções de impostos, pontuais, provisórias e limitadas pela despesa do governo, apenas estão servindo para limpar estoques das indústrias e evitar demissões, o que criaria uma espiral descendente de renda e ânimo na economia.

Mesmo indústrias que estão vendendo muito bem, como alimentos e bebidas, tiveram desempenho ruim em abril. Talvez mesmo essas empresas tenham segurado a produção, temendo empilhar estoques, dada a lentidão geral da economia e a perspectiva de dias piores.

O conjunto da produção da indústria recuou 2,8% no primeiro terço do ano se comparado com o primeiro terço de 2011. Porém, em setores que empregam massas de trabalhadores, o resultado foi de assustar.

Queda de quase 18% na produção de veículos. De 14% na produção de material eletrônico e de comunicações. De 9% na indústria de máquinas elétricas. De 13,5% no vestuário. De 7,6% na têxtil.

Embora a (possível) recuperação, ou despiora, das montadoras possa sustentar os setores conexos, não vai haver dinheiro para reduções de impostos para a indústria inteira.

Pode ser que o governo estenda para ainda mais ramos industriais as proteções que vem baixando contra produtos importados (têxteis, brinquedos, carros etc., e ontem motos, micro-ondas, ar-condicionado e ventiladores).

Proteção demais, indiscriminada, pode acabar por engessar os preços ou mesmo encarecer produtos (por falta de competição). Considerando ainda que o real se desvalorizou, o Brasil vai acabar se tornando uma economia inflacionada num mundo que embica para a deflação. Mas talvez o governo não esteja ligando muito para isso.

Decerto não fazer nada diante do risco forte de contágio da crise europeia pode dar em besteira. O pânico de lá pode nos contaminar e detonar pânicos domésticos.

Fazer um dique pode ser razoável. Mas é bobagem construir uma casa na areia onde bate a maré (gastar demais com estímulos pontuais, de curto prazo). Passou da hora de o governo reagir aumentando suas despesas de investimento, um estímulo no curto prazo que, porém, deixa resultados duradouros.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

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