Em um ano e meio de governo, Dilma Rousseff galvanizou aprovação recorde com uma imagem em grande medida oposta à de Luiz Inácio Lula da Silva.
Saíram os discursos autoelogiosos, recheados de metáforas, e entraram falas exaltando o papel do Estado e com forte peso econômico.
A leniência com acusações contra aliados deu lugar à propalada "faxina" -ainda que a limpeza tenha sido superficial, na base do espanador.
Por fim, Dilma trocou a ênfase na costura política por um estilo gerencial, que incomodou aliados, mas agradou fora dos salões de Brasília.
Eis que, depois de anunciar que não entraria em bolas divididas nas eleições municipais, a presidente passou a atuar fortemente na montagem de palanques em algumas capitais -de olho, antes de tudo, no cenário da própria reeleição, em 2014.
Ao emular o "estilo Lula" de fazer política, cedendo cargos a partidos aliados, chamando dirigentes para conversas ao pé do ouvido e forçando alianças, Dilma põe em xeque a imagem que começou a consolidar, justamente quando a economia patina e o governo enfrenta desafios como a greve dos servidores federais.
A Dilma de antes peitaria os grevistas e evitaria conceder aumentos que vão impactar as contas públicas e ser um entrave à capacidade de investimentos federais. A Dilma política deve ceder, o que vai causar efeito cascata no funcionalismo país afora.
A Dilma de antes não pediria que o presidente do PRB, braço político da Igreja Universal, evitasse alianças com partidos de fora da base. Também não precisaria esconder do site oficial foto com o bispo Edir Macedo, porque dificilmente posaria para ela.
O risco de tal guinada numa eleição em que as chances de seus postulantes não são tão claras é se tornar corresponsável por eventuais derrotas e fissuras na coalizão governista.
Mais do que isso, Dilma pode perder o elã para a parcela do eleitorado que passou a admirá-la justamente pelo fato de que ela não é Lula.
FONTE: FOLHA DE S. PAULO
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