O Brasil como modelo para o Ocidente — quem diria? Pois Domenico De Masi diz. Segundo ele, o nosso país “não é o melhor dos mundos possíveis, mas é o melhor dos mundos existentes”.
O sociólogo italiano está escrevendo um livro em que analisa a crise europeia, onde, como afirma, não faltam leis e tribunais, direitos civis, bem-estar, liberdade de expressão, igrejas, empresas. “Nunca tantos filhos com educação superior à paterna.” Mas, conclui, não há progresso sem felicidade, e “o Ocidente não é feliz”.
Na sua visão, os modelos que a Europa e depois os EUA elaboraram ao longo da história — o cristão, o renascentista, o iluminista, o industrial e o pós-industrial — resultaram “inadequados” e hoje a imagem que lhe ocorre é a do Ocidente que nem um marinheiro desorientado que espera um vento favorável, sem saber que direção seguir.
Quem pode lhe mostrar o caminho? De Masi acha que é o Brasil, por várias razões: é “a única democracia do planeta onde o PIB está crescendo continuamente por trinta anos, as distâncias sociais diminuem, a qualidade de vida melhora, a alternância do poder é assegurada por regulares eleições democráticas”, além de ser o único país onde “por oito anos um presidente sociólogo aumentou a riqueza nacional e outro, operário, a redistribuiu com mais equidade”.
Tudo bem. Mas e a impunidade, os escândalos, a violência? O sociólogo evidentemente não desconhece os problemas, mas faz comparações. “Seus (do Brasil) muitos defeitos — gritantes desigualdades socioeconômicas, falta de infraestrutura, criminalidade difundida, corrupção — ainda são menores do que os defeitos de outros países.
E suas vantagens — social- democracia, alegria, sensualidade, acolhimento, pacifismo — são muito maiores do que as de outros lugares”. O que falta então? “Autoconsciência da situação objetiva e da urgência em transformá-la em modelo teórico para si próprio e para os outros”, uma “honra” que caberia aos nossos intelectuais, “assim como os intelectuais ingleses a tiveram para o modelo capitalista, e os franceses para o modelo iluminista”.
Seria “uma mensagem de salvação para o Ocidente doente”. Mesmo que se queira relativizar essas opiniões por serem de um apaixonado pelo país, são palavras de um importante sociólogo e que soam em nossos ouvidos cansados de receber os sons impuros que vêm de Brasília como uma doce música. E como um bálsamo para nossa autoestima tão maltratada pela política.
FONTE: O GLOBO
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