A última pesquisa Ibope sobre eleições nas capitais mostrou a estagnação, uma ausência de movimento nas intenções de voto onde se imaginava que já fizera algum efeito o apoio de cabos eleitorais de importância fundamental. Por exemplo: em São Paulo, o candidato Fernando Haddad (PT) não reagiu, apesar de estar em campanha e super exposto na mídia jornalística desde o início do ano, a todo momento sendo citado como preferido do ex-presidente Lula. No Recife, o candidato do PT apoiado por Lula, Humberto Costa, até caiu com relação às intenções de voto iniciais, e o candidato do governador Eduardo Campos, o ex-secretário Geraldo Júlio, subiu. Em Belo Horizonte, a surpreendente definição da candidatura petista de Patrus Ananias, com apoio de Lula, Dilma e Michel Temer, apareceu com menos da metade das intenções de voto do candidato Márcio Lacerda, do PSB do governador Eduardo Campos, do Recife.
Eram as três praças onde a unção do ex e da atual presidente, ambos popularíssimos, foi tão espalhafatosa quanto inócua, até o momento. A mídia jornalística, afirmam os entendidos, por mais engajada em uma candidatura, não tem o poder de mexer nas intenções de voto. O fenômeno notado na última pesquisa, porém, não vai se repetir e deve ser logo superado a partir do fim de agosto. No dia 30, já terão se passado quase duas semanas de propaganda eleitoral no rádio e televisão. E, principalmente nas grandes cidades, onde o eleitorado é maior, é difícil haver movimentos expressivos nas curvas de intenção de voto sem a televisão.
Em segundo lugar, há as peculiaridades locais. Se fosse Marta Suplicy a candidata do PT em São Paulo, ainda mais com o apoio de Lula, ela já teria muito mais seguidores do que tem hoje Haddad, pelo simples fato de que já é conhecida e o primeiro impulso já teria sido dado sem esperar a TV. Teria, pelo menos, os 28% de votos que, segundo o Datafolha, o PT tem em São Paulo.
O mercado deveria regular conflito de interesse em pesquisa
Hoje, a maioria desses votos está com Celso Russomano, em segundo lugar com José Serra e só em terceiro com Haddad. Quando informado de que seu candidato e o de Lula é outro, certamente esse contingente de eleitores irá correndo para Haddad.
O tamanho do horário eleitoral dito gratuito nas campanhas para prefeito, ainda por cima, é cinco vezes maior que o das campanhas para eleições presidenciais, de governador, senador, deputado federal e estadual, porque há menos categorias com quem dividir o tempo, são só os prefeitos e vereadores. Portanto, blocos intermináveis de propaganda e, o mais eficiente, inserções ao longo de todo o dia, um tempo abusivo, mudarão tudo.
Muito do que tem Russomano, hoje, ainda é lembrança da exposição na televisão comercial, da mesma forma que é impossível Haddad não subir significativamente com o horário eleitoral.
No Recife, os números não ficaram tão rígidos, mas a mexida se deu porque, pelas peculiaridades locais, as pessoas notaram a proximidade da eleição: pela primeira vez, em muitos anos, o governador Eduardo Campos e o PT disputam eleições separados, e seu candidato, que não estava na consideração do eleitorado há até bem pouco tempo, subiu no espaço do racha do PT pernambucano.
No fim de agosto, porém, quando a cidade já tiver visto uns dez dias de propaganda na TV e no Rádio, o eleitorado vai se deparar com o fato de que há um candidato de Eduardo Campos e um candidato de Lula. Este, certamente, vai parar de cair, pelo menos. Os especialistas nesses movimentos recomendam não subestimar nem superestimar o peso do apoio de Lula, que sem dúvida é importantíssimo, mas definir o resultado é outra coisa, talvez não defina em várias cidades onde se empenha.
A situação na terceira grande praça onde o barulho foi grande e não correspondeu à mexida no status quo é Belo Horizonte, mas as razões apontadas pelos especialistas são outras. Ali se deu o fenômeno do candidato chamado "incumbente", o prefeito no cargo postulando a reeleição.
Quando pleiteou o cargo na eleição anterior, Lacerda, então um desconhecido, na primeira semana da propaganda eleitoral gratuita subiu nove pontos, um resultado que se espera para os desconhecidos deste ano logo que iniciada a propaganda na TV. Agora não precisa desse impulso, vamos ver se seus adversários se beneficiam da super-exposição.
Mais uma vez o Brasil vai às urnas com campanhas ainda moldadas por duas distorções provocadas pelo anacronismo da legislação eleitoral. Uma, essa do exagerado tempo de propaganda na TV e rádio que está longe de ser gratuito: o governo desonera as emissoras, a produção dos programas é o principal peso no orçamento das campanhas e os partidos compram tempo de TV através das coligações que, há muito, deixaram de ser convergência política ou ideológica, é um mero comércio, um mecanismo aquisitivo de espaço na propaganda. Há estudos que alimentam a corrida ao tempo de TV. Um trabalho realizado pelo sociólogo e cientista político Antonio Lavareda, sobre a eleição de 2008, aponta que 75% dos candidatos vitoriosos tinham o primeiro ou o segundo tempo maior de televisão. Não é coincidência e por isso cada vez mais os partidos saem às compras de legendas, gênese de mensalões na política brasileira.
A segunda distorção que vai ficando no anacronismo da legislação, para ela não se vê razão a não ser a saciedade comercial de um segmento empresarial, são as pesquisas de duplo e dúbio interesse. A pesquisa é um trabalho, diz-se por aí, científico. Há publicações científicas internacionais, hoje, que adotam a informação sobre se aquele trabalho é passível de conflito de interesse, se está fazendo aquilo sob contrato de alguém, ou outros trabalhos sob patrocínio de algum interessado naquele. A simples menção de que os institutos deveriam revelar se têm contrato com partidos ou candidatos que possam conflitar com o trabalho dito científico o mundo desaba.
Ao contrário de criar novas restrições, muitos preferem a desregulação da publicação de pesquisas. Assim, grandes jornais grandes redes, como ocorre no exterior, não contratariam quem fizesse pesquisas para candidatos ou partidos. Lá fora, o próprio mercado foi se organizando e impondo a sua regulação. Aqui, a democracia é ainda experiência e pesquisadores se dão ao luxo de estranhar que certos candidatos e partidos existam na disputa.
FONTE: VALOR ECONÔMICO
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