Ao invés de terminar numa pizza, desejada pelos réus e temida pela sociedade, o processo dos “mensaleiros” vai avançando na condenação, com reclusão, daqueles já julgados e apontando para penas similares aos integrantes do chamado núcleo político, encabeçado pelo ex-chefe da Casa Civil do governo Lula, José Dirceu. O plano B da defesa, ou a verdadeira estratégia da limitação dos delitos à prática de Caixa 2, foi progressivamente in-viabilizado com o acolhimento por ampla maioria do STF das denúncias da Procuradoria Geral da República e do relatório/voto do ministro Joaquim Barbosa. Os quais – a partir de uma espécie de delação premiada do presidente do PTB, Roberto Jefferson – montaram com precisão o xadrez das ações de uma “organização criminosa” que combinou corrupção ativa e passiva, peculato, lavagem de dinheiro e gestão fraudenta de instituição financeira, com ou sem “ato de ofício”. Envolvendo recursos do Banco do Brasil, vultosos, e da Câmara dos Deputados, de par com a simulação de empréstimos privados. Ações dirigidas por um núcleo político instalado no Palácio do Planalto e na executiva nacional do PT e operadas por um núcleo financeiro liderado por Marcos Valério. Quanto à sequência do processo legal, é bem consistente a perspectiva de que condenações igualmente ou ate mais severas serão aplicadas ao núcleo político – José Dirceu e seus parceiros José Genoino e Delúbio Soares, da presidência e da tesouraria do PT.
Para além do desgaste que está gerando nas campanhas eleitorais em curso nos grandes centros urbanos, o desdobramento do processo deverá ter outra e mais relevante implicação: a queda da influência de Lula no governo e na disputa presidencial de 2014, com o progressivo descarte de seu nome como alternativa ao da sucessora Ademais de evidenciar o estreito relacionamento dele com os réus, o mensalão facilita a reavaliação negativa do custoso legado populista que seu governo deixou. No campo situacionista, a grande beneficiária desse desgaste será a presidente Dilma, inclusive nos passos que já vem dando para a troca das tradicionais lideranças paulistas do PT por gente de sua confiança. E o desagravo a Lula que ela acaba de fazer – em agressiva resposta a artigo do ex-presidente FHC intitulado “Herança pesada” – reforçou-a como principal liderança desse campo e serviu ao seu objetivo de reduzir as resistências de petistas, especialmente da CUT, a medidas de controle de parte dos efeitos de tal legado – do radicalismo grevista dos servidores públicos por mais aumentos reais e para contenção do déficit previdenciário. Medidas consideradas essenciais pela economista Dilma para que possa chegar a 2014 num cenário econômico bem melhor que o dos pibinhos de 2011 e 2012.
A oposição e Serra – No campo oposicionista, o cenário das eleições municipais nas grandes cidades segue sendo bem mais favorável do que o previsto anos atrás. O UOL destaca, hoje, que o PSDB lidera as disputas em 6 capitais, entre Manaus e Vitória, enquanto o PT só tem dois candidatos nessa situação, em Goiânia e em Rio Branco. Em Belo Horizonte mantem-se entre 15 e 20 pontos a vantagem do aliado de Aécio Neves, o candidato do PSB à reeleição Márcio Lacerda, sobre o adversário petista Patrus Ananias. Em outro pleito que ganhou dimensão nacional, o do Recife, o candidato Geraldo Júlio, da aliança do governador Eduardo Campos (muito bem avaliado pela população) com o ex-adversário Jarbas Vasconcelos, caminha para retirar a prefeitura do comando do PT. Derrota semelhante dos petistas é provável em Fortaleza, com a perspectiva de 2º turno entre o candidato do DEM, Moroni Torgan, e o do governador Cid Gomes, Roberto Cláudio. Em Salvador, ACM, do DEM, continua com grande vantagem sobre Nelson Pelegrino, do PT. Mas este quadro está sendo significativamente contraditado na capital paulista, com a perda de liderança de José Serra para Celso Russomanno, e o risco de que o tucano possa até ficar fora do 2º turno, se houver novo e maior avanço do candidato do PT, Fernando Haddad. Sua passagem à disputa final dependerá do sucesso da reorientação da campanha, com ênfase na garantia de que, eleito, cumprirá todo o mandato, e com estreita vinculação dela à boa imagem do governador Geraldo Alckmin. A um mês do 1º turno, Celso Russomanno, da coligação PRB/PTB, amplia sua dianteira na disputa, conforme o Datafolha publicado nesta quarta-feira – sobe de 31% pa-ra 35%, ao passo que Serra oscila de 22% para 21%, e Haddad cresce de 14% para 16%. Ainda há tempo para que o amplo predomínio de Serra e de Haddad no horário eleitoral “gratuito” reverta essa dianteira em favor dos dois ou de um deles. Mas, decorridas duas semanas do uso desse predomínio, Russomanno continua capitalizando o antipetismo e o desgaste de Serra com a elevada impopularidade de Gilberto Kassab e com lembrança da sua renúncia anos atrás ao cargo de prefeito logo após eleger-se. Com isso, o “azarão” Russomanno está pondo em xe-que a esperada polarização, PSDB-PT no pleito paulistano.
Jarbas de Holanda é jornalista
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