Polícia e MP desarticularam quadrilha que teria desviado ao menos R$ 48 milhões de Guapimirim. Grupo seria liderado pelo prefeito Júnior do Posto (PTC) e apostava na candidatura de Ismeralda da Costa (PMDB), também presa. Ontem, o PMDB anunciou sua expulsão do partido.
Postos na cadeia
Em Guapimirim, fraude milionária leva prefeito Júnior do Posto e sua candidata à prisão
Athos Moura, Juliana Castro e Sérgio Ramalho
Numa investigação inédita, que contou com agentes infiltrados com autorização do Tribunal de Justiça do Rio, policiais da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco) e promotores do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público estadual desarticularam ontem um esquema de corrupção responsável pelo desvio de pelo menos R$ 48 milhões dos cofres de Guapimirim, na Baixada Fluminense. A quadrilha - como classificou o subprocurador-geral de Justiça, Antônio José Campos Moreira - era chefiada pelo prefeito da cidade, Renato Costa Mello Júnior, o Júnior do Posto (PTC), preso em casa, num condomínio de luxo, no Recreio dos Bandeirantes, na Zona Oeste do Rio. Segundo a polícia, em média era desviado R$ 1 milhão por mês.
O bando, que, para se manter no poder, investia na candidatura da ex-secretária Ismeralda Rangel Garcia da Costa (PMDB), também presa, tinha entre seus principais articuladores o presidente da Câmara de Vereadores, Marcelo Prado Emerick, o Marcelo do Queijo (PPS), e o secretário de Administração, Governo, Habitação, Agricultura e Pecuária, Isaías da Silva Braga. Marcelo do Queijo está foragido; Isaías foi preso, assim como Ramon Pereira da Costa Cardoso, chefe do setor de licitações. Outros dois integrantes do grupo que tiveram a prisão decretada, Ronaldo Coelho Amorim e Ivan Azevedo Valentino (diretor-geral da Câmara), estão foragidos.
Nove meses de investigação
A descoberta do esquema de corrupção foi resultado de nove meses de investigações, que levaram o procurador-geral de Justiça do Rio, Claudio Lopes, a denunciar 16 pessoas, das quais sete tiveram as prisões preventivas decretadas pela seção criminal do TJ, que determinou ainda o afastamento cautelar das funções públicas do grupo e de outros três vereadores da cidade - os peemedebistas Iram Moreno de Oliveira, o Iram da Serrana, e Marcel Rangel Garcia, o Marcel do Açougue, que era candidato a vice-prefeito na chapa de Ismeralda, além de Alexandre Duarte Carvalho (PSC).
O grupo é acusado de formação de quadrilha, peculato, corrupção ativa e passiva, ameaça, falsidade ideológica e coação de testemunhas no curso da ação. De acordo com os investigadores, a quadrilha desviava em média R$ 1 milhão por mês dos cofres do município por meio de fraudes em licitações e compras superfaturadas, além da contratação irregular de sete empresas. Uma delas, ligada ao ramo de transportes, alugava por R$ 7 mil mensais um Kadett ano 1993.
Durante a Operação Os Intocáveis, desencadeada na manhã de ontem, os policiais da Draco e da Subsecretaria de Inteligência encontraram no gabinete do presidente da Câmara de Vereadores, Marcelo do Queijo, uma espécie de tabela, com os percentuais de ágio exigido pelos integrantes do bando. Segundo o delegado Alexandre Capote, da Draco, os percentuais variavam de 20% a até 40%. De acordo com o policial, há fortes indícios de fraudes na compra de 60 toneladas de carne, supostamente adquirida de um pequeno açougue da região para servir de merenda escolar.
Moradores aplaudiram prisão
Além dos sete mandados de prisão, os agentes também cumpriram 45 mandados de busca e de apreensão nas casas dos envolvidos no esquema, no gabinete do prefeito e de dois secretários, além de gabinetes de vereadores, da presidência da Câmara e do comitê eleitoral da ex-secretária Ismeralda.
Ex-secretária de governo, Ismeralda Garcia da Costa foi presa em sua casa, no bairro Parada Modelo, e levada no carro da Draco. Na saída, moradores aplaudiram a ação da polícia. Na casa da ex-secretária, que tem a fachada vigiada por câmeras, os policiais apreenderam R$ 30 mil em espécie e um revólver, além de computadores e documentos. Ismeralda é aliada de Júnior do Posto, que apoiaria sua candidatura à sucessão municipal como forma de manter o esquema de corrupção.
Segundo o delegado Capote, os envolvidos na quadrilha chegaram a oferecer uma mesada de R$ 20 mil à Draco caso Ismeralda fosse eleita - sugerindo que parte dos recursos desviados seria usada para financiar a campanha da ex-secretária.
As atividades ilegais foram descobertas a partir de denúncias feitas por um vereador da cidade, Oswaldo Vivas, que vem recebendo ameaças de morte. Com base nas informações, os policiais da Draco abriram inquérito e, no curso da investigação, foram procurados pelo presidente da Câmara, que ofereceu dinheiro em troca do encerramento do inquérito.
Com autorização do Tribunal de Justiça, o delegado Roberto Leão passou a negociar com o bando, simulando que aceitaria o suborno de R$ 800 mil para encerrar a investigação. A quantia foi entregue há três meses ao policial por Marcelo do Queijo, que chegou a um posto de gasolina pertencente à família do prefeito, acompanhado pelo secretário Isaías, o Zico.
O encontro aconteceu durante a noite e, como o delegado lembrou, o dinheiro (notas de R$ 50 e R$ 100) foi entregue numa sacola e estava úmido e com cheiro de esterco. Para o policial, isso indica que o dinheiro estava enterrado.
Vereadores recebiam propina
Durante a operação de ontem, os agentes apreenderam mais R$ 200 mil em espécie; cheques, um deles no valor de R$ 120 mil, que estava na sala do presidente da Câmara; joias avaliadas em R$ 1 milhão; três carros importados; e cinco armas - uma delas encontrada na casa do prefeito, que também responderá a uma ação por porte ilegal de arma de fogo.
Até o início da noite, a polícia ainda buscava Marcelo do Queijo, Ivan Valentino e Ronaldo Amorim, que faria parte do braço armado da quadrilha.
Entre os denunciados, que não têm mandado de prisão decretada, estão os vereadores Iram Moreno de Oliveira, o Iram da Serrana; Alexandre Duarte de Carvalho; e Marcel Rangel Garcia, o Marcel do Açougue, que recebiam um mensalão pago pelo prefeito. Cada um recebia de R$ 50 mil a R$ 80 mil para evitar a fiscalização pela Câmara Municipal.
FONTE: O GLOBO
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