O troféu mais valioso que o governo pode ostentar nestes últimos 12 meses é a derrubada dos juros básicos (Selic) em nada menos que 5 pontos porcentuais, de 12,5% ao ano para 7,5% ao ano - o nível mais baixo desde meados dos anos 60.
Essa foi uma decisão pessoal da presidente Dilma, que tem razão quando argumenta que toda uma bateria de políticas foi acionada para que esse resultado tenha sido possível. A mais importante delas foi um razoável nível de disciplina das finanças públicas. Despesas contidas dentro do arrecadado e o cuidado em produzir uma sobra para pagamento da dívida pública (superávit primário) sopraram ventos favoráveis para que o Banco Central pudesse cumprir sua política de expansão do volume de moeda na economia.
Mas o fator mais importante que favoreceu a queda dos juros não dependeu da decisão do governo. Veio de fora. Coincidentemente, também trabalhou contra a atividade produtiva: foi a crise global, que gerou uma disponibilidade de recursos (e juros baixos) nunca vista antes no mercado global, num ambiente de inflação quase desprezível.
O inegável sucesso da presidente Dilma nessa empreitada não significa que o Banco Central tenha cumprido seu principal mandato institucional. A inflação se manteve relativamente na meta, mas a operação do Banco Central se limitou, ao menos temporariamente, a cumprir outro objetivo: derrubar os juros, primeiramente, a um dígito (abaixo de 10% ao ano) e, em seguida, aos mais baixos níveis em termos reais (abaixo de 2% ao ano).
E aí está a principal crítica que se pode fazer ao Banco Central: a de que operou para cumprir uma meta de juros, embora mantivesse discurso centrado no respeito ao cumprimento da meta de inflação.
Paradoxalmente, o achatamento dos juros, que, em princípio, deveria ajudar a expandir a atividade econômica, foi um dos fatores que concorreram para o baixo desempenho da indústria nacional (queda de 2,5% no terceiro trimestre em comparação com o anterior).
Quem explicou esse resultado foi a consultora Zeina Latif. Acostumada a operar com grosso colchão de caixa (em torno de 40% de seus recursos), a indústria foi perdendo importante fonte de renda à medida que os juros despencaram. Sexta-feira, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, reconheceu esse efeito: "No curto prazo, juros baixos podem, sim, prejudicar a indústria".
Assim, importante desafio será empurrar os administradores do setor produtivo a despejar esses recursos no seu negócio, sobretudo nos investimentos. Como os custos estão subindo e a margem operacional está mais estreita, não vai ser suficiente mobilizar o espírito animal dos empresários. Eles têm de acreditar na retomada iminente, algo que ainda não aconteceu; e precisam, também, ganhar competitividade, o que hoje não têm.
A desvalorização cambial (alta do dólar), que barateou em moeda estrangeira o produto nacional e encareceu em reais o importado, cumpre somente parte desse objetivo. O resto terá de vir da derrubada do custo Brasil, de maior eficiência do governo na condução de um programa de investimentos e do aumento da capacidade operacional das empresas brasileiras.
FONTE: O ESTADO DE S. PAULO
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