Texto aprovado pelos congressistas, de 1 página e meia, atende aos interesses da base governista e da oposição
A CPI do Cachoeira aprovou ontem, por 21 votos a 7 e sob protestos, relatório de apenas uma página e meia do deputado Luiz Pitiman (PMDB-DF) que descarta o indiciamento dos investigados. Depois de a Comissão consumir oito meses de trabalhos, a única providência do parecer é encaminhar as conclusões de apuração para a Polícia Federal e para o Ministério Público Federal. A convergência de interesses da base governista e da oposição blindou as investigações. Os parlamentares resolveram fazer um "acordão da madrugada" e rejeitaram, por 18 votos a 16, o texto final do relator Odair Cunha (PT-MG), de 5 mil páginas, que propunha o indiciamento de 29 pessoas, colocava no foco da investigação o governador de Goiás, Marconi Perilo (PSDB), e protegia nomes de interesse da base aliada e do PT, como o do governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB). O autor do relatório aprovado se justificou dizendo que seu trabalho é "muito mais abrangente" do que o texto anterior.
Base e oposição fazem acordo e CPI do Cachoeira termina sem indiciados
Débora Bergamasco, Ricardo Britto
BRASÍLIA – Depois de consumir R$ 120 mil e oito meses de trabalho de par¬lamentares e assessores? a CPI do Cachoeira aprovou ontem, entre protestos de que tudo vi¬rou "presepada" e "piada", uni relatório de uma página e meia sem apontar ninguém como suspeito de integrar ou participar do grupo do contraventor já condenado a quase 40 anos de prisão por comandar um esquema de jogos ilegais apoia¬do por agentes públicos.
A convergência de interesses da base governistas e da oposição blindou as investigações sobre o contraventor Carlinhos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, o dono da empreiteira Delta, Fernando Cavendish, o senador cas¬sado Demóstenes Torres, o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), e o prefeito de Palmas, Raul Filho (PT), entre outros.
Os parlamentares que integram a comissão rejeitaram o texto final do relator, o deputado Odair Cunha (PT-MG), de 5 mil páginas, que colocava no foco da investigação o governador tuca¬no e poupava nomes importantes da base aliada e do PT, como ós do governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), e do Distrito Federal, o petista Agnelo Queiroz.
O relator já havia feito "ajustes" em seu texto a fim de que fosse,: aprovado. Inicialmente, queria indiciar mais de 40 pessoas, entre elas o jornalista da re¬vista Veja Policarpo Jr. que aparece numa série de interceptações conversando com Cachoeira. Também queria que o procura¬dor-geral da República, Roberto Gurgel, fosse investigado por não ter aberto procedimento contra Demóstenes mesmo após a Operação Vegas da Polícia Federal ter apontado indícios de sua ligação com o contraventor.
Cunha acabou recuando nesses dois pontos por causa de resistência na própria base aliada, mas ; não conseguiu garantir apoio a seu texto. Num "acórdão da madrugada", governistas e opositores resolveram aprovar a página e meia do deputado Luiz Pitiman (PMDB-DF), O documento de Pitiman, se não contempla todos os interesses petistas ou tucanos, tampouco compromete a vida de qualquer partido da base ou da oposição. Sem citar ninguém, pede apenas que todos os sigilos fis¬cais e telefônicos obtidos pela CPI e os cinco votos em separa¬dos sejam enviados para a Polícia Federal e para o Ministério Público Federal, para que essas instituições continuem as investigações.
A proposta original de Cunha foi rejeitada por 18 votos a 16. Na lista de indiciados do relator, constavam Perillo, Raul Filho, Demóstenes e o deputado fede¬ral Carlos Alberto Leréia (PSDB-GO). Ao todo, havia pedido para que 29 pessoas fosses indiciadas - ou seja, haveria indícios sufi¬cientes para que essas pessoas já fossem consideradas suspeitas de ligação ilícita com Cachoeira.
Cunha afirmou que o resultado da CPI "foi uma pizza geral". O deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS) ironizou o acordo: "Só o que : está faltando são os lencinhos e as champanhes francesas que o senhor Fernando Cavendish vai pagar, com certeza, para a banca¬I da que enterrou a CPMI do Cachoeira", disse ele, referindo-se a fotos divulgadas após uma viagem de integrantes do governo Cabral a Paris na qual confraternizavam com diretores da Delta.
Para o senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), que votou contra o relatório aprovado, o Congresso Nacional protagonizou "uma das piores cenas de sua história com substituição de parla¬mentar na madrugada, mudanças de última hora, encaminha¬mento, conchavos, mudança de voto de imediato."
Já o senador Alvaro Dias (PSDB-PR), que votou a favor do parecer de Pitiman, negou que tenha blindado Marconi Perilo, e disse que "Votar o relatório (proposto por Odair Canha) seria chover no molhado, em relação ao governo do Marconi, pois já houve autorização do STJ para a investigação do governador". Disse ainda, que to¬das as investigações que seguirão no âmbito dos órgãos permanentes de investigação estarão a salvo da "política partidária" adotada na CPI. E concluiu afirmando que ; a Comissão quis "agredir apenas uns e proteger os outros".
"Abrangente", Para justificar seu parecer, o autor do relatório vencedor disse que seu texto é muito mais abrangente do que o rejeitado de Odair Cunha, uma vez que todo o material produzi¬do será remetido para as investigações da polícia e do MP.
"Em plena festa natalina, este relatório final é uma presepada", criticou o líder do PPS, deputa¬do Rubens Bueno (PR), após a aprovação do texto.
"Não me compete aqui ficar tendo sentimentos, o que eu posso dizer que é lamentável, que, apesar de todo o esforço feito pelos membros da CPI, por todos nós aqui, diante de provas incontestes da CPMI, não existe um juízo de valor sobre nada. Ela se nega a fazer aquilo que é a sua missão essencial Levantar provas, identificar indícios e apresentar conclusões. As conclusões aqui são na¬da, um vazio, Uma pizza geral, la¬mentável", criticou Odair Cunha, ao final da sessão de ontem.
Fonte: O Estado de S. Paulo
Um comentário:
Nenhum partido decidiu isso. Os sigilos foram encaminhado para o Ministério Público e as investigações poderão continuar, mesmo que Sérgio Cabral não tenha nenhuma ligação com o caso.
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