terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Disputa por 2014 começa na base aliada - Raymundo Costa

Para o PSDB, a neutralização de Lula é importante para a oposição complicar a reeleição de Dilma Rousseff. Em síntese, Lula é o PT e o PT é Lula. Mas na base aliada do governo já se discute a hipótese de Dilma ter se descolado eleitoralmente de Lula. O consenso é que a manutenção da atual situação econômica será suficiente para a presidente ganhar mais quatro anos no Palácio do Planalto.

O PT, ao contrário, entende que eleitoralmente não existe Dilma sem Lula. O ex-presidente é o elo entre o PT e Dilma que, se for enfraquecido, pode até se romper. Dilma não foi escolhida candidata a presidente por ser do PT, mas por ser lulista. Não é por acaso que o PT agora procure armar uma trincheira para proteger o ex-presidente da República de constrangimentos recentes e de acusações tardias sobre o seu conhecimento da compra de votos no Congresso, o chamado esquema do mensalão.

Pela posição que ocupa no governo, é no mínimo questionável a decisão de Gilberto Carvalho de convocar os militantes do PT às ruas para defender Lula dos "ataques sem limites" feitos ao líder maior. Refere-se, o ministro, ao depoimento de Marcos Valério ao Ministério Público Federal, no qual afirma que Lula não apenas sabia do mensalão, como também teve despesas pessoas financiadas pelo esquema, e à Operação Porto Seguro, da Polícia Federal, que estourou um ninho de tráfico de influências instalado no gabinete da Presidência, em São Paulo.

Preocupado, PT quer renovar pacto que elegeu Dilma Rousseff

Em um vídeo postado no site do PT, Gilberto diz que 2013 será um ano "brabo" em que "o bicho vai pegar". O ministro se dirige à nação petista: "Vocês sabem o que está acontecendo neste final de ano, vocês sabem esse ataque sem limites que estão fazendo ao nosso querido presidente Lula, e que tem um único objetivo: é destruir nosso projeto, é destruir o nosso PT, é destruir o nosso governo". Não foram declarações tomadas no afogadilho de uma caminhada, mas pensadas, repensadas e gravadas em vídeo.

Dilma abriu a porteira, em Paris: "Acho lamentáveis essas tentativas de desgastar a imagem de Lula", disse a presidente ao comentar o vazamento do depoimento de Marcos Valério. "Repudio todas as tentativas de tentar destituir Lula de sua imensa carga de respeito pelo povo brasileiro".

Até então, Dilma mantivera o governo distante do julgamento do mensalão. Caíram José Dirceu, Delúbio Soares e José Genoíno, a nata petista, mas não se ouviu palavra de solidariedade do governo. Situação que até no PT é criticada, intramuros. Bastou Marcos Valério botar Lula na dança e é o próprio governo quem incita militantes a tomar as ruas em protesto. A ordem anterior de manter o governo à distância foi cancelada pela declaração de Paris.

O passado bate à porta do Palácio do Planalto e a fatura pode acabar na conta de Dilma. A pesquisa Datafolha divulgada no último domingo é positiva para o PT, seja o candidato, em 2014, a presidente Dilma Rousseff ou ex-presidente Lula. Mas, nas entrelinhas, está repleta de advertências. E uma delas diz respeito justamente ao aumento da percepção, entre os entrevistados, de que há corrupção no governo Dilma. Em agosto passado, o percentual dos que viam malfeitorias no governo era de 64%. Agora, a soma está em 69%, um aumento acima da margem de erro da pesquisa, que é de dois pontos percentuais.

Se a eleição fosse hoje, tanto Dilma (53%) como Lula (56%) seriam eleitos no primeiro turno, um feito inédito para o PT - Lula disputou o segundo turno com José Serra (2002) e Geraldo Alckmin (2006), enquanto Dilma também teve de passar por uma nova rodada nas urnas em 2010, outra vez com o tucano José Serra. A explicação corrente no Congresso, entre aliados e oposicionistas, é que, apesar do baixo crescimento, a manutenção do nível do emprego, a inflação sob controle e os programas de inclusão social ajudam a manter em alta o prestígio de Lula e Dilma. Mas talvez não sejam o bastante para a longa travessia até as eleições de 2014.

O "bicho vai pegar" em 2013, para utilizar a expressão de Gilberto Carvalho, se o governo não mudar de postura e ampliar o leque das apostas. Em entrevista ao jornal "O Estado de S. Paulo", no domingo, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, interpreta de maneira precisa o que ouve de empresários, banqueiros e dos colegas dos partidos políticos: "Temos de estimular outros mecanismos de financiar a infraestrutura a longo prazo, estimular as PPPs, concessões onde puder haver concessões, financiá-las não só através de bancos públicos", disse. "Temos de nos tornar uma aposta para quem tem dinheiro. O Brasil está hoje perdendo esse foco de investimento porque há uma sensação de que existe controle excessivo do lucro".

Pífio é o mínimo que pode ser dito do desempenho, na pesquisa Datafolha, do mais provável candidato do principal partido de oposição, Aécio Neves (PSDB-MG). No cenário com Lula na disputa o tucano fica em quarto lugar, atrás de Marina Silva, que tem o recall da última eleição presidencial, mas atrás do presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, que nunca disputou uma eleição - e nem a audiência da TV Justiça é capaz de justificar.

A oposição ainda está à procura de um discurso. Como não há oposição, a disputa se dá por dentro da base, como deixam evidente Eduardo Campos e seu PSB, um partido que se profissionaliza e mantém a imagem limpa na opinião pública. Se a situação econômica se deteriorar, nada segura a disputa no interior da base governista. Os antecedentes estão aí para mostrar como as crises políticas podem transbordar para a economia.

Quando sai em defesa de Lula, da forma como fez, Gilberto Carvalho sem dúvida procura renovar o pacto que sedimentou as bases nas quais se assenta o atual governo. A aliança política e a base social. O ministério de Carvalho, a Secretaria Geral da Presidência da República, é justamente o órgão encarregado de manter acesa a chama entre um governo dito popular e os movimentos sociais dos mais variados matizes.

Fonte: Valor Econômico

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