Com mais de 30 milhões de imigrantes, brasileiros concorrem a seis cadeiras no Congresso italiano
Ex-vereadora, Renata Bueno conta com suporte do PPS para fazer campanha
Lucas Pavanelli
Pela primeira vez, uma brasileira pode representar o país no Parlamento italiano. Filha do líder do PPS na Câmara, o deputado federal Rubens Bueno (PR) e ex-vereadora em Curitiba, Renata Bueno disputa uma das quatro vagas para deputado reservadas a sul-americanos nas eleições do país europeu.
Até o dia 21 de fevereiro, italianos que vivem fora da Itália e descendentes com dupla cidadania podem, por correio, escolher um dos 18 representantes para a Câmara de Deputados e Senado do país. Na América do Sul, são quatro cadeiras para deputados e duas para senadores.
Desde 2006, o governo italiano passou a reservar espaço no Parlamento para "estrangeiros" devido ao grande número de imigrantes e descendentes espalhados pelo mundo. Apenas no Brasil são mais de 30 milhões, metade de toda a colônia internacional. Entretanto, menos de 1% desse total, ou seja, cerca de 280 mil ítalos-brasileiros, está apto a votar.
Para conseguir seu objetivo, Renata Bueno deve superar a concorrência dos argentinos. Atualmente, das quatro vagas sul-americanas na Câmara, três são ocupadas pelos vizinhos. A outra pertence a Fabio Porta, italiano radicado em São Paulo.
Embora tenha número de imigrantes menor do que o Brasil - 20 milhões -, a Argentina possui mais da metade dos atuais eleitores, muito por conta de uma melhor estrutura consular.
"Nós temos realmente um problema de estrutura, de falta de condição e de recursos para os consulados. Eu conheço o corpo consular no Brasil, e eles são muito esforçados, mas não dão conta de atender. Essa é uma demanda clássica", afirma Renata.
Apoio. A paranaense, filiada ao PPS, conta com o apoio e a estrutura do partido para angariar votos pelo Brasil. Em visita a Belo Horizonte, esteve acompanhada da presidente da sigla no Estado, a deputada Luzia Ferreira.
"Nós temos como bandeira ser um partido internacionalista. É um exemplo que pode servir para outros no futuro. Quem sabe os brasileiros que moram no exterior, e que hoje votam apenas para presidente, não possam também ter representação?", sugeriu Luzia.
Para Renata, a estrutura da legenda ajuda na aproximação com pequenas comunidades italianas. "Nós temos que chegar às pequenas cidades, e o partido pode ajudar bastante já que temos diretórios municipais espalhados por todo o Brasil. O que temos que nos comprometer não é só com voto, mas também de assumirmos compromissos com a comunidade italiana de cada Estado", concluiu.
Parceria para estreitar laços
Nascido em Caltagirone, na Sicília, e radicado em São Paulo, onde vive desde 1998, o deputado italiano Fabio Porta, do Partido Democrático, tenta se reeleger neste ano. Assim como Renata Bueno, Porta também esteve em Belo Horizonte pedindo votos à comunidade italiana.
Ele ocupa uma das quatro cadeiras de imigrantes italianos na Câmara. Eleito com 17 mil votos em 2008, Porta é vice-presidente do Comitê para os Italianos no Exterior e membro da Comissão de Relações Exteriores. Entre as propostas que defende para um eventual segundo mandato, estão o incentivo a projetos de intercâmbio e a obrigatoriedade do ensino da história da imigração italiana nas escolas.
"O maior conhecimento do que os italianos fizeram e estão fazendo fora da Itália, principalmente no Brasil, significa maior integração dessas comunidades pelas gerações mais jovens", detalhou.
Outra proposta dele é criar um projeto de intercâmbio a exemplo do Ciência sem Fronteira, do governo brasileiro, para que "possamos aproximar mais os jovens e incentivá-los a participar do intercâmbio acadêmico ou de pequenas empresas dos dois países".
Porta critica a herança política do ex-primeiro ministro italiano, Silvio Berlusconi, que renunciou ao mandato em novembro de 2011.
"A minha luta foi de manter algumas conquistas, como a rede consular, os projetos de língua e cultura, o atendimento a microempresas. O governo de Silvio Berlusconi estava acabando com tudo isso", criticou.
Minientrevista: "Esta eleição marcará a história"
Candidata ao Parlamento da Itália
Por que é importante para o Brasil ter representante no Parlamento italiano?
Aqui, na América do Sul, é onde temos a maior concentração de imigrantes, e, desde a primeira eleição no exterior, em 2006, nós temos uma grande ocupação por parte dos argentinos. O Brasil é o país que mais tem descendentes de italianos no mundo. Poder ter um brasileiro no Parlamento italiano que represente nossa voz a nível de Europa, sem dúvida, nenhuma, será um ponto forte no ganho político para o nosso país.
A Itália vem de uma crise, e você pode entrar em um caldeirão efervescente. Como você está encarando essa possibilidade?
Eu acompanhei todo esse processo de perto. A gente percebe que a dificuldade é grande, sim. Essa eleição vai marcar a história, entre tudo o que aconteceu e o que virá para o futuro. A Itália é um país importante na Europa e, é claro, que a Europa, por sua vez, reflete na economia mundial.
Fonte: O Tempo (MG)
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