O comércio internacional, fonte de crescimento e de emprego, vive significativas mudanças, lideradas pelos EUA e pela China. Observa-se hoje a proliferação de acordos regionais e bilaterais e a multiplicação de medidas restritivas e protecionistas, em grande parte, devido ao fracasso das negociações multilaterais da Rodada de Doha e ao enfraquecimento da Organização Mundial de Comércio (OMC).
Em reação a essas mudanças, os EUA, a Europa e a Ásia estão avançando entendimentos para a negociação de acordos de livre comércio de grande porte. A Parceria Trans-Pacífica, liderada pelos EUA, concentra 40% do PIB global, e inclui a Austrália, Malásia, Vietnã, Cingapura, Nova Zelândia, Chile, Peru, Brunei, Canadá, México e talvez Japão e Coreia do Sul. Os EUA já haviam firmado acordos com o Canada e México (Nafta) e mais recentemente com Panamá, Colômbia, Peru, Chile e Coreia do Sul. A União Europeia finalizou acordo de livre comércio com a Coreia e está negociando com Cingapura, Canadá e iniciou conversação com o Japão e o Mercosul. Bruxelas e Washington conversam para avançar os entendimentos de um mega-acordo de comércio e investimento, chamado de Acordo de Livre Comércio Transatlântico (Tafta, em inglês). A Ásia embarcou em uma série de acordos de livre comércio regionais, sob a liderança da China e do Japão, inclusive com países sul-americanos.
Sendo os EUA e a Europa, dois dos principais parceiros do Brasil, é importante entender o significado do Tafta e suas implicações para os países que dele ficarem de fora.
Nesse contexto de grandes movimentos de transformação no comércio internacional, o Brasil está sem estratégia de negociação comercial.
Caso os acordos EUA-União Europeia (Tafta) e o dos EUA com países asiáticos (Trans Pacific Partnership) sejam concluídos, o Brasil ficará alijado dos dois maiores fluxos de comércio . A eliminação de tarifas entre os países membros desses dois blocos afetará ainda mais a competitividade dos produtos brasileiros que, praticamente, ficarão excluídos desses mercados.
A politica Sul-Sul dos últimos dez anos, no tocante à África e ao Oriente Médio, pouco resultou do ângulo comercial. A Aliança do Pacífico (Chile, México, Peru e Colômbia) representou uma ação geoeconômica importante pela aproximação dos EUA e da Ásia. O Mercosul, que pediu para ser observador da Aliança, encontra-se em situação de quase total isolamento. Nos últimos dez anos firmou apenas três acordos de livre comércio com Israel, Egito e Autoridade Palestina, além de um acordo de preferência tarifária com a Índia e a África do Sul. A negociação do grupo com a União Europeia passa a ser crucial para podermos estar sintonizados com essas transformações globais.
Se as negociações com a Comissão Europeia não avançarem não restará alternativa ao Brasil, senão fazer, no âmbito do Mercosul, um acordo em separado com a União Europeia, para resguardar nossos interesses.
Fonte: O Globo
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