Raymundo Costa e Yvna Sousa
BRASÍLIA - Depois de ter conseguido o comando do Congresso, o PMDB quer mais. A cúpula do partido avalia que a eventual candidatura presidencial do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, fortalece o poder de barganha do partido para negociar mais cargos no governo. Interlocutores da presidente Dilma Rousseff, no entanto, informaram que o PMDB não precisa "esticar a corda", pois ela e o vice Michel Temer já concordaram que é preciso ampliar os espaços da sigla e as manutenção da aliança na eleição de 2014.
Num jogo pendular, a cúpula do PMDB avalia que quanto mais Campos configura uma candidatura presidencial, mais Dilma precisará ter um aliado forte a seu lado, na reeleição. No Palácio do Planalto, o forte são as ambiguidades.
Enquanto auxiliares de Dilma afirmam que a aliança com o PMDB nunca esteve em jogo, ontem o secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho, que é crescente a corrente dentro do PT que defende a substituição Temer por Campos como vice na chapa com Dilma.
Carvalho é o ministro remanescente da equipe do ex-presidente Lula da Silva no Planalto. Lula sempre foi muito próximo de Eduardo Campos, apesar de alguns atritos nas eleições municipais de 2012. Dilma estará na próxima segunda-feira em Pernambuco, mas sua referência no Nordeste é o governador da Bahia, Jackson Wagner. A presidente reuniu-se com os dois no período de descanso de fim de ano que tirou na Bahia. Mas nada disso, segundo interlocutores da presidente, permite a conclusão de que ela possa estar tramando a substituição de Temer.
De acordo com esses interlocutores, os fatos recentes demonstram exatamente o contrário. De dezembro até hoje, Dilma nunca teria se reunido tanto com Temer. Nessas conversas, os dois também teriam concordado que é preciso ampliar o espaço do PMDB no governo. De acordo com integrantes do governo, "esticar a corda" nesse momento interessaria somente ao líder do PMDB, Eduardo Cunha (RJ).
Outro exemplo dado pelos aliados da presidente: PMDB mineiro quer de volta a diretoria internacional da Petrobras, que perdeu em abril de 2012 quando a atual presidente da empresa, Graça Foster, fez uma limpeza nas indicações partidárias em diretorias da estatal. Depois das conversas que teve com o vice-presidente, Temer teve um encontro com Graça Foster.
Mas, segundo o PMDB, a reunião não foi para tratar de cargos, mas de um pedido feito pelo presidente do Líbano, Michel Suleiman, sobre a abertura de um escritório da Petrobras no Líbano, que passou a correr risco com os planos de enxugamento anunciado pela estatal.
Na realidade, Temer teria feito apenas um pedido a Dilma: que as nomeações que couberem ao PMDB sejam feitas apenas após a convenção do partido, no sábado 2 de março, para a eleição de sua nova direção. Temer, segundo apurou o Valor, será candidato a mais um mandato na presidência do PMDB.
Ao mesmo tempo em que confirma o crescimento de uma tendência no PT para a substituição de temer por Campos, na vice-presidência, o ministro Gilberto Carvalho, em entrevista concedida ontem, reconheceu que não ficará surpreso se o governador de Pernambuco e presidente do PSB for candidato a presidente da República.
"Nada surpreende. Por que surpreender se o PSB já lançou candidatos muitas vezes e se o Eduardo Campos é um legítimo representante de um pensamento, de uma corrente política?", disse o ministro, conforme publicou ontem o Valor PRO, após participar do lançamento da Campanha a Fraternidade 2013, em Brasília.
O PMDB, por seu turno, está convencido de que a candidatura Campos abre uma nova janela de oportunidades ao partido. Uma candidatura que deve ser delineada em outubro, fim do prazo das filiação partidária para os candidatos às eleições de 2014. Os candidatos a governador, por exemplo. A legislação eleitoral exige que eles estejam filiados a um partido político um ano antes da eleição.
É por essa época que os candidatos presidenciais começarão a montar seus palanques eleitorais. A lei da fidelidade partidária inibe a troca de partido dos candidatos, em todos os níveis, mas só daqueles que já se acham associados a uma legenda. Quem está fora de um partido está livre para escolher. Caso, por exemplo, de Júnior Batista, de Goiás, assediado tanto pelo PSB de Campos como pelo PMDB de Michel Temer.
Ou seja, Campos precisa correr contra o relógio e isso seria uma vantagem a mais para o partido, além do poder obtido com o comando da Câmara dos Deputados e do Senado. Nesse quadro, as bancadas querem algo mais que a indicação de uma diretoria da Petrobras, apesar da importância da área Internacional da empresa. Mais um ministério cairia bem nos planos do partido. Especialmente se eles forem o do Trabalho ou o de Cidades.
Fonte: Valor Econômico
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