Com o fim do Carnaval, aumentará a pressão de tucanos para que o senador Aécio Neves assuma a liderança das oposições e dê início à pré-campanha à Presidência da República. O primeiro passo será aceitar a eleição para presidente nacional do partido, na convenção marcada para 25 de maio.
Cada vez mais cobrado, o mineiro continua "mordendo a corda" ou "catimbando", segundo companheiros de partido, que reclamam da aparente "falta de gana" de Aécio e da demora para dar largada à candidatura presidencial. Mas o senador se movimenta intensamente nos bastidores e avisou que, a partir do Carnaval, o ritmo vai ser outro e a intensidade da atividade oposicionista, muito maior.
"Confiem mais no meu timing", tem dito a aliados. A demora do mineiro para aceitar o comando do partido não significa relutância ou medo de entrar em bola dividida. Ele é "candidatíssimo", mas quer fazer tudo a seu tempo.
Pressão aumenta e mineiro intensifica ação nos bastidores
Espécie de clube entre amigos, onde interesses pessoais em geral estão acima dos partidários e nacionais, o Senado tem sido palco desfavorável a uma candidatura oposicionista. A eleição do presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), por exemplo, desgastou Aécio.
Sem articulação prévia das oposições e com os acordos de Renan já avançados, o mineiro defendeu que o PSDB votasse contra o pemedebista. Os 11 senadores comprometeram-se a votar em Pedro Taques (PDT-MT), mas dirigentes do partido calculam que houve de quatro a seis votos tucanos para Renan. A bancada não seguiu a orientação de Aécio, também criticado por não subir à tribuna para defender um nome que representasse a renovação da Casa e a ética na política.
Para escapar dos limites impostos pela atuação no Senado, a maioria dos tucanos quer Aécio como sucessor de Sérgio Guerra (PE) na presidência do partido. Na função, teria maior exposição em embates com o governo e chance de viajar e se tornar conhecido.
Aos interlocutores, Aécio tem sinalizado positivamente, mas diz que, primeiro, precisa reforçar a retaguarda. Sabe que aceitar a presidência do partido significará assumir a candidatura ao Planalto. E não pretende se lançar em uma aventura política.
Está empenhado em entendimentos com governadores e lideranças tucanas do país todo - especialmente São Paulo- e representantes de partidos da base governista que podem desembarcar em 2014, como o governador Eduardo Campos (PE), presidente do PSB e potencial candidato à Presidência da República. Vem conversando ainda com interlocutores do PR, do PP e do PDT, entre outros.
Fazem parte do projeto de Aécio para 2013 viajar por todos os Estados, reforçar a estrutura de marketing do partido e pedir mais pesquisas de opinião pública. Um dos objetivos é criar fatos que deem visibilidade à ação governista. Quer aproveitar bem as 40 inserções do partido e o programa de televisão a que tem direito por semestre.
Dirigentes tucanos acham que Campos, com as jogadas ousadas que vem fazendo, embora seja da base de Dilma, pode conquistar fatias da oposição que hoje se sentem órfãs de uma liderança mais afirmativa. Campos saiu em vantagem das eleições dos presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado.
Na Câmara, o PSB lançou candidato próprio contra o pemedebista Henrique Alves (RN), apoiado pelo Planalto. Júlio Delgado (PSB-MG) conquistou votos no PSDB, que não marcou posição. No Senado, a bancada do PSB anunciou voto contra Renan, numa decisão partidária. Ponto para Campos, embora ele tenha se manifestado depois de Aécio.
Apesar da ambiguidade - por ser governista e, ao mesmo tempo, alimentar especulações de que pode disputar contra Dilma-, as ações do governador de Pernambuco causam apreensão entre dirigentes tucanos. Segundo um deles, 30% do partido está com Campos e outros 60% podem ir, se Aécio não assumir logo.
O senador, por sua vez, tem dito que Campos não é problema da oposição e sim do governo. Eventual candidatura do PSB à Presidência da República significará um racha na base aliada da presidente.
Já há quase um ano, Aécio aproveitou evento da juventude do PSDB em Recife para visitar Campos, com quem teve longa conversa sobre sucessão presidencial. Trocaram ideias sobre a possibilidade de estarem junto em um eventual cenário de segundo turno em 2014.
A avaliação dos tucanos é que, independentemente das circunstâncias, Aécio correria numa faixa própria da oposição, que ficou entre 35% a 45% do eleitorado em 2002, 2006 e 2010. Segundo avaliações de interlocutores, quanto mais concorrentes se lançarem na disputa pelo Planalto, melhor para a oposição.
O mineiro também reuniu-se com o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e o ex-governador José Serra. Aécio não pode enfrentar uma eleição presidencial sem o apoio de São Paulo. Já tem, a seu lado, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e outros tucanos do Estado.
Num gesto de inclusão dos paulistas, Aécio articulou a escolha dos líderes das bancadas do PSDB na Câmara dos Deputados e do Senado. Foram eleitos, respectivamente, Carlos Sampaio (SP) e Aloysio Nunes Ferreira (SP), próximo de Serra.
Aliados de Aécio rebatem a versão corrente de que a suposta falta de "gana" signifique que o senador mineiro não entra em bola dividida. Lembram que em 2001 ele venceu a disputa pela presidência da Câmara dos Deputados contra a orientação do então presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, que defendia apoio a Inocêncio Oliveira, do então PFL, parceiro na aliança. Para mostrar que Aécio não é amador e "não dá murro em ponta de faca", são citadas também as duas eleições para o governo de Minas Gerais (2002 e 2006), nas quais reuniu ampla frente de partidos.
Tucanos mais entusiasmados com a candidatura presidencial de Aécio atribuem à sua propalada qualidade de articulador político a opção por agir nos bastidores antes de assumir o protagonismo da cena. Para os mais críticos, o risco é que ele perca o "timing" e que a oposição fique cada vez mais fraca, sem rumo e esfacelada.
Fonte: Valor Econômico
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