quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Um novo clima - Míriam Leitão

O presidente Barack Obama deu nova ênfase ao combate à mudança climática, pediu leis sobre o tema e avisou: "Se não fizerem, eu faço." Elegeu o fortalecimento da classe média como o norte da gestão, avisou que está iniciando negociações comerciais e de investimento com a Europa e fechando um acordo com a Ásia. A única região não citada no discurso foi a América do Sul.

Na área fiscal, ele prometeu o céu que todos os governantes querem: aumento de gastos sociais sem elevar o déficit público. Nenhum dime , disse ele, será acrescido às despesas. Mas não disse onde cortar. Avisou que redução de déficit tem que estar na agenda, mas não pode ser programa de governo.

Está certo, mas só pode dizer isso, tendo aquele déficit imenso, porque governa o país emissor da moeda mais aceita no mundo. Assim, os Estados Unidos podem financiar seus desequilíbrios não resolvidos.

A área a cortar deve ser a dos gastos militares. Este ano, volta a metade dos soldados no Afeganistão, e até o fim do ano que vem a guerra acaba. A al-Qaeda, segundo ele, é hoje uma sombra do que foi. Disse que melhor do que combater os inimigos com ocupação de países é construir alianças locais e investir em segurança cibernética.

Na política externa, um detalhe que não é inédito, mas tem um significado: todas as regiões do planeta foram citadas, menos a América do Sul. A diplomacia brasileira costuma dizer que é bom mesmo que nos esqueçam. Teria sido bom que tivessem nos esquecido durante a Guerra Fria, quando a região foi vista como uma área a ocupar com ditaduras. Agora, em época de alianças para novas tecnologias, ampliação de comércio, pesquisa e desenvolvimento, o melhor é estar no mapa do país líder em inovação.

Ele conclamou os dois partidos para o combate às mudanças climáticas. "Mas, se o Congresso não atuar em breve para proteger as futuras gerações, eu vou." Ele pode agir muito através de órgãos de governo e da agência ambiental, e essa era a ameaça. Obama lembrou os últimos desastres, como o furacão Sandy e a superseca do ano passado. Disse que o país pode achar que é coincidência ou confiar nos cientistas. "Um evento não faz uma tendência, mas o fato é que os 12 anos mais quentes da história aconteceram nos últimos 15 anos."

Ele defendeu o que seu governo fez em energia limpa. "No ano passado, a energia eólica agregou quase metade da nova capacidade de geração de energia dos Estados Unidos. Então vamos gerar ainda mais. A energia solar fica mais barata a cada ano; vamos fazer com que fique mais barata." E disse que se a China consegue avançar em energia limpa, os Estados Unidos também podem.

No início do discurso, Obama comemorou o fato de que a dependência do petróleo importado foi a menor em 20 anos. Isso só pode acontecer pelo aumento da produção de gás. Ele chama de gás natural, mas esse aumento foi possível pelo produto vindo do fracionamento de rocha, que tem conhecidos problemas: excessivo gasto de água e risco de contaminação do lençol freático. Obama propôs criar um fundo com as receitas de petróleo e gás para financiar estudos para aumento da segurança energética.

Apesar de a economia americana ser forte em serviços, ele defendeu a indústria. Disse que ela criou 500 mil empregos. Esqueceu de dizer que hoje a indústria americana emprega três milhões a menos que há uma década.

O discurso é um ritual, mas Obama o utilizou, desta vez, como plataforma de lançamento do segundo governo e para passar mensagens com a mudança de tom e do espaço dado aos temas. A mais expressiva alteração foi na questão climática.

Fonte: O Globo

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