O que não está claro, na eventual candidatura do governador Eduardo Campos, é o espaço do espectro político-eleitoral que ela ocuparia. Em outras palavras, com quê roupa ele vai para o samba da campanha?
Nos últimos meses, o governador de Pernambuco e presidente do PSB, Eduardo Campos, desenvolveu uma coreografia de idas e vindas sobre sua eventual candidatura a presidente da República em 2014. Alternou as reticências com afirmações de que apoiará a reeleição da presidente Dilma Rousseff. Mas nunca disse que não seria candidato e agora está agindo mais claramente como quem será. O que não está claro, talvez nem para ele mesmo, é o espaço do espectro político-eleitoral que ele ocuparia. Em outras palavras, com quê roupa ele vai para o samba da campanha?
Dilma puxará o grande bloco governista, exibindo a faixa presidencial e os saldos de seu primeiro governo. Os resultados econômicos, até aqui medíocres, podem melhorar este ano e ser compensados pelos avanços sociais, é o que dizem seus auxiliares. O campo da oposição já está ocupado pelo PSDB, que terá como candidato, salvo um grande imprevisto, o senador Aécio Neves. E há um espaço não desprezível na sociedade, especialmente na classe média, para candidatos com discurso crítico à política convencional. Mas este figurino de candidato antissistema cai muito bem é em Marina Silva, que com ele obteve 20 milhões de votos em 2010. Ela não estaria correndo para montar um partido se não pretendesse concorrer novamente. Eduardo Campos é essencialmente um político tradicional. Pode ter olhos verdes e estilo próprio, mas o jogo que ele joga é o mesmo que jogam o PSDB, o PT, o DEM e demais siglas que movem a política. Nada impede que a oposição tenha mais de um candidato, embora a estratégia da divisão não a ajude. Para se apresentar como tal, Campos teria que se afastar logo do governo, devolvendo a Dilma os dois ministérios que o PSB ocupa.
Outro dilema que envolve sua candidatura é o das alianças. Ele está procurando tornar-se um nome nacionalmente conhecido, comparecendo a eventos nas diferentes regiões do país, e montando uma estrutura de comunicação. Mas precisará também ter palanques e aliados em todos os estados, para que sua candidatura não fique restrita ao PSB. Embora o partido tenha crescido muito nas eleições municipais do ano passado, tem apenas 443 prefeituras no universo de 5,5 mil municípios. Prefeitos são fundamentais na disputa presidencial. Estará o PSB disposto a sacrificar candidaturas próprias para apoiar candidatos de outros partidos a governador, em troca do apoio a Campos? Os partidos são nacionais, mas têm seus interesses e dirigentes locais. A segunda liderança mais importante do PSB, o governador do Ceará, Cid Gomes, por exemplo, não apoiou o candidato do partido a presidente da Câmara, Julio Delgado.
Outra incerteza é quanto aos partidos que poderiam se aliar ao PSB para lhe dar palanques e aumentar o tempo de televisão. Com o PSDB o namoro esfriou e, ainda que prosperasse, não seria para dar a cabeça de chapa, e sim a vice, ao governador de Pernambuco. Com Dilma estarão o PMDB e todos os satélites da coalizão governista: PDT, PP, PR, PDT, PSD etc; O PTB, partido do senador pernambucano Armando Monteiro, aliado do governador, talvez viesse a apoiá-lo. Monteiro, ex-presidente da CNI, tem sido ponte segura entre Campos e os empresários, que andam ressabiados com a política econômica do governo. Restaria o DEM, mas este é um apoio que, pelo histórico de esquerda do governador, não lhe cairia bem. Outras incertezas cercam sua eventual candidatura.
Segundo o jornal O Globo, em breve Campos dirá a Lula que será mesmo candidato. Dilma, que já lhe fez alguns acenos e afagos, agora deve apenas aguardar seus movimentos, enquanto trata de montar sua própria coligação. O governador da Bahia, Jaques Wagner, é que vem se empenhando para a superação do estremecimento entre PT e PSB, chegando a propor que o PT se comprometesse com a candidatura de Campos em 2018, ontem foi lacônico: “Esta decisão pertence a ele, que tem todo o direito de ser candidato . Terá o meu respeito, embora eu preferisse que estivéssemos juntos, trabalhando pela reeleição da presidente Dilma”.
Dilma arma o jogo
Um olho no peixe, outro na frigideira. Um olho na gestão, outro na política. Este é o resumo que o governador Jaques Wagner fez do estado de espírito da presidente Dilma. É isso mesmo que a conjuntura de 2013 exigirá dela, com vistas a 2014. A economia agora tem um nervo exposto, o da inflação. O governo não quer combatê-la subindo os juros, depois da queda histórica de que Dilma se orgulha. Vale-se do câmbio, o que provoca outros desarranjos. Os próximos editais de concessões ao setor privado são cruciais para a elevação do investimento e a retomada do crescimento. Para atrair o empresariado, ela determinou revisões nos editais.
Na política, ela também estará agora com a mão no leme. A prioridade é consolidar as alianças e resolver pendências. Antes do carnaval, ela recebeu os dirigentes do PR, ressabiado desde a demissão do ex-ministro Alfredo Nascimento. O PR voltará ao governo mas, segundo auxiliares da presidente, não ao Ministério dos Transportes, o que apagaria a ideia de que ela fez uma faxina na pasta. Recebeu também o PDT, que não se sente representado pelo ministro do Trabalho, Brizola Neto. Ela terá que resolver isso.
E, muito breve, celebrará as bodas com o PSD de Gilberto Kassab, nomeando Afif Domingos como ministro da Micro e Pequena Empresa.
Perdão, leitores
Esta coluna, comentando a renúncia do Papa, referiu-se na terça-feira ao trono de São Paulo. É de São Pedro , por isso também chamado petrino.
Fonte: Correio Braziliense
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