Ex-prefeito de São Paulo descarta ingressar na Esplanada antes da eleição de 2014, mas aliados avaliam que se trata de um lance do PSD para conseguir dois ministérios
Karla Correia, Denise Rothenburg
Mirando muito acima do que o Palácio do Planalto tem a oferecer de espaço para o PSD na Esplanada, o presidente do partido, Gilberto Kassab, disse à presidente Dilma Rousseff que a legenda não vai integrar o governo antes da eleição de 2014. Dessa forma, Kassab “recusou” uma pasta no corpo ministerial de Dilma e afirmou que o PSD não entrará na reforma ministerial desenhada pela presidente desde o fim do ano passado.
Isso é o discurso oficial. A mensagem passada pelo ex-prefeito de São Paulo, o negociador pragmático que empenhou seu apoio ao tucano José Serra na corrida pela prefeitura da capital paulista ao mesmo tempo que construiu pontes em direção ao petista Fernando Haddad, foi que, se a presidente mantiver a intenção de chamar seu correligionário Guilherme Afif Domingos para a Secretaria da Micro e Pequena Empresa, estará dentro da “cota pessoal” de ministros de Dilma. Não será, “de forma alguma”, o atendimento a uma demanda do PSD.
“É claro que não há a menor hipótese de ela convidar o Afif e ele não aceitar”, observa um integrante da cúpula do partido, deixando clara a estratégia do PSD. No jantar com a presidente Dilma, na noite da quarta-feira, Kassab afirmou que manterá o apoio da bancada ao governo nas votações no Congresso. Da mesma forma, continua com planos de integrar formalmente a aliança em torno da candidatura de Dilma à reeleição, no ano que vem, incluindo aí a sua fatia no horário eleitoral gratuito de rádio e tevê.
“Só a partir de 2014 fará sentido que o PSD participe da base de sustentação do governo”, disse Kassab a interlocutores do partido ontem pela manhã, ao fazer seu relato do jantar com a presidente. Sem vincular o provável convite a Afif ao atendimento de uma demanda do partido, o PSD não só se cacifa para uma segunda pasta como mantém a liberdade para mudar de rumo e acenar com o apoio a um eventual adversário de Dilma em 2014.
Nova pasta
Entre os aliados que se engalfinham por mais espaço na Esplanada, a posição de Kassab foi entendida como uma jogada ensaiada da legenda por uma segunda pasta. A oferta do Planalto seria o comando da Secretaria da Micro e Pequena Empresa, mais uma vice-presidência na Caixa Econômica Federal — a de Governo ou a de Habitação. É pouco, na avaliação do PSD, que ambiciona o Ministério da Agricultura, já prometido ao PMDB mineiro, ou a Secretaria de Aviação Civil, também ambicionada pelo PMDB e pelo PR. O presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção Civil (Cbic) e presidente do PSD de Minas Gerais, Paulo Safady Simão, seria o segundo nome da legenda.
Apesar da negativa de Kassab, o Planalto mantém a possibilidade de acomodação do PSD na base governista nos cálculos para a reforma ministerial. A expectativa é que os primeiros anúncios de mudanças no primeiro escalão sejam feitos até segunda-feira, antes de a presidente viajar para o Vaticano, onde assistirá à missa de investidura do papa Francisco.
Por outro lado, o posicionamento do PSD abriu para o governo a possibilidade de destinar a Secretaria da Micro e Pequena Empresa ao PR, varrido do Ministério dos Transportes em 2011 e ávido para voltar a figurar no primeiro escalão. A pasta continua sendo o alvo preferencial do partido, que, contudo, negocia uma alternativa incluindo diretorias subordinadas ao Ministério dos Transportes. Nessa equação, o PR ficaria com Micro e Pequena Empresa, criada com status de ministério, mais os comandos do Departamento Nacional de Infraestrutura dos Transportes (Dnit) e da Valec, estatal responsável pelas ferrovias federais.
Outra possibilidade é colocar Micro e Pequena Empresa à disposição do PMDB, o que facilitaria a ampliação do número de ministérios ocupados pela legenda. Além da acomodação do PSD, PMDB e PR, Dilma ainda precisa resolver a situação do PDT no Ministério do Trabalho. O atual comandante da pasta, Brizola Neto, é um nome que agrada a Dilma, mas é também um desafeto do presidente do partido, Carlos Lupi, que trabalha pela substituição dele no cargo. As repetidas demonstrações de “independência” do PDT no Congresso e os acenos da legenda em direção à porta de saída da aliança pela reeleição de Dilma pressionam a presidente a acatar Lupi e demitir Brizola Neto.
Fonte: Correio Braziliense
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