Ex-prefeito dá passo atrás e não garante apoio à reeleição da presidente em 2014
Após meses negociando com o governo, Kassab ganha tempo para observar o cenário e evitar defecções no PSD
Vera Magalhães, Daniela Lima
SÃO PAULO - Após meses negociando a entrada do PSD no governo, o ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab disse à presidente Dilma Rousseff que ainda é cedo para se comprometer com o apoio ao governo e à sua reeleição em 2014.
"Eu disse a ela, e a presidente compreendeu, que esta era uma decisão definitiva, oficial, e que reflete o desejo majoritário no partido", afirmou Kassab à Folha na manhã de ontem, ao fazer um relato do jantar que teve com a presidente na quarta-feira.
Nas últimas semanas, o Palácio do Planalto acenou com a possibilidade de entregar à sigla de Kassab o controle de dois ministérios, com o objetivo de assegurar o apoio de suas bancadas no Congresso e seu engajamento na campanha da presidente à reeleição.
Kassab disse a Dilma que continua disposto a apoiá-la, mas decidiu que não fará nenhuma indicação por enquanto. "Não teria sentido integrar o governo agora. Vamos manter nossa independência, mas apoiando o governo em tudo que for bom para o país", afirmou.
Com o gesto, Kassab ganha tempo para observar o cenário político e fica com as mãos livres para eventualmente fazer outras composições, num momento em que o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), ameaça romper com o governo para se candidatar à Presidência.
Há dois anos, quando se preparava para lançar o PSD, Kassab e Campos chegaram a discutir a possibilidade de uma fusão com o PSB no futuro. O governador de Pernambuco ajudou a organizar o partido em alguns Estados.
O ex-prefeito nega que o recuo em suas negociações com o governo tenha algo a ver com a provável candidatura presidencial de Campos. "O partido caminha, em sua maioria, para apoiar a presidente em 2014", afirmou Kassab.
Ao recusar-se a indicar nomes do PSD para o ministério, o ex-prefeito deixou uma porta aberta ao dizer a Dilma que o partido não vai se opor se ela quiser nomear alguém filiado à sigla para sua equipe em "caráter pessoal".
A ressalva permite que a presidente mantenha em seus planos o vice-governador de São Paulo, Guilherme Afif Domingos, que é do PSD e está cotado para assumir a recém-criada Secretaria da Micro e Pequena Empresa.
Nos últimos dias, Dilma chegou a cogitar a possibilidade de indicar um aliado de Kassab para a Secretaria da Aviação Civil, que também tem status de ministério. Com o recuo dele, a pasta deverá ser entregue ao PMDB, o maior dos partidos aliados a Dilma.
O ministro Moreira Franco, que hoje chefia a Secretaria de Assuntos Estratégicos, deve ser transferido para a Aviação Civil. A presidente deve anunciar as mudanças no ministério na próxima semana.
Também contribuiu para o recuo de Kassab a falta de consenso dentro do seu partido. Os dois governadores do PSD, Raimundo Colombo (SC) e Omar Aziz (AM), são contrários à aliança com os petistas.
Há resistências pontuais também nas bancadas no Congresso. Muitos integrantes do PSD saíram de partidos de oposição, e Kassab teme defecções se assumir compromissos com o governo agora.
Colaborou Natuza Nery, de Brasília
Fonte: Folha de S. Paulo
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