Caio Junqueira
BRASÍLIA - O ex-governador de São Paulo José Serra disse a um interlocutor em sua casa nesta semana que a presidência do PSDB é o único cargo que lhe interessa para continuar no partido e compor com o senador Aécio Neves (MG).
A outro interlocutor não disse isso tão expressamente, mas deixou claro que nem a presidência do Instituto Teotônio Vilela (ITV), o órgão de estudos do partido, nem a secretaria-geral, interessam-lhe. Serra considerou "uma ofensa" o papel secundário que tentam lhe conferir no processo de definições internos. Vai constantemente ao apartamento do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) para reclamar disso.
E soube que nem esses dois cargos estavam em vista para ele. As articulações atuais apontam para o atual presidente do PSDB, Sérgio Guerra (PE), ser deslocado para o ITV. A secretaria-geral irá para um deputado federal. Primeiramente, era para o ex-líder da bancada Duarte Nogueira (SP). Mas o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, indicou Nogueira para a presidência do diretório paulista do partido. O nome mais cotado, então, passou a ser o do também ex-líder e deputado federal Bruno Araújo (PE).
Foi diante dessa composição formulada pelos aecistas para a convenção nacional de maio, e que o excluía da cúpula do partido, que Serra passou a cogitar se lançar presidente do partido. Sob pena de deixá-lo se não for atendido. Como o Valor antecipou na edição do dia 8 de março, serristas intensificaram conversas com interlocutores do governador de Pernambuco, o presidenciável Eduardo Campos (PSB). A ideia é fundir PPS com o PMN e, assim, abrir uma brecha para migrações partidárias. Serra seria um dos nomes desse partido novo, que se coligaria com Campos em 2014.
Preocupado com a situação, Aécio ligou para Serra na quarta-feira e agendou uma conversa entre ambos em São Paulo, nesta segunda-feira. Assim, o senador cuidou de antecipar sua ida a São Paulo, já prevista para o dia 25 de março. Teme sair da capital paulista nesse dia sem o que mais precisa para consolidar sua candidatura: o apoio de Serra.
O problema é que os aecistas não abrem mão da presidência do PSDB. Acham que ela é condição necessária para fazer a candidatura Aécio decolar e, evidentemente, temem pelo protagonismo que Serra pode desempenhar nesse papel, atrapalhando os planos nacionais do mineiro.
Por outro lado, Serra sabe que tem votos e recall suficientes em São Paulo para negociar espaço no partido. E de forma indireta sabe que ganhou um aliado nessa empreitada, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB). Com uma reeleição sob risco, Alckmin passou a avaliar a viabilidade de uma candidatura Aécio para sua reeleição. Muitos tucanos do seu círculo avaliam que, para ele, é melhor ter Serra em seu projeto do que Aécio. Daí decorre a demora em anunciar apoio ao mineiro. Mas sua postura teve consequências: foi cobrado diretamente pelos governadores do PSDB nesta semana em Brasília, quando os governadores do país se reuniram para discutir o pacto federativo. Alckmin chegou a ligar para Serra para informar-lhe dessa situação.
Para o governador paulista, porém, quanto mais tempo retardar sua posição, melhor. Alckmin não quer antecipar a sucessão presidencial porque isso prejudica a sua própria reeleição. Não quer entrar em confronto direto com a presidente Dilma Rousseff (PT), nem perder os votos que Serra ainda tenha no Estado. Muito menos romper com o PSB de Eduardo Campos, seu aliado no Estado. Para ele, quanto mais palanques nacionais tiver em São Paulo em 2014, melhor.
FHC tem atuado como bombeiro nesse processo, embora tenha lado: acha que o tempo de Serra já passou e que Aécio precisa se lançar logo. Mas também tem uma avaliação comum com Alckmin e Serra: a de que Aécio pode chegar em 2014, desistir da candidatura presidencial e se lançar ao governo de Minas, outra cidadela tucano sob ameaça do petismo. Trata-se de mais uma avaliação que os paulistas consideram na hora de embaralhar ainda mais a vida de Aécio.
Em mais um sinal claro de que está no jogo, Serra, que esteve ausente do Twitter por 72 dias, voltou a postar mensagens para seus seguidores na noite de quarta-feira, com críticas à desindustrialização do país e ao governo federal. Com pouco mais de 1 milhão de seguidores, o tucano era figura frequente no microblog até ser derrotado na disputa pela Prefeitura de São Paulo em 28 de outubro.
No dia da derrota, escreveu: "Saio desta disputa revigorado e com mais energia do que quando iniciei a campanha. Vamos em frente!". Desde então, Serra estava quieto. O fortalecimento de Aécio trouxe o ex-governador de volta à tona.
(Colaborou Raphael Di Cunto, de São Paulo)
Fonte: Valor Econômico
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