Coligados no Planalto, partidos devem ter palanques diferentes em estados importantes para a reeleição de Dilma
Paulo de Tarso Lyra
Com casamento praticamente confirmado no plano nacional, PT e PMDB vivem em crise conjugal em diversos estados brasileiros. O alerta dado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em entrevista ao Valor nesta semana sinaliza a preocupação com crises graves de relacionamento no Rio de Janeiro, na Bahia e, em um grau mais administrável, no Rio Grande do Sul e em Mato Grosso do Sul. Pernambuco, cujo maior expoente peemedebista é o senador Jarbas Vasconcelos, o litígio já é antigo.
Em conversas internas com seus correligionários, Lula tem demonstrado preocupação especial com o Rio, já que o senador Lindbergh Farias (PT) lançou-se candidato ao governo contra o candidato peemedebista Luiz Eduardo Pezão (PMDB), que conta com o apoio do atual governador, Sérgio Cabral. “Resolvam isso para não chegar a um ponto no qual tenhamos que cometer a mesma violência que cometemos em 1998”, disse Lula a interlocutores, lembrando a intervenção nacional no diretório do PT fluminense para suspender a candidatura de Vladimir Palmeira, para que o partido apoiasse o então pedetista Anthony Garotinho.
O PT, por enquanto, não pensa em impedir a candidatura de Lindbergh. Até o próprio PMDB sabe disso. “Quanto maior a aprovação do governo Dilma no plano nacional, mais o PT vai sentir-se confortável para enfrentar os aliados nas disputas estaduais”, declarou ao Correio o deputado Leonardo Picciani (PMDB-RJ). “Isso é uma característica do PT, e nós consideramos um equívoco esse raciocínio”, prosseguiu o aliado de Cabral.
A situação do Rio é mais grave que a da Bahia, onde PT e PMDB estão rompidos localmente há bem mais tempo, desde que o vice-presidente da caixa econômica federal, Geddel Vieira Lima, brigou com o atual governador Jaques Wagner. A diferença é que as discussões passaram a ser políticas, sem a distribuição de dossiês com acusações de corrupção, como o que ocorreu no Rio no final de semana passado.
No Mato Grosso do Sul, dificilmente PT e PMDB estarão juntos, especialmente após as eleições para a prefeitura de Campo Grande, quando o PT aliou-se ao PP para eleger Alcides Bernal. A tendência é que as duas legendas estejam juntas no ano que vem para apoiar a candidatura de Delcídio Amaral (PT), provavelmente com Zeca do PT na vaga de senador. Por isso, sobra pouco espaço para o PMDB, comandado pelo atual governador, André Pucinelli e que, na eleição de 2010, fechou apoio ao tucano José Serra.
São Paulo
Em São Paulo, embora a situação de PT e PMDB não seja indissolúvel, provavelmente as duas legendas terão candidatos diferentes ao governo estadual. O PMDB trabalha a candidatura do presidente da Federação das Indústrias de São Paulo, Fiesp, Paulo Skaff. O PT tem um leque de opções, todos ministros da presidente: José Eduardo Cardozo (Justiça); Aloizio Mercadante (Educação); Alexandre Padilha (Saúde) e Guido Mantega (Fazenda). “Como todos são ministros, é evidente que uma decisão terá que passar pelo gabinete da presidente Dilma Rousseff”, confirmou o presidente estadual do PT de São Paulo, Edinho Silva.
Edinho concorda com Lula ao afirmar que é preciso cuidado nas alianças para impedir que problemas locais atrapalhem a reeleição de Dilma. “Não podemos ser arrogantes na conversa com possíveis aliados. Mas também não podemos esquecer que nunca tivemos chances tão claras de vitória em São Paulo”, completou Edinho.
Relação é tensa
PT e PMDB são casados oficialmente desde 2010, quando os peemedebistas indicaram o então presidente da legenda, Michel Temer, para ser vice na chapa da candidata à Presidência Dilma Rousseff. Mas é um casamento perigoso, com desconfianças de parte a parte, troca de acusações e ânimos amuados.
O namoro começou para valer em 2007, quando o PT articulou uma aliança parlamentar com o PMDB, baseado em “pontos consensuais de governo”. Mas os peemedebistas sempre reclamaram que são maltratados pelo governo, como menos cargos à disposição do que mereciam por contribuir de maneira tão explícita para a chamada governabilidade.
Em 2002, ainda durante o governo de transição para o primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, o então chefe da Casa Civil, José Dirceu, negociou com Temer a entrada do PMDB no governo petista. Tudo estava acertado mas, na madrugada da véspera do anúncio do novo ministério, Lula surpreenndeu a todos escolhendo uma desconhecida Dilma Rousseff para o ministério de Minas e Energia.
Dentro do próprio PMDB a briga é acirrada. O governador do Rio, Sérgio Cabral, vive uma relação conflituosa com Temer. Ele queria ser o vice-presidente de Dilma, mas sabe que, se Lula tentasse um novo mandato, suas chances seriam maiores.
Fonte: Correio Braziliense
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