Por Raymundo Costa
BRASÍLIA - A fusão do PPS com o PMN, prevista para hoje, desencadeou uma reação em cadeia contrária dos partidos governistas e do Palácio do Planalto. Se tiver sucesso, a fusão entre as duas siglas ameaça alterar o atual equilíbrio das forças partidárias no Congresso, com reflexos diretos na disputa presidencial de 2014.
O partido resultante poderá ter pelo menos 35 deputados, a partir dos 18 que hoje integram as bancadas do PPS (15) e do PMN (3). Mas a abertura da janela permitiria a cerca de 20 outros deputados insatisfeitos, em seus atuais partidos, engrossar o novo partido, que pode se chamar Partido Socialista ou Mobilização Democrática.
Simultaneamente, dois outros movimentos capazes de embaralhar o atual quadro partidário, junto com a fusão do PPS com o PMN, se desenvolvem na Câmara. Um é liderado pelo deputado Paulo Vieira da Silva, que já teria recolhido 300 mil assinaturas para criar o Solidariedade, partido assentado nas bases da Força Sindical. A ideia é quebrar a hegemonia do PT no sindicalismo.
O outro movimento tem à frente a ex-ministra Marina Silva, que na eleição de 2010 disputou a Presidência pelo PV e obteve cerca de 20 milhões de votos. Para criar a Rede da Sustentabilidade, Marina deflagrou um movimento para recolher 500 mil assinaturas de eleitores até outubro - até agora, conseguiu algo em torno de 130 mil autógrafos.
Atento ao que aconteceu na Venezuela nas eleições do último domingo, o governo "colocou as barbas de molho", segundo expressão usada por um petista, e passou a apoiar com entusiasmo o movimento do PT e do PMDB para dificultar a criação de novos partidos.
Até ontem, tinha-se como certo que o partido resultante da fusão do PPS com o PMN serviria para engrossar o tempo, no horário eleitoral, do governador Eduardo Campos (PSB), na eventualidade de sua candidatura à sucessão presidencial ser confirmada. Mas há outros fatores sendo pesados pelos congressistas.
Um deles é que o tucano José Serra seja o candidato presidencial da nova sigla; outro, versão que ganhou corpo no dia de ontem, que Serra na realidade seja candidato a deputado federal. Na prática, isso significaria o interesse do novo partido em eleger uma grande bancada, em São Paulo, e que o tucano sairia do PSDB levando consigo a ala serrista do partido, o que significaria um baque na candidatura do senador Aécio Neves (MG).
A hipótese de Serra deixar o PSDB - o que ele nega com veemência - e migrar para uma nova sigla explicaria por que o PSDB tende a apoiar o projeto do deputado Edinho Araújo (PMDB-SP) que impede acesso ao horário eleitora e ao fundo partidário, em 2014, aos partidos que forem criados ainda nesta legislatura. A rigor, interessaria ao PSDB o maior número de candidatos possível, na eleição presidencial, para tornar mais fácil a realização de um segundo turno.
Se vingar, o novo partido será criado a toque de caixa, justamente para driblar o projeto de Edinho Araújo. A previsão para a fusão entre as siglas era o meio do ano, mas os planos foram acelerados por causa da tentativa do presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves, de votar já o projeto Edinho Araújo. Henrique Alves é do PMDB, que, a exemplo do PT, é favorável à proposta. O PSD, sigla que serve de inspiração aos deputados insatisfeitos em seus partidos, abriu questão - na prática, faz campanha contra, pois também está ameaçado de perder uma dezena de deputados.
A nova sigla nasce dividida, especialmente em razão da ação desencadeada pelo governo e os governistas. O líder do PMN na Câmara, deputado Dr. Carlos Alberto (RJ), diz que só foi avisado de véspera da convenção, realizada ontem à noite, para decidir sobre a fusão com o Partido Popular Socialista, o PPS, sucedâneo do antigo Partido Comunista Brasileiro (PCB), o histórico "Partidão".
"Sou contrário a uma fusão decidida de cima para baixo", disse o deputado ao Valor. Na sua opinião, o novo partido já nasce como legenda de oposição a presidente Dilma Rousseff e a intenção de apoiar a candidatura do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, a presidente. "Não podemos ser contra a presidente, ela tem projetos bons que merecem o nosso apoio".
O líder do PMN entrou na política pelas mãos do governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), aliado do governo federal. Do gabinete do governador partiu um comando contrário à fusão, mas nem Dr. Carlos Alberto, que é o nome parlamentar do deputado, acredita mais nessa hipótese. As digitais de Serra na criação do novo partido também podem ser vistas nas articulações do vereador Raul Jungmann (PE). Formalizada, a fusão deve juntar no PMN o deputado Roberto Freire, de origem e ampla biografia no "Partidão", e a oligarquia de Joaquim Roriz, ex-governador do Distrito Federal: sua filha, Jaqueline, é uma das integrantes da bancada do PMN.
Fonte: Valor Econômico
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