A política guarda alguma semelhança com a máxima segundo a qual na natureza nada se perde, tudo se transforma.
O ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva parece preocupado. Num livro recém-lançado, ele faz uma recomendação ao seu partido: "O PT precisa voltar a acreditar em valores que a gente acreditava e que foram banalizados por conta da disputa eleitoral".
O que tem feito o PT nos últimos anos? Aproxima-se cada vez mais de quem um dia abjurou. Em 2012, Lula foi até a mansão de Paulo Maluf. Deixou-se fotografar alegre abraçando o antigo adversário. Ao lado, a tiracolo, Fernando Haddad --então candidato e depois vitorioso na disputa pela Prefeitura de São Paulo.
Amanhã, Dilma dará posse ao seu 39º ministro, Guilherme Afif Domingos, na Secretaria da Micro e Pequena Empresa. Nesse caso, o próprio Afif tem uma coleção de frases ácidas contra Lula, Dilma e o PT. Mas será agora recebido no aconchego do petismo de raiz.
É compreensível a atitude do PT. Depois de perder três eleições presidenciais seguidas, o partido e Lula perceberam que só havia um caminho para o sucesso dentro do modelo brasileiro de democracia representativa. Teriam de fazer alianças com o "establishment" mais conservador, do centro para a direita, sob pena de nunca chegar ao poder. E assim foi.
Em 2003, Lula se aliou ao antigo PL (hoje PR), do deputado federal Valdemar Costa Neto, condenado no julgamento do mensalão exatamente por causa de um acerto à época em que o PT chegou ao Palácio do Planalto.
Não custa dizer que o PMDB (quando foi poderoso) e o PSDB (ao ficar oito anos no comando do país) também seguiram a mesma cartilha agora adotada "con gusto" pelo PT. O processo de assemelhação é cada vez mais evidente na política brasileira. Tudo vai se transformando, quem diria, numa grande Arena.
Fonte: Folha de S. Paulo
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