Maior rebelião está em Minas Gerais, onde oito deputados estaduais, além de um federal, querem sair
Germano Oliveira
SÃO PAULO — Pouco mais de uma dezena de deputados ameaçam deixar o PSD, presidido pelo ex-prefeito Gilberto Kassab, descontentes com o fato da direção do partido ter anunciado que a tendência é a de apoiar a reeleição da presidente Dilma Rousseff. Muitos desses deputados desejam que o partido não apoie os candidatos do PT também para governador nos estados. Ameaçam rumar em direção dos partidos como o da Mobilização Democrática (MD) ou até mesmo do Solidariedade, partido que o deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho (PDT-SP), está patrocinando. Não há uma unidade no caminho que os deputados devem seguir. Uns falam em ir para o PSDB e apoiar a eleição do senador tucano Aécio Neves para presidente, outros dizem que podem apoiar a candidatura do governador Eduardo Campos (PSB) e, por último, tem os que podem ficar no PSD simplesmente e não apoiar Dilma como pede Kassab, dedicando-se só aos candidatos nos Estados. Esses, podem mudar de ideia e apoiar Dilma, desde que recebam cargos no governo federal, já que até agora o partido levou a Secretaria da Pequena Empresa, com Guilherme Afif Domingos, mas os deputados que integram o PSD não se sentem contemplados com cargos. Ou seja, ganharam o ministério, mas nada levaram. Kassab nega o racha no partido e minimiza as dissidências.
— Tem deputado falando demais. Dizem que vão sair, mas ninguém sai. Eles tem os motivos deles, tem problemas a contornar nos seus estados. Os mineiros que falam em sair agora, são os mesmos que no ano passado foram para a Justiça para adquirir o direito de apoiar a candidatura do prefeito Márcio Lacerda (PSB) enquanto que nós do Diretório Nacional queríamos que que o PSD de Minas apoiasse o PT do Patrus Ananias. É esse mesmo grupo que agora quer apoiar o Aécio e nós, a grande maioria do partido, quer apoiar a presidente Dilma. Não tem crise e nem rebelião — disse Gilberto Kassab ao GLOBO na noite desta segunda-feira.
O foco principal da rebelião está em Minas Gerais. Segundo o deputado estadual Gustavo Valadares (PSD), há um grupo de oito deputados estaduais, além de um federal, Alexandre Silveira (PSD-MG), que já manifestaram desejo de deixar o PSD, caso a direção nacional insista em abraçar o PT e não os tucanos.
— Desses oito, seis querem que o PSD embarque na candidatura de Aécio para presidente e o candidato do PSDB para governador, muito possivelmente o Alberto Pinto Coelho, atual vice do governador Antonio Anastasia. Pelo que sabemos, só dois deputados querem que a gente vá para a campanha da Dilma e a do Pimentel (Fernando Pimentel, ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, candidato a governador de Minas Gerais pelo PT) — disse o deputado Gustavo Valadares.
Ele não esconde que a crise do PSD em Minas é grande.
— Que tem rebelião, tem. Nossa vontade é que a gente possa ficar no PSD mesmo e que essa discussão vá para a convenção, vencendo quem tiver mais voto. Nesse caso, isso só vai estar em discussão lá para junho do ano que vem. Ainda falta muito tempo até lá. O risco é o Solidariedade do Paulinho e o Rede da Marina Silva consigam registro, pois nesse caso muita gente pode ir para lá. Precisa se analizar também se juridicamente dá para ir para o PSDB na janela a ser aberta para mudanças partidárias. Nesse caso, os que precisam disputar eleição no ano que vem vão ter que que se mudar até setembro — disse o deputado.
O deputado federal licenciado Alexandre Silveira (PSD-MG), atual secretário de Assuntos Metropolitanos do governador Anastasia, é outro que está com um pé fora do partido caso Kassab consiga mesmo levar o partido para o colo de Dilma.
— Nosso grupo vai de Aécio — sacramenta Silveira, que tem lembrado ser ainda muito cedo para definir se o grupo fica no PSD ou vai para qualquer outra sigla. Mas uma coisa eles já sabem: irão com qualquer candidato que seja contra a mineira Dilma e contra o PT de Pimentel.
De todas das opções para esse grupo, as mais viáveis, segundo esses deputados mineiros, seria a adesão ao MD, pois o Solidariedade de Paulinho ainda não está constituído e há os que duvidam que consiga. Segundo Kassab, que criou o PSD em menos de um ano, a toque de caixa, dificilmente o partido Solidariedade de Paulinho conseguirá se viabilizar até outubro, prazo máximo para cumprir todas as exigências da legislação brasileira. O presidente do Solidariedade, Marcílio Duarte, já criou diretórios em seis estados e ainda precisa criar em outros três até setembro, além da conferência na Justiça Eleitoral das 500 mil assinaturas colhidas para a formalização do novo partido. Até o dia 4 de outubro tem que estar tudo sacramentado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
— Eu não acredito que o Solidariedade conseguirá se legalizar a tempo de disputar as eleições do ano que vem. E não sei se esse grupo tem tanta credibilidade assim para tirar os deputados do PSD e levar para eles. Acho que eles não conseguem — disse Kassab.
— Kassab tenta impor a reeleição da presidente para nós. Ele já fechou com a Dilma e aqui não tem como a gente subir no palanque do Pimentel, assim como não podíamos ter subido no do Patrus no ano passado — disse Valadares.
Mas a crise não é restrita a Minas. Em São Paulo, o deputado Roberto Santiago (PSD-SP) também tem dito que vai deixar o PSD, porque entende que se o partido tem Afif no ministério, e o partido apoia o governo petista. Para ele, os integrantes do partido também teriam que ter uma contrapartida, com cargos no governo. Por outro lado também não quer sair de um partido simplesmente, de mão abanando, pois já tem, no PSD, legenda e vaga garantida para disputar as eleições no ano que vem.
— Já me elegi duas vezes deputado federal pelo PV, de onde sai para vir para o PSD. Fiz 60 mil na primeira eleição (2006) e 67 mil (2010) na segunda vez. Eu tenho que representar no Congresso meus eleitores, que são os catadores de lixo e varredores de ruas nas cidades, entre outras coisas. Mas não posso correr o risco de mudar de partido sem condições legais de disputar as eleições do ano que vem e ficar sem mandato para representar o meus companheiros — disse Santiago ao GLOBO, que é presidente da Confederação Nacional e da Federação de São Paulo dos Trabalhadores em Empresas de Asseio e Conservação.
Kassab, contudo, nega qualquer crise ou rebelião e acha que Santiago fala muito em sair, mas não deixa o PSD.
— Não se trata de mais cargos para esses deputados. Se eles quisessem cargos, a gente conseguiria. Acontece que o partido já decidiu que vai apoiar Dilma agora sem cargo algum em troca. Não queremos essa política do toma-lá-da-cá. O Afif foi para o ministério porque a presidente Dilma o quis ao seu lado na luta por melhorias para as micro e pequenas empresas. Quanto aos mineiros, essa situação já aconteceu no caso do Patrus Ananias e vai se repetir novamente agora, porém tudo dentro da normalidade democrática. Se saírem não vai haver crise alguma no PSD — disse Kassab.
Fonte: O Globo
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