Este não é o melhor momento para manobras radicais, guinadas bruscas ou decisões de peso que alterem o rumo da vida política de qualquer um, muito menos do candidato favorito para vencer eleições majoritárias, melhor situado e com mais recursos. É um momento nebuloso do calendário eleitoral, hora de pisar leve e evitar turbulências.
Estamos em junho, o primeiro semestre praticamente no fim, julho é um mês de férias, meio parado, de negociações nas bases eleitorais. A volta à proximidade das decisões, em agosto, já colocará a todos na circunstância de enfrentar o compulsório setembro, quase outubro, quando todos se defrontarão com o prazo de filiação partidária para as eleições do próximo ano, a arrumação, o novo partido, a refiliação ou filiação a ele, de forma que, dentro de três meses, as eleições de 2014 ficarão melhor delineadas. Portanto, estamos às vésperas de ter as principais perguntas sobre a sucessão presidencial e as disputas estaduais, alianças e reforços, respondidas.
O calendário responderá a isso até meados do segundo semestre. Não foi por essa evidência, porém, denotando óbvia perda de tempo e desgaste dispensável, mas por pesquisas que apontavam problemas sérios na candidatura de Dilma Rousseff à reeleição, que a intensidade da disputa mudou.
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A refrega, com o entusiasmo e o nervosismo que vinha crescente, entrou em compasso de espera por algum tempo. Primeiro, por obra do campo adversário do PT. O partido se fixou na candidatura Eduardo Campos, do PSB, para demoli-la, tentou de todas as formas demovê-lo precocemente da disputa e forçar sua aliança com Dilma. Mobilizou a divisão interna, incentivou os dissidentes do governador de Pernambuco, pautou a campanha dos adversários mas a cautela de Campos preponderou. Adiou, desde o início da discussão, suas definições para o ano que vem, foi baixando o tom e a bola, e agora quem ficou sem escada foram os renitentes da campanha contra.
Não são conhecidas as pesquisas, internas, que exigiram mudança na postura da candidatura petista à sucessão presidencial, portanto não se pode explicar as revelações contidas nos resultados, mas já serviram para frear a avalanche de atos de campanha que estavam dominando a ação do governo.
A antecipação da campanha da presidente como candidata à reeleição, além de paralisar o governo, colocou-a exposta às intempéries do que faz movimento no eleitorado: a economia.
Conflitos de terra, massacres, gestão ineficiente, maus tratos em pronto-socorro, greve no serviço público, tudo isso influencia os índices de popularidade se forem fatos negativos com permanência prolongada ao eleitorado. Criam um clima negativo, que ajuda a transmitir a ideia de inação do governo, baixa qualidade da administração.
Mas o que mexe de fato com o humor da população, com seus sentimentos, são os resultados negativos da política econômica. Principalmente a inflação e o desemprego.
Como não tem desemprego, mas há uma inflação que se traduz em alta de preços de produtos importantes, inclusive da cesta básica, que atingiu principalmente os baixos salários e as mulheres, como teria indicado a pesquisa de que o governo tem posse, essa seria a razão da inflexão na curva descendente de avaliação da presidente e do governo.
A candidata à reeleição teria não apenas apoiado o Banco Central na decisão de elevar os juros acima da expectativa como recomendado que seu presidente, Alexandre Tombini, desse demonstrações claras, em entrevistas a "Veja", "Folha de S.Paulo" e "Jornal Nacional" da TV Globo, que estava no comando da política de controle firme da inflação.
O adversário Eduardo Campos já estava recolhido, desconhecendo provocações, mas o adversário Aécio Neves, do PSDB, aproveitou o discurso que lhe foi oferecido gratuitamente pelo governo que acusou de leniência com a inflação que atinge e prejudica os mais pobres. Por mais de mês o provável candidato do PSDB à disputa com Dilma teve o que dizer não apenas na convenção que o elegeu para presidir o partido, como na série de programas do horário eleitoral gratuito que se seguiu à sua investida no cargo. Aécio vem falando aos que estão na faixa onde a implosão do poder aquisitivo é mais cruel.
O tema do recrudescimento da inflação sensibilizou o eleitorado, obrigando o tempo eleitoral, sobretudo o do governo que pretende reeleger-se, a adequar-se ao calendário.
A candidata Dilma tem aparecido ao eleitorado com uma campanha mais discreta agora, menos agressiva do que a conduzida até maio. Como, aliás, já estava o candidato Eduardo Campos, que insiste ser este um problema para 2014. O candidato Aécio Neves aproveitou a deficiência do governo para erguer seus primeiros motes eleitorais. E a candidata Marina Silva, ainda concentrada na formação do seu partido, avançou bastante na tarefa adequada ao momento, pois tem limites de prazo.
Só para a candidata favorita, com os melhores instrumentos e navegando até agora em mar absolutamente calmo, a antecipação da campanha, uma iniciativa do seu partido e do seu padrinho político e eleitoral, não funcionou. Talvez porque essa seja uma estratégia boa para quem está sem mandato, fora do cargo, especialmente do Executivo. A chefe do governo, apenas na metade do mandato, tem um país a conduzir, um projeto de governo a executar. Os riscos para sua reeleição são a inflação, o desemprego, as greves, a inépcia de alguns órgãos de governo que trabalham no limite da incompetência. Situação diferente daquela que tinha quando foi lançada candidata a presidente, no primeiro mandato, quando esses problemas não estavam na sua caixa de responsabilidades.
Em quatro meses o ex-presidente Luiz Inácio da Silva foi de lançador precipitado da candidatura Dilma, para afastar desde logo a especulação sobre sua própria candidatura em 2014, ao posto de novamente candidato diante do estrago verificado na gestão do governo. Era, no fim e ao cabo, o que todos queriam?
Fonte: Valor Econômico
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