Ângela Paiva, da PUC-Rio, diz que é difícil entender razões da revolta
O barulho das ruas em São Paulo e Rio de Janeiro provoca mal-estar na academia. Em meio às pedradas e bombas de gás lacrimogêneo dos protestos, os especialistas tentam entender o que está acontecendo. A socióloga Ângela Paiva, professora da PUC-Rio que pesquisa os movimentos sociais, reconhece que o aumento das passagens de ônibus é razão suficiente para a indignação de quem sofre para pagá-las. Mas lamenta e estranha que os líderes tenham recusado o diálogo, preferindo apostar no confronto.
Ângela não está segura de que o valor das tarifas seja a única razão para os tumultos. Ela reconhece que as cenas de protesto fazem lembrar uma famosa cena de "Tempos Modernos", filme de Carlitos. O protagonista, desempregado, vê cair do caminhão uma bandeira vermelha. Carlitos a pega e tenta devolvê-la, acenando para o motorista. Um grupo de trabalhadores, quando o descobre agitando a bandeira, passa a caminhar atrás, fazendo-o liderar involuntariamente um protesto.
- Às vezes, parece coisa de rebelde sem causa. Ele se esgota em si mesmo. Normalmente, um ato de protesto busca o diálogo. Quem protesta quer conversar com que pode resolver as coisas. O prefeito concordou em conversar, mas eles não quiseram. Está difícil de entender. Afinal, não estamos vivendo numa ditadura - disse.
As cenas de rua mostradas pela TV, disse a professora, lembraram as pessoas atrás de Carlitos ou de Forrest Gump, o contador de histórias interpretado por Tom Hanks. Para ela, o Brasil vinha sofrendo de uma espécie de defasagem de protesto, já que vai às ruas desde a Velha República apenas por situações pontuais:
- Depois da Era Collor, houve uma espécie de refluxo, embora não faltem motivos para se protestar. A crise do ensino público é um deles. Os estudantes têm potencial para ir às ruas. O que me preocupa agora é o grau de violência com que isso está sendo feito.
Ângela Paiva não sabe a quem dirigir a crítica pela recusa ao diálogo. A parcela da sociedade mais penalizada com o aumento das passagem, suspeita, não é a mesma que está convocando os manifestantes para se rebelar. A socióloga acredita em outro tipo de articulação, que passa pelas redes sociais e parte de pessoas "com mais escolaridade". Para ela, o problema é a postura. Considera uma lástima que as pessoas protestem não para se entender, mas para continuar atirando pedras.
Fonte: O Globo
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