Para Vannuchi, da Comissão de Direitos Humanos da OEA, governo está dividido na questão indígena
Em fala a emissora ligada à CUT, petista coloca em dúvida compromisso de Dilma com 'os mais pobres'
SÃO PAULO - O ex-ministro da Secretaria de Direitos Humanos no governo Lula, Paulo Vannuchi, disse ontem que a equipe da presidente Dilma Rousseff está dividida na questão indígena e que a ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, está "visivelmente" alinhada com os fazendeiros.
Recém-eleito para compor a Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA (Organização dos Estados Americanos), Vannuchi afirmou ainda que Gleisi deu declarações "praticamente exigindo a demissão da presidente da Funai, Marta Azevedo, [...] um problema porque se costuma manter respeito às diferentes áreas de atribuição [dentro do governo]".
A Funai é vinculada ao Ministério da Justiça, cujo titular é o ministro José Eduardo Cardozo. No último dia 7, Azevedo pediu demissão alegando problemas de saúde. Sua saída ocorreu uma semana após a morte do terena Oziel Gabriel em Sidrolândia (MS).
As declarações de Vannuchi em meio às discussões no governo acerca de novo modelo de demarcação de terras indígenas foram veiculadas pela "Rádio Brasil Atual", emissora ligada à CUT (Central Única dos Trabalhadores).
"Visivelmente, a ministra-chefe da Casa Civil [Gleisi Hoffmann], com seu poder de coordenação interministerial, tem se alinhado sistematicamente com o ponto de vista dos fazendeiros", disse ele.
"Ela (Gleisi) é do Paraná, região onde essa agricultura, a agroindústria, é muito desenvolvida, os fazendeiros são muito fortes. Ela é provável candidata a governadora do Paraná no ano que vem."
Divisão
Na opinião de Vannuchi, o ministro Gilberto Carvalho (Secretaria Geral) e a ministra Maria do Rosário (Direitos Humanos) estão "espremidos".
Carvalho, segundo Vannuchi, por "seu vínculo histórico com os movimento sociais". Rosário, disse, porque é "a quem cabe defender exatamente os direitos de todos os segmentos vulneráveis".
Dilma, segundo Vannuchi, "está se vendo na necessidade de arbitrar" a disputa interna. No final de sua intervenção na qual é apresentado como analista político da emissora, ele afirmou que "a divisão [dentro do governo] deixa a população indígena sem saber se o governo Dilma segue realmente seu compromisso histórico de alinhamento com os mais pobres".
Depois de falar sobre a importância da produção agrícola para o país, ele finalizou dizendo que ela "não pode ser feita sobre cadáveres da população indígena".
Gleisi afirmou ontem, por meio de sua assessoria, que sua posição não é pessoal, mas "de governo".
Segundo ela, "há uma orientação expressa da presidente Dilma de tornar os critérios de demarcação de terras mais claros e disciplinados, para que haja mais segurança jurídica nessas e em futuras disputas de terra.
Fonte: Folha de S. Paulo
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