O quarto protesto em apenas uma semana contra o aumento das tarifas do transporte público, em São Paulo, impressionou pelas cenas de violência. De um lado, manifestantes furando bloqueios, pichando muros, fazendo barricadas, ateando fogo ao patrimônio público, apedrejando agentes de segurança. De outro, a tropa de choque da Polícia Militar reprimindo com armas não letais — cassetetes, sprays, gás lacrimogêneo e bombas de efeito moral. Até as 23h30 de ontem, 149 pessoas foram detidas, acusadas de dano, incêndio, desacato e até formação de quadrilha. A passeata reuniu, segundo a PM, 5 mil manifestantes, que saíram no fim da tarde de ontem do Theatro Municipal, no centro, com o objetivo de ocupar a Avenida Paulista, coração financeiro e principal ligação entre o sul e o norte da cidade.
Organizada pelo Movimento Passe Livre, a manifestação pede que o preço da passagem dos ônibus municipais, metrôs e trens metropolitanos se mantenha em R$ 3. No início do mês, o valor foi reajustado para R$ 3,20. O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, reafirmou, ontem, que não fará qualquer alteração nas tarifas. Ele disse que o reajuste (6,7%) ficou abaixo da inflação. O governador do estado, Geraldo Alckmin, sinalizou com a mesma postura em relação a uma eventual redução dos preços das passagens: “Não há possibilidade”. Ambos têm se recusado a negociar com os manifestantes devido aos excessos. “Considero legítima toda e qualquer forma de manifestação e expressão. O que a cidade repudia é a violência”, criticou Haddad.
Por volta das 16h, os manifestantes começaram a se concentrar em frente ao Theatro Municipal, na região central de São Paulo. Antes mesmo de a passeata começar, pelo menos 10 pessoas já haviam sido detidas. Policiais abordavam os grupos que se preparavam para engrossar o protesto, revistado mochilas e bolsas. A estratégia da polícia era impedir que os manifestantes chegassem à Avenida Paulista — palco dos tumultos da última terça-feira. Os poucos conseguiram furar o bloqueio foram reprimidos pela PM. Os principais confrontos entre os agentes de segurança e os manifestantes ocorreram nas ruas que davam acesso à Paulista, principalmente na Augusta e na Consolação. Pelo menos 50 pessoas, incluindo policiais, foram atendidas em um posto de emergência médica montado em um centro cultural. Muitas ficaram feridas, entre elas jornalistas. Repórteres chegaram a ser atingidos por balas de borracha.
No início da noite, o major Lídio Costa Junior, do Policiamento de Trânsito da PM, admitiu que a situação havia saído do controle, ao afirmar que não poderia mais se responsabilizar pelo que aconteceria. Do lado dos manifestantes, as queixas eram de truculência policial e provocação. Eles reclamavam de bombas de gás lacrimogêneo que teriam sido lançadas pela polícia dentro do campus Consolação da Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP). Alguns motoristas que ficaram parados nas ruas tomadas pelo protesto trancaram os carros e saíram a pé pelo meio da confusão.
Anistia critica
O ministro José Eduardo Cardozo afirmou que o governo federal está à disposição de São Paulo para o que for necessário. Ele condenou os protestos, classificando como “lamentável” a prática de atos de violência e vandalismo por parte dos manifestantes. Por outro lado, a Anistia Internacional manifestou, em nota, preocupação com o aumento da violência na repressão aos protestos no Rio de Janeiro e em São Paulo. “Também é preocupante o discurso das autoridades sinalizando uma radicalização da repressão e a prisão de jornalistas e manifestantes”, ressaltou o comunicado. A entidade destacou também ser “contra a depredação do patrimônio púbico e atos violentos de ambos os lados”. Por volta das 21h30, o tráfego na Avenida Paulista, que havia sido interrompido, foi liberado pela PM.
Fonte: Correio Braziliense
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