Dilma parecia simpática ao conseguir passar a mensagem de que combatia os maus políticos, que a pressionavam além do limite do suportável. Agora, ao tomar decisões sozinha, sem a pressão de partidos aliados, a presidente assume todos os riscos e equívocos
Até ser desconstruída, a imagem de Dilma Rousseff era a de alguém sem disposição para o blá-blá-blá político e, por isso mesmo, vítima das pressões e insatisfações de raposas partidárias. Assim, era impossível não ter pelo menos uma ponta de simpatia pela petista, mesmo quando ela, por pura falta de jeito, perdia o controle das negociações com a base aliada. Depois dos protestos, o tal retrato presidencial quebrou. Todas as decisões e equívocos pós-manifestações foram da própria Dilma, sem a tensão dos parlamentares cascas grossas — leia-se peemedebistas, na maioria. Ela tomou medidas e elaborou discursos cercada dos auxiliares mais próximos, sem dar ouvidos aos caciques das legendas, incluindo aí o próprio vice-presidente Michel Temer. Apenas depois do discurso de Dilma os “profissionais” dos partidos começaram a agir, propondo a reforma paralela e confundindo o Planalto.
A série de erros de Dilma começou no encontro com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em São Paulo, no último dia 18, e continua até hoje. O contraponto — o que seria a chance de reabilitação da presidente em relação à base no Congresso — está nas derrapagens dos peemedebistas ao se envolverem em escândalos sequenciais, como foi o caso do presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves, ao dar carona para parentes e agregados no avião da FAB. A seguir, uma lista de erros de Dilma e a chance do troco, que pode vir a qualquer momento:
A corrida para Lula
No primeiro momento da crise, Dilma procurou os conselhos de Lula e do marqueteiro João Santana. Em vez de reunir a cúpula da Esplanada para tratar de interesses nacionais, buscou a receita político-eleitoral para enfrentar a crise. Deixou a imagem de ter dificuldades em ler cenários políticos, precisando de ajuda fora do ministério. O maior problema aqui é que, se Lula ou Santana deram algum conselho positivo a Dilma para enfrentar as manifestações, ela esqueceu e não o colocou em prática.
A primeira entrevista
Apenas quem estava torcendo para o fim das manifestações teve esperança de que o pronunciamento da presidente em cadeia nacional ajudasse a estancar os protestos. O discurso de Dilma, feito no último dia 21, foi extremamente burocrático, duro. Até aquele momento, não existia qualquer pesquisa sobre a popularidade dela depois das primeiras manifestações, mas o aparecimento da presidente na teve pode ser considerado o marco do início da queda, quando ela colou os protestos na própria imagem.
Os médicos de fora
Quem sofre sem atendimento mínimo nas cidades do interior do país bem que poderia ser ouvido sobre a proposta de importar médicos. O problema do governo não foi o de bancar a medida, mas anunciá-la com estardalhaço, no meio de um pacote de ações de resposta às manifestações. O item, em vez de servir como opção para melhorar o atendimento das populações carentes, apenas trouxe dor de cabeça para Dilma. Até agora, não se sabe a razão da pauta dos médicos entrar no pacote antimanifestações.
O padrão-Felipão
Tudo que Dilma deveria ter evitado era fazer piadinhas sobre futebol. Depois de ser vaiada no estádio de Brasília, a presidente teve medo de ser hostilizada uma segunda vez, no Rio de Janeiro, na final da Copa das Confederações, criando uma barreira psicológica para os próximos grandes eventos. Um dia depois de evitar aparecer ao lado de uma seleção vencedora, mesmo que corresse o risco de ser vaiada de novo, a presidente resolveu voltar ao futebol e disse que o governo era “padrão Felipão”. Acabou sendo motivo de todas as piadas.
A ideia do plebiscito
Mesmo com todos os alertas de que será impossível preparar um plebiscito sobre reforma política até o início de outubro, Dilma insistiu — e insiste — na ideia, desautorizando até mesmo o vice-presidente Temer. O problema é que a presidente apenas se desgasta com um tema boicotado pela própria base aliada.
A grande chance
A 16 meses da eleição, o maior adversário de Dilma, hoje, é o PMDB. Os caciques do partido, entretanto, sabem o potencial dos integrantes da legenda para se desgastar com escândalos. Os dilmistas acreditam que a chance de a presidente virar o jogo está na própria fragilidade dos políticos do partido.
Fonte: Correio Braziliense
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