Presidente diz a petistas que já fez a sua parte e pede ajuda do partido para recompor base aliada
Fernanda Krakovics, Catarina Alencastro
Apoio discreto. Dilma se reuniu com o PT e com movimentos do campo: o partido considerou plebiscito secundário
BRASÍLIA - Apesar de o tema ter sido secundário na reunião de ontem no Palácio do Planalto com integrantes da bancada petista na Câmara, a presidente Dilma Rousseff insistiu na realização do plebiscito sobre reforma política já para as eleições de 2014. Dilma afirmou que o governo fez a sua parte e que o assunto agora está com o Congresso. Em uma conversa franca com a presidente, os petistas queixaram-se, por mais de duas horas, da articulação política e da comunicação do governo. Enfrentando a maior crise desde que chegou ao Palácio do Planalto, com sua popularidade em queda e manifestações pelas ruas do país, Dilma teria reconhecido falhas em sua administração e prometido melhorar a relação com a base aliada, que está rebelada. Sobre o plebiscito, passou a decisão para o Parlamento.
- Mandei o que achava que precisava mandar, é a opinião política do governo. Agora, o Congresso decide. É importante fazer para 2014 - disse Dilma, de acordo com deputados presentes ouvidos pelo GLOBO.
Embora a bancada do partido na Câmara esteja dividida e não haja apoio suficiente no Congresso para a aprovação de um plebiscito neste ano com efeito para as eleições do ano que vem, o presidente do PT, Rui Falcão, que participou do encontro, fez nova defesa da proposta. Mas não era o assunto que mais interessava à bancada de deputados, que há meses reclama da falta de atenção da presidente.
- Esse assunto (plebiscito) foi secundário. Ela (Dilma) conhece a posição da bancada, que não dá para fazer (para 2014). O Rui fala que dá para agradar a ela - contou um deputado.
Na saída do Planalto, coube ao líder do PT na Câmara, José Guimarães (CE), fazer um relato da reunião. Disse que a relação do governo com sua base aliada, especialmente com o PMDB, "desafinou" e que a presidente pediu ajuda do PT para tentar "reafinar":
- A presidente pediu apoio do PT na recomposição da base, no diálogo com os partidos, especialmente com o PMDB. O PMDB integra a nossa aliança com os demais partidos e é fundamental a gente afinar a viola. Nós vamos trabalhar para rearticular a base, pacificar a base. A viola desafinou um pouco. E qualquer viola desafinada tem que ser afinada.
Entre os problemas de comunicação apontados pelos petistas está o debate sobre a volta da inflação, explorado pelo pré-candidato do PSDB à Presidência da República, senador Aécio Neves (MG), na televisão. Dilma teria reconhecido que precisa melhorar a comunicação do governo, dedicar-se mais à política e citou o esforço de recomposição da base, citando o PDT, o PTB e o PR, que foram reacomodados em ministérios e em cargos de segundo escalão.
Elogios a Temer
Quanto às turbulências com o PMDB, ressaltadas pelos deputados, Dilma fez uma ressalva em relação ao vice-presidente Michel Temer. Afirmou que Temer tem sido "muito solidário" e que joga junto com o governo. Os petistas pontuaram, no entanto, que ele teria perdido o controle do PMDB.
Diante da preocupação da bancada com os rumos do governo e com a ameaça ao projeto de reeleição, Dilma defendeu sua administração e afirmou que o governo não está em crise:
- Tenho convicção de que temos um patrimônio importante a apresentar ao país. Este não é um governo que está em crise, mas parcela da população que teve acesso à renda quer mais. É preciso melhorar a comunicação com essas pessoas e melhorar a execução dos programas - afirmou a presidente, segundo relatos.
Dentro da agenda de dialogar com todos os setores da sociedade, Dilma dedicou cerca de duas horas ontem aos movimentos do campo, quando ouviu declaração de apoio ao plebiscito da reforma política. Segundo Alexandre Conceição, do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), as organizações do campo participarão das manifestações do próximo dia 11 de julho e defenderão a ideia.
- O recado das organizações do campo foi que nós vamos para as ruas dia 11, para poder fazer paralisação nacional, para rediscutir este país e, sobretudo, para defender o plebiscito. Já que o Congresso e a grande mídia não querem o plebiscito, o povo que foi para a rua está reivindicando mudanças, e a grande mudança passa por um plebiscito popular. Mas que as questões não sejam só de cunho eleitoral, sejam também sobre participação popular. Não nos sentimos mais representados por este Congresso financiado pelo grande capital - disse Conceição. ( Colaborou Luiza Damé)
Fonte: O Globo
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