Anúncio veio logo após julgamento dos recursos do mensalão ser marcado
Carolina Brígido, Demétrio Weber
BRASÍLIA - A oposição elogiou a decisão do Banco Central de liquidar o Banco Rural, mas considerou que ela demorou. Para o senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), a liquidação "quase inevitável, diante das informações que se tinha sobre a situação do banco":
- Espero que não seja só uma exceção em relação ao Banco Rural. Esta deve ser a regra de atuação do Banco Central - afirmou Randolfe.
O líder do PPS na Câmara, deputado federal Rubens Bueno (PR), afirmou que o Banco Central agiu tarde:
- O Banco Rural tinha uma relação incestuosa com o governo e com o PT, partido do governo. Foi o grande arcabouço do esquema do mensalão. Já deveria ter sido fechado há muito tempo - disse Bueno.
O líder do PPS chamou a atenção para o fato de que a decisão do BC foi tomada na semana em que o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Joaquim Barbosa, marcou a data de início do julgamento dos recursos dos 25 condenados, a partir do próximo dia 14 de agosto.
- Por que o Banco Central age dois dias depois que o presidente do Supremo marcou o julgamento? Por que dois dias depois, quando tinha todas as condições de fazê-lo antes? - indagou Bueno.
O vice-presidente da Câmara, deputado André Vargas (PT-PR), disse que a liquidação do Banco Rural não guarda relação com a retomada do julgamento do mensalão, marcada para o próximo dia 14:
- Não acredito nisso. Acho que uma coisa não tem nada a ver com a outra. O Banco Central age tecnicamente.
O Banco Rural ganhou projeção nacional depois do escândalo do mensalão. Segundo o processo, a instituição disponibilizou R$ 32 milhões ao esquema criminoso em 2003, por meio de empréstimos fraudulentos ao PT e às empresas de Marcos Valério. O valor, segundo a acusação do Ministério Público Federal, chegou a R$ 58,9 milhões após as sucessivas renovações que se estenderam até 2005. O Rural também patrocinou a distribuição das mesadas em 2003 e 2004: era em suas agências que parlamentares e assessores sacavam, na boca do caixa, quantias vultosas. Em troca do dinheiro, os parlamentares apoiariam o governo federal em votações importantes no Congresso Nacional.
As denúncias foram confirmadas pelo STF no julgamento do processo, ocorrido ao longo do segundo semestre de 2012. Segundo o processo, a ex-presidente do Rural Kátia Rabello reuniu-se com o então ministro da Casa Civil, José Dirceu, com a intermediação de Marcos Valério, para discutir a liquidação do Banco Mercantil de Pernambuco, na qual o Rural tinha interesse. Em troca, o Rural concedeu os empréstimos fraudulentos que abasteceram o esquema.
Os ex-dirigentes do Rural José Roberto Salgado e Vinicius Samarane teriam usado mecanismos ilícitos para conceder os empréstimos, omitindo os reais riscos financeiros das operações. Kátia teria assinado renovações de empréstimos, mesmo com parecer interno alertando para risco da operação.
- Ao invés de vetar renovação de altíssimo risco, Kátia Rabello, mesmo sem conhecimento técnico sobre o mesmo, aprovou a operação - disse o relator do processo, Joaquim Barbosa, durante o julgamento.
No plenário do STF, o advogado José Carlos Dias, contratado por Kátia para defendê-la, argumentou que sua cliente tinha herdado o banco, embora não tivesse nenhuma vocação para a área financeira. Ele ressaltou que, depois da morte da irmã em um desastre de helicóptero, Kátia foi nomeada para o conselho de administração da instituição, mesmo "sem estar preparada".
O STF concluiu que os empréstimos foram simulados e concedidos em desobediência a recomendações da própria instituição e a normas do Banco Central. O Rural teria emprestado R$ 3 milhões ao PT, R$ 19 milhões à SMPB e R$ 10 milhões à Graffiti. Os empréstimos foram renovados a cada 90 dias pelo Rural até 2005, mesmo sem a apresentação de garantias mínimas por parte dos tomadores.
Fonte: O Globo
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