Parceiro preferencial do PSDB desde a eleição de Fernando Henrique Cardoso, em 1994, a prioridade do Democratas (DEM) para as eleições em 2014 é a eleição das bancadas no Congresso. O senador José Agripino Maia (RN), presidente do partido, até considera natural uma aproximação das duas siglas, pelas afinidades. Mas sua preocupação, no momento, é a eleição de deputados e senadores.
Mais empenhado na eleição para o Senado e a Câmara, no entanto, Agripino demonstra preocupação com o que acontece com o tradicional aliado - desde FHC, o Democratas só não esteve na chapa presidencial do PSDB nas eleições de 2002, quando José Serra foi o candidato tucano. Para José Agripino, a disputa interna do PSDB pode prejudicar a oposição em 2014.
"É um assunto (a disputa entre Serra e Aécio Neves) que deve ser imediatamente resolvido" - diz -, "sob pena de passar para a sociedade que a oposição faz uma disputa personalizada de poder e é incapaz de apresentar uma alternativa programática para o país". É mais uma advertência, pois o DEM só pretende tratar de sucessão em 2014.
Oposição teme efeitos da divisão interna do PSDB
O objetivo nas eleições de 2014 é eleger mais de 40 deputados. Atualmente, o DEM é a sétima bancada da Câmara, com 27 deputados. Está atrás de partidos como o PP (38) e o PR (37). Só perdeu quadros desde que deixou o poder com FHC. Nem sempre por vontade do eleitor. Na eleição de 2010, por exemplo, elegeu 43 deputados. Na trilha aberta por Gilberto Kassab para criar o PSD (45 deputados) perdeu grande parte da bancada. "Foram-se os anéis, ficaram os dedos", afirma Agripino.
A aposta do DEM é lógica. Quanto maior for a bancada que eleger para a Câmara, maior será o tempo de rádio e televisão, na propaganda eleitoral gratuita, e a fatia da sigla no fundo partidário. Por eleger grandes bancadas, o tempo de televisão sempre foi uma forte moeda de troca do DEM desde o tempo em que o partido se chamava PFL.
O auge do Democratas, ainda sob a denominação PFL, ocorreu em 2002, quando elegeu a segunda maior bancada, com 84 deputados. Em 2006, ainda se manteve como a quarta força, com 65 deputados, atrás de PMDB (89), PT (83) e PSDB (66); caiu para quinto, em 2010, e Kassab completou o serviço com a criação do PSD.
No processo, o DEM perdeu 67 segundos de tempo de TV para o PSD. Tempo precioso e que certamente fará falta ma hora de o partido negociar alianças seja para as eleições congressuais, seja para a Presidência da República. No Senado, o DEM está reduzido a quatro senadores, dois dos quais disputam um novo mandato em 2014.
"Crescer congressualmente" é a palavra de ordem de José Agripino Maia. Para tanto, as seções estaduais do Democratas terão "completa liberdade" para negociar as alianças mais convenientes para o partido. "Mantida, evidentemente, a coerência partidária", diz o presidente do DEM. A questão local presidirá a decisão de cada diretório demista, mas José Agripino não deixa de registrar que "a indisposição com o PT é completa".
"Ao contrário do PT, nós queremos um país competitivo com um Estado enxuto", afirma o senador potiguar. No discurso do DEM quer ser antítese do PT: "menor carga tributária, condicionamento para a criação de empresas estatais e o fortalecimento do capital privado". Fundamentos menosprezados pelos governos do PT, segundo José Agripino, o que pode causar graves problemas à economia brasileira, "passada a crise econômica americana e europeia", diz.
Nas contas partidárias, nas eleições para governador o DEM deve entrar com candidatos competitivos em pelo menos cinco Estados: Sergipe, Rio de Janeiro, Goiás, Alagoas e Rio Grande do Norte. Nas eleições municipais de 2012, o Democratas elegeu o prefeito de duas capitais, ambas do Nordeste - Salvador (BA) e Aracaju (SE).
O prefeito de Salvador, Antonio Carlos Magalhães Neto não pretende largar o cargo com apenas dois anos de mandato para disputar a cadeira do petista Jaques Wagner. Quer consolidar o caminho de volta dos Magalhães ao poder na Bahia passo a passo. Mas o prefeito de Aracaju, João Alves Filho, um veterano na política local, deve disputar o governo de Sergipe em 2014.
No Rio de Janeiro o DEM analisa a possibilidade de concorrer com o ex-prefeito Cesar Maia. Em Alagoas é provável que o atual vice-governador José Thomas Nonô concorra no cargo à eleição, pois o governador Teotônio Vilela deve se afastar em abril para disputar uma cadeira no Senado. Sendo candidato à reeleição, Nonô passa a ser um nome forte na disputa, apesar de o PMDB entrar na corrida com o atual presidente do Senado, Renan Calheiros.
Outro nome que o Democratas considera competitivo é o da governadora Rosalba Ciarlini Rosado, do Rio Grande do Norte, apesar de seu fraco desempenho nas pesquisas de opinião pública. De qualquer forma, um candidato disputando no cargo e com o controle da máquina pública nunca deve ser preliminarmente desconsiderado na eleição.
O senador José Agripino vê poucas possibilidades de o DEM se aliar ao PSB do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, ou a Rede Sustentabilidade, partido em processo de criação da ex-senadora Marina Silva. A confluência nos Estados deve ser eventual. No plano nacional, o DEM não ficará nem com Marina nem com Eduardo.
"Há uma tendência de aliança com o PSDB, apesar de haver também divergências", diz o presidente do DEM. Exemplo notório é o de Goiás, onde o partido considera competitiva a candidatura do deputado Ronaldo Caiado, ferrenho adversário do governador Marconi Perillo, um tucano de primeira linhagem no PSDB. Por enquanto, José Agripino quer arrumar a casa e tentar devolver o DEM ao lugar que já ocupou na política recente. A eleição de 2014 pode ser a última oportunidade, pois o que não falta é concorrente para ocupar o espaço da sigla no espectro político.
Fonte: Valor Econômico
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