O ex-presidente deixa claro que o PSDB não quer Serra candidato ao Planalto em 2014, mas, se o partido quer mesmo que o ex-governador fique na legenda, precisa construir algo para segurá-lo
É bom o ex-governador José Serra pensar bastante sobre seu futuro político. Talvez até já tenha feito, mas é líquido e patente que, no PSDB, o curto prazo e os sonhos dele caminham em sentido diametralmente opostos. Serra não é o nome do partido para concorrer em 2014 e, se insistir em cruzar os braços ou buscar outro caminho ainda pode, lá na frente, ser apresentado como o culpado, o responsável por eventuais fracassos. Quem tinha alguma dúvida a esse respeito dissipou-a ao ler ontem as declarações de Fernando Henrique Cardoso sobre as prévias aceitas por Serra. O tema deve entrar em debate na reunião do partido, marcada para hoje, em Brasília.
Antes de desembarcar no Rio de Janeiro, onde foi experimentar o fardão da Academia Brasileira de Letras, o ex-presidente deixou isso exposto nas entrelinhas de uma entrevista que concedeu ao jornal Valor Econômico. Para quem não leu, peço licença para informar que Fernando Henrique é direto ao dizer que a maioria do PSDB está com o senador Aécio Neves. O ex-presidente ainda chama o PPS de “coisa” ao comentar que “não vê sentido em uma pessoa sair de um partido onde sempre esteve, onde construiu sua história e contribuiu para a história do partido, e ir para uma coisa que você não sabe como é, com um ponto de partida frágil”.
Fernando Henrique declara ainda que, se Serra sair — ele (FHC) aposta que Serra fica —, levará poucos aliados. Diz ainda que não há tendência de debandada no PSDB e que “nenhuma liderança importante” acompanhará Serra.
Bem, feito aí um breve resumo da entrevista, vamos literalmente às entrelinhas do que foi lido pelos tucanos e líderes de outros partidos a respeito das palavras do ex-presidente: Se chegou ao ponto de Fernando Henrique dizer tudo o que disse é sinal de que Serra está inclinado a deixar o PSDB e empenhado em ser candidato. Acontece que o PSDB não o quer nessa posição. Os tucanos acham que, fora do PSDB, a tendência é Serra morrer na praia. Fernando Henrique, inclusive, lembra que, mesmo no PSDB, o ex-governador saiu muito na frente na corrida ao Planalto e não ganhou. Cita ainda que a hora é de renovar e que o PSDB é quem tem as melhores condições entre os adversários de Dilma.
Obviamente, Serra não gostou da entrevista de FHC. Até porque faltou ao ex-presidente ali abrir as portas no sentido de “agregar”, ou seja, dar ao ex-governador o discurso da permanência. Afinal, se Serra ajudou a construir o PSDB, seria a hora, agora, de o PSDB lhe estender a mão. Ainda que não seja para a candidatura presidencial, é preciso dar a Serra o discurso da permanência, o que até aqui não aconteceu. E, se não vier a ocorrer, é bem capaz que o ex-governador busque outro caminho, dando a Aécio um problemão que os tucanos não esperavam: mais dificuldades em São Paulo.
Por falar em São Paulo...
Fernando Henrique Cardoso em nenhum momento relata as condições do PSDB no estado que fez dele senador e que é governado pelo partido há quase 20 anos. Ali, no maior colégio eleitoral do país, a situação do PSDB não é das melhores. Não por acaso, tornou-se o estado que os petistas escolheram para investir todas as suas forças na eleição do ano que vem. Basta ver o número de viagens que Dilma tem feito à capital e ao interior paulista. Em princípio, a aposta petista deu certo, uma vez que a presidente demonstra melhorias nos seus índices de aprovação no Sudeste. Mais um sinal de que ou o PSDB organiza sua base ali com Serra, partindo para uma conversa tão franca quanto foi a entrevista de Fernando Henrique, ou o PT pode terminar vencendo a sua aposta.
Enquanto isso, no quintal de Cabral...
O PMDB do Rio definiu janeiro como prazo fatal para o governador Sérgio Cabral deixar o cargo e liberar o território para o vice, Luiz Fernando Pezão, preparar a campanha pela reeleição. Assim, Cabral sai de cena e o partido tenta se reerguer do desgaste, dando a Pezão a oportunidade de se apresentar mais e, ao prefeito Eduardo Paes, a possibilidade de se descolar do atual governador. O PMDB aposta que, se Paes conseguir esse objetivo e se sair do foco das confusões que recaem sobre sua administração, o partido mantém pelo menos um de seus quadros de pé para construir o futuro. Mas essa é outra história.
Fonte: Correio Braziliense
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