Acompanhei as entrevistas dos médicos cubanos que aqui aportaram no programa do governo federal para suprir a falta desses profissionais nas áreas mais carentes do interior do país e das grandes cidades.
É preciso, em primeiro lugar, que a discussão desse programa seja escoimada do viés ideológico que a vinda dos estrangeiros, cubanos em particular, tem provocado. É uma bobagem incentivada pela ideia de que eles estão vindo para promover as teses políticas do regime dominante em Cuba. As declarações dos recém chegados são de que o que os anima a trabalhar no Brasil é o sentimento humanitário com os mais necessitados. Se não é uma verdade, também não é uma mentira. É claro que, em sendo funcionários do governo cubano e mantendo com esse o vínculo profissional, o pagamento de um bônus salarial somado ao que lá recebem é um incentivo para que durante os três anos de trabalho em nosso país possam fazer um “pé de meia”, uma poupança que lhes será útil quando voltarem. Sentimento humanitário somado ao incentivo financeiro é uma atração, uma formula de sucesso.
Trata-se aqui de um projeto político/eleitoral do governo brasileiro para salvar a presidente Dilma e viabilizar seu ministro da Saúde, Padilha, como candidato a governador de São Paulo.
A questão básica, no Brasil, não está apenas na falta de médicos para atender as áreas mais carentes, e não só a elas. As carências estão por toda a parte, visíveis pela insuficiência do atendimento. Está, isto sim, na estrutura do sistema de saúde, na falta de recursos materiais e financeiros e de incentivos para os profissionais do setor. Não será com a contratação dos 15 mil médicos que se pretende – e ainda longe de se obter– nem muito menos com a importação dos 4 mil cubanos, em um país como o nosso que tem mais de 400 mil médicos trabalhando, que a questão será superada.
Ninguém, em sã consciência, pode ser contra a vinda de médicos de qualquer nacionalidade. Sempre serão bem vindos. Mas porque se exige dos estrangeiros, para dar validade ao seu diploma obtido no exterior, um exame para verificação de sua capacitação – o Revalida – e não se exige o mesmo para esses que agora estão chegando? No dia de hoje 1.772 médicos inscritos no Exame Nacional de Revalidação de Diplomas Médicos ( Revalida ) fazem as provas em dez capitais. São médicos que obtiveram o diploma no exterior e querem trabalhar no Brasil. Não se justifica o argumento de que os que agora estão sendo importados, além daqueles inscritos, vão ter um registro apenas provisório de três anos, prorrogáveis por mais seis. Esses devem ter a mesma capacidade profissional que os que obtêm o registro definitivo, já que devem cuidar da vida humana da mesma maneira. A questão do registro é burocrática. O que importa é que sejam capazes, ainda que seja apenas pelos 3 ou 6 anos de trabalho, a executar o seu ofício. A vida pode ser perdida em minutos.
Mas, repito, a questão não é apenas a carência de médicos. É a carência de tudo, na área da Saúde. E não há qualquer ação ampla do governo federal para enfrentar o problema. O que existe é o interesse eleitoral, já exposto na publicidade feita nos meios de comunicação: um cidadão com o sotaque do nosso interior agradecendo aos médicos importados com a frase: “obrigado, dotô”. Existe algo mais explícito? E a tentativa inescrupulosa do ministro de jogar a população mais carente contra os médicos que em nosso país trabalham, com a afirmativa de que esses são contra o povo mais carente.
Uma jogada ousada e perigosa de um governo sem qualquer sentimento de humanidade. Um governo mistificador para o qual a manutenção do poder está acima de qualquer sentido de responsabilidade. Dará certo ou não, o que interessa é mostrar Dilma e Padilha como se fossem sensíveis às agruras do nosso povo. Se der certo, muito bem. Se não, a culpa é das elites médicas, e das oposições é claro, que se opuseram à vontade do governo de bem servir à população.
Vamos enfrentar e esclarecer. A verdade deve prevalecer!
Alberto Goldman, vice presidente nacional do PSDB
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