Algumas coisas na vida não têm conserto. Por mais que se queira refazer, não dá. Vale para bens materiais, como um valoroso vaso chinês. Depois de quebrado, não há cola que refaça a beleza original. É o caso da Câmara dos Deputados e a ideia de nova votação para ser cassado o deputado presidiário Natan Donadon (sem partido-RO). E também da relação do PT com o PMDB; ou de José Serra com o seu partido, o PSDB.
Vamos por partes. Por mais que a Câmara refaça a votação relativa ao caso do deputado Natan Donadon, o fato de os congressistas aceitarem que um condenado permaneça deputado não tem conserto. O máximo que os deputados e senadores podem fazer agora é "trocar o vaso", ou seja, aprovar o voto aberto.
Ocorre que não será tão fácil quanto parece. Os congressistas têm ressalvas ao projeto que institui o voto aberto para vetos presidenciais, porque estarão todos sujeitos à pressão do Poder Executivo em todos os níveis de governo. Também apresentam restrições ao voto aberto para escolha dos integrantes da Mesa Diretora. Esse voto secreto pode até ter ajudado a guindar Renan Calheiros (PMDB-AL) ao cargo de presidente do Senado, mas alguns consideram que impedirá candidatos avulsos a presidente da Casa.
Quanto à cassação de mandato, entretanto, há um grande número interessado em aprovar a proposta logo, apenas para poder substituir o "vaso quebrado", ou seja, o caso Donadon. A emenda que acaba com o voto secreto de forma radical, personagem do esforço de ontem na Câmara, certamente levará alguns meses nos escaninhos do Senado. O que interessa à sociedade de forma mais urgente, o fim do voto secreto para efeitos de cassação de mandato, pode ser resolvido rapidamente. Basta que a Câmara acelere a apreciação da proposta do senador Alvaro Dias (PSDB-PR). É o vaso mais "em conta" para substituir o quebrado. Os deputados estão com tudo para colocá-lo em posição de destaque na Casa. Basta querer.
Enquanto isso, no PMDB...
A bancada do partido de Michel Temer fez uma reunião ontem à tarde com sérias reclamações em relação ao governo petista. Por mais que eles tentem colar os cacos desse vaso, o desenho não fica bom, há pedacinhos que se perderam. As maiores cobranças são em relação aos cargos na Secretaria de Aviação Civil e no Ministério da Agricultura, além da recomposição das verbas cortadas do Ministério do Turismo no início deste ano.
Para completar, há uma ansiedade em relação aos acordos eleitorais, que até agora não saíram. O PMDB sente que Lula e Dilma vão jogar para eleger uma bancada petista, portanto, os peemedebistas precisam ter bons candidatos a governador nos estados para conseguir pelo menos empatar esse jogo da eleição proporcional. E, até agora, nada. Se o governo Dilma ou o PT não derem os caquinhos para que o PMDB tente recompor a relação, vai crescer no partido o movimento para espatifar de vez esse vaso e, lá na frente, tentar "comprar"um novo.
E no ninho tucano...
Bem, os integrantes do PPS garantem que Serra está a caminho do partido, mas os tucanos apostam que ele fica onde está. Afinal, antes dos movimentos de Serra, todos observam as andanças de Marina Silva. Nas últimas horas, aumentaram muito as apostas de que ela conseguirá montar a Rede aos 44 do segundo tempo. Terá um minuto para as filiações. E há quem diga que ela terá plenas condições de angariar alguns por conta do fator "novidade", capaz de puxar votos. A hora entre os deputados é a de lutar pela sobrevivência, e onde ela for mais viável é onde o deputado ficará ou se mudará.
E a CPI da Espionagem, hein?
O Congresso agiu rápido para criar a comissão parlamentar de inquérito. No entanto, o difícil é fazer funcionar. Afinal, há quem esteja de camarote para assistir à CPI convocar para depor os arapongas da CIA, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, e quem mais chegar. Mas essa é outra história.
Fonte: Correio Braziliense
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